quinta-feira, 29 de maio de 2008

A Inconsistência do Relativismo Ético

por Rodrigo Constantino

"Quando a cultura é vista como uma entidade com crenças e desejos, as crenças e desejos das pessoas reais não têm importância." (Steven Pinker)

É ou não possível para os homens definir objetivamente um padrão de valores éticos, ou seja, uma arte adequada de como viver? No mundo moderno, o relativismo ético, i.e., a crença de que não é viável a definição destes princípios éticos, tem dominado o debate intelectual. Inserido nesse ambiente hostil à idéia de que o homem pode determinar um padrão de valores, o neo-aristotélico Henry B. Veatch escreveu em 1962 seu excelente livro O Homem Racional, onde sustenta inequivocamente "que é possível para os homens saberem o que é certo e o que é errado". Aqui o foco será apenas refutar o relativismo ético, mostrando como esta é uma postura filosófica completamente inconsistente.

Em primeiro lugar, um dos pontos mais comuns que surge em defesa do relativismo ético diz respeito à quantidade de padrões morais observados na história humana. Se tantos padrões surgiram ao longo do tempo, como seria possível afirmar que há algum padrão correto? Mas, como Veatch lembra, "o mero fato da diversidade em padrões morais humanos não exclui a possibilidade de pelo menos alguns desses padrões serem corretos e outros incorretos". Ele faz uma analogia com a quantidade de visões diferentes sobre a astronomia, desde os antigos babilônios, passando pelos chineses da dinastia Ming, a era ptolomaica da Europa medieval e chegando à astronomia do universo einsteiniano dos dias atuais. Mesmo assim, ninguém concluiria que não há base factual para uma verdadeira ciência da física ou da astronomia.

Em resumo, "o mero fato da diversidade em opinião moral e ética não é suficiente para provar a impossibilidade em princípio de conhecimento moral e ético: o mundo inteiro poderia estar errado e um único indivíduo poderia estar certo". Para quem duvida disso, acostumado ao argumentum ad populum, poderia pensar num caso hipotético onde todos no mundo, menos um indivíduo, acham que um adulto sedento por sexo que resolve estuprar uma menina de tenra idade está agindo de forma ética. Não importa quantos loucos achem isso, a idéia é absurda e sempre será. Um mundo onde a maioria é formada por psicopatas é um mundo de psicopatas. A verdadeira justiça jamais dependeu da quantidade de adeptos, e quem acredita que a maioria de um povo é quem decide se algo é justo ou não precisa aceitar até o nazismo como potencialmente justo. Afinal, a maioria dos alemães daquela época desejava exterminar judeus. No entanto, parece evidente que o holocausto foi algo bizarro, injusto e completamente imoral. A questão não deve ser decidida pelo voto!

Voltando às conseqüências da destruição relativista da ética, deve-se ter em mente que se todas as normas e padrões de valor morais são relativos e, portanto, arbitrários, "segue-se que nenhum conjunto de valores é superior a nenhum outro: são todos igualmente bons, ou igualmente sem valor, como quer que se prefira expressá-lo". Visto por este prisma, tanto faz o vício ou a virtude, a honestidade ou a mentira, a embriaguez ou a sobriedade. Na verdade, nem mesmo faria sentido falar em virtude. Não haveria mais critério objetivo algum para julgar um comportamento qualquer. O ato de salvar uma criança em afogamento seria igual ao ato de afogar uma criança deliberadamente. Ambos seriam ações "apenas diferentes" para o relativista ético.

Veatch usa como exemplo para expor as inconsistências do relativismo o livro Patterns of Culture, da antropóloga americana Ruth Benedict. O livro é um apoio a uma tese de total relativismo ético, já que para a autora, diferentes culturas humanas, com seus padrões amplamente variados, devem ser encaradas como "viajando por estradas diferentes, em busca de fins diferentes, e esses fins e esses meios em uma sociedade não podem ser julgados em termos dos de uma outra sociedade, porque, essencialmente, eles são incomensuráveis". Mas logo de cara surge um problema insolúvel para a autora: com base em qual critério objetivo a relativista concluiu que a pluralidade de fins e meios, ausente de qualquer julgamento ético, é uma postura desejável? Se os valores são "apenas diferentes", então um povo poderia ter como valor supremo a conquista e o extermínio de outros povos, abominando a própria idéia de tolerância. Quando alguém diz que não devemos julgar as diferentes culturas, isso mesmo já não seria uma escolha ética? Claro que sim, mas tal contradição gritante parece nunca ter incomodado muito os relativistas.

O relativismo ético abre as porteiras para todo tipo de atrocidade. Um empolgado relativista foi Benito Mussolini, o líder fascista italiano. Em 1921, eis as palavras dele sobre o assunto: "Se relativismo significa desprezo por categorias fixas e homens que pretendem ser os portadores de uma verdade objetiva e imortal..., então não há nada mais relativista do que as atitudes e a atividade do fascismo... Do fato de que todas as ideologias são de igual valor, de que todas as ideologias são meras ficções, o relativista moderno infere que todos têm o direito de criar para si mesmos sua própria ideologia e tentar impô-la com toda a energia de que são capazes". Mussolini estava apenas sendo coerente com o relativismo, e todos os relativistas deveriam aceitar o que foi dito pelo ditador. Afinal, se não há padrão ético possível de se conhecer objetivamente, então qualquer coisa vale da mesma forma, até o fascismo ou comunismo. Não deixa de ser curioso ver os relativistas atacando sempre a cultura ocidental, especialmente os "egoístas" americanos. Ao partirem para esse julgamento de valor, estão automaticamente jogando seu próprio relativismo no lixo. Um relativista consciente de tais contradições é apenas um hipócrita.

Para cada indivíduo o relativismo ético poderá significar algo diferente, e todos teriam o mesmo valor. O libertino rebelde, o conservador, o conformado com as normas da própria sociedade, o que prega a maior tolerância com as diversidades ou aquele que deseja a mais implacável intolerância e a imposição arbitrária de sua vontade sobre os demais, seriam todos adeptos de comportamentos igualmente válidos para um relativista. Para a professora Benedict se manter coerente ao seu relativismo, ela não poderia defender a tolerância, que por si só já representa a escolha de um valor ético. Este valor seria estritamente relativo à formação cultural particular que foi a dela própria, e não deveria ser usado para avaliar outras culturas. Como já fica claro, "o relativismo ético em qualquer forma é uma posição radicalmente inconsistente e totalmente indefensável de se tentar manter em filosofia".

Agir é escolher, e escolher é manifestar alguma preferência, fazer algum juízo de valor a respeito de uma linha de ação ser melhor ou pior que outra. Escolher a inação ou passividade diante dos valores da comunidade também envolve essa mesma escolha de valores. O relativista cultural tolerante escolhe este valor como preferível à intolerância. O autoritário que deseja impor seus valores também escolhe esse curso como o melhor. O jovem libertino que abraça o relativismo para jogar fora todos os padrões morais e normas de conduta também faz a escolha desse valor. E mesmo o cético cínico, que resolve seguir a multidão e apenas obedecer aos padrões do grupo, como se qualquer um fosse igual, no fundo está escolhendo esse determinado valor em vez de outros. Veatch conclui que "o raciocínio do relativista resulta em não mais do que um gritante non sequitur: ‘Uma vez que nenhuma linha de ação é realmente melhor ou superior com relação a qualquer outra, concluo que a melhor linha de ação para eu seguir seria assim e assim’".

O objetivo aqui foi apenas deixar evidente que a postura filosófica do relativismo ético é incoerente e insustentável. Surge automaticamente a seguinte questão: qual deve ser então o critério para a escolha de padrões morais? Será o tema para outro artigo com base no livro de Veatch. Espero apenas ter deixado claro aqui que o relativismo ético deve ser descartado, não obstante a dificuldade de se chegar ao conhecimento de um padrão ético adequado, já que à natureza humana não foi fornecido o poder da onisciência. Mas não ter um conhecimento total não é o mesmo que não poder ter conhecimento algum. Até agora, o conhecimento objetivo a que chegamos pela lógica é que o relativismo ético é inconsistente.

Refutando o abortismo

domingo, 25 de maio de 2008

A verdade ensinada às criancinhas

Uma visão antropológica do aborto

por Julián Marías

A espinhosa questão do aborto voluntário que nos últimos anos adquiriu uma amplitude descomunal, até converter-se em uma das questões mais urgentes nas sociedades ocidentais, pode ser proposta de diversas maneiras. Entre os que consideram a inconveniência ou ilicitude do aborto, a posição mais freqüente é a religiosa. Sem dúvida que, para os cristãos (às vezes, de maneira mais estreita, para os católicos), o aborto pode ser ilícito mas não se pode impor a uma sociedade inteira uma moral “particular”. Quer dizer, os argumentos fundados na fé religiosa não são válidos para os não crentes.

Raramente se investiga se os argumentos assim propostos, ainda que procedendo de uma maneira cristã de ver a realidade, não têm força de convicção inclusive prescindindo dessa origem; o fato é que todos os que não participam dessa crença os repudiam e consideram que não lhes podem levar em conta. E os fatos devem ser considerados.

Há outra posição que pretende ter validade universal, que é a científica. As razões biológicas, concretamente genéticas, são tidas como demonstráveis, inteiramente fidedignas, conclusivas para todos. Certamente essas razões têm valor muito alto, e devem ser levadas em conta, mas suas provas não são acessíveis à imensa maioria dos homens e mulheres, que as admitem por fé (isto é, por fé na ciência, pela validade que ela tem no mundo atual).

Há outro fator que me parece mais grave a respeito da posição científica da questão: depende do estado atual da ciência biológica, dos resultados da mais recente e avançada investigação. Quero dizer que o que hoje se sabe, não se sabia antes. Os argumentos dos biólogos e geneticistas, válidos para o que conhece estas disciplinas e para os que participam da confiança nelas, não foram válidos para os homens e mulheres de outros tempos, inclusive muito recentemente.

Creio que faz falta uma posição elementar, ligada à mera condição humana, acessível a todos, independente de conhecimentos científicos ou teológicos que poucos possuem. É forçoso propor uma questão tão importante, de conseqüências práticas decisivas, que afeta a milhões de pessoas e à possibilidade de vida de milhões de crianças que nascerão ou deixarão de nascer, de uma maneira evidente, imediata, fundada no que todos vivem e entendem sem interposição de teorias (que às vezes impedem a visão direta e provocam desorientação).

Esta visão não pode ser outra senão a antropológica, fundada na mera realidade do homem tal como se vê, se vive, se compreende a si mesmo. Temos, pois, de tentar retroceder ao mais elementar, que não tem pressupostos de nenhuma ciência ou doutrina, que apela unicamente à evidência e não pede mais que uma coisa: abrir os olhos e não colocar-se de costas para a realidade.

Trata-se da distinção decisiva entre coisa e pessoa. Bem, dito assim pode parecer coisa de doutrina. Por verdadeira e justificável que seja, evitemo-la. Limetemo-nos a algo que faz parte de nossa vida mais elementar e espontânea: o uso da língua.

Todo mundo, em todas as línguas que conheço, distingue, sem a menor possibilidade de confusão, entre que e quem, algo e alguém, nada e ninguém. Se entro em uma casa onde não há nenhuma pessoa, direi: “não há ninguém”, mas não me ocorrerá dizer: “não há nada”, porque pode estar cheia de móveis, livros, lustres, quadros. Se se ouve um grande ruído estranho, me alarmarei e perguntarei: “O que é isso?”. Mas se ouço batidas na porta, nunca perguntarei “o que é?” mas sim “quem é?”. Apesar disso, a ciência e mesmo a filosofia estão há dois milênios e meio fazendo a pergunta: “Que é o homem?”, com a qual pelo menos derrubaram a estrutura de uma resposta errada, porque só de maneira muito secundária é o homem um “que”; a pergunta certa e pertinente seria: “Quem é o homem?”, ou, com mais rigor e adequação: “Quem sou eu?”.

Claro, “eu” ou “tu”, ou “ele” sempre que se entenda de maneira inequivocamente pessoal. É significativo que os pronomes de primeira e segunda pessoa (eu, tu) têm somente uma forma, sem distinção de gênero, enquanto que o da terceira pessoa admite essa distinção, e inclusive com dois gêneros (ele, ela). Quem fala e a quem se fala são realidades imediatas e pessoas, e seu gênero é evidente na ação mesma, mas não é assim quando se fala de alguém no presente (e, ademais, se pode falar de algo).

O que isso tem a ver com o aborto? O que me interessa aqui é ver o que é, em que consiste, qual é a sua realidade. O nascimento de uma criança é uma radical inovação de realidade: a aparição de uma realidade nova. Dirão talvez que não é propriamente nova, uma vez que se deriva ou vem de seus pais. Direi que é verdade e muito mais: dos pais, dos avós, de todos os antepassados; e também do oxigênio, nitrogênio, hidrogênio, carbono, cálcio, fósforo e todos os demais elementos que intervêm na composição de seu organismo. O corpo, o psíquico, até o caráter vem daí e não é algo rigorosamente novo.

Diremos que o que a criança é se deriva de tudo isso que enumeramos, é reduzível a isso. É uma “coisa”, certamente animada e não inerte, diferente de todas as demais, em muitos sentidos única, mas uma coisa. Desse ponto de vista, sua destruição é irreparável, como quando se quebra uma peça que é exemplar único. Todavia, isso não é o importante.

O que é a criança pode “reduzir-se” a seus pais e ao mundo; mas a criança não é o que é. É alguém. Não um que, mas um quem, alguém a quem se diz tu, que dirá no momento certo, dentro de algum tempo, eu. E este quem é irreduzível a tudo e a todos, aos elementos químicos e a seus pais, e a Deus mesmo, se pensarmos nele. Ao dizer “eu”, enfrenta-se com todo o universo, contrapõe-se polarmente a tudo o que não é ele, a tudo o mais (incluindo, claro, o que é).

É um terceiro absolutamente novo, que se soma ao pai e à mãe. E é tão distinto do que é, que dois gêmeos univitelinos, biologicamente indiscerníveis e que podemos supor “idênticos”, são absolutamente distintos entre si e a cada um dos demais; são, sem a menor sombra de dúvida, “eu” e “tu”.

Quando se diz que o feto é “parte” do corpo da mãe, se diz uma grande falsidade, porque não é parte: está alojado nela, melhor ainda, implantado nela (nela e não meramente em seu corpo). Uma mulher dirá: “estou grávida”, nunca “meu corpo está grávido”. É um assunto pessoal por parte da mãe.

Ademais, e sobretudo, a questão não se reduz ao que, senão a esse quem, a esse terceiro que vem e que fará com que sejam três os que antes eram dois. Para que isto seja mais claro ainda, pensemos na morte. Quando alguém morre, nos deixa sós; éramos dois e agora não há mais que um. Inversamente, quando alguém nasce, há três em vez de dois (ou, se for o caso, dois em vez de um).

Isto é o que se vive de maneira imediata, o que se impõe à evidência sem teorias, o que refletem os usos da linguagem. Uma mulher diz: “vou ter um filho”; não diz: “tenho um tumor”. (Quando uma mulher acredita estar grávida e verifica que o que tem é um tumor, sua surpresa é tal que mostra até que ponto se trata de realidades radicalmente diferentes).

A criança não nascida ainda é uma realidade vindoura, que chegará se não a pararmos, se não a matarmos no caminho. Mas se investigarmos bem as coisas, isso não é exclusivo da criança antes do nascimento: o homem é sempre uma realidade vindoura, que vai se fazendo e realizando, alguém sempre inconcluso, um projeto inacabado, um argumento que tende a uma solução.

E se dissermos que o feto não é um “quem” porque não tem uma vida “pessoal”, então teríamos que dizer o mesmo da criança já nascida durante muitos meses (e do homem durante o sono profundo, da anestesia, da arteriosclerose avançada, da extrema senilidade, sem dizer do estado de coma).

Às vezes lançam mão de uma expressão de refinada hipocrisia para denomiar o aborto provocado; dizem que é a “interrupção da gravidez”. Os partidários da pena de morte teriam suas dificuldades resolvidas: para que falar de tal pena, de tal morte? A forca ou o garrote podem chamar-se “interrupção da respiração” (e basta um par de minutos); já não há mais problema. Quando provoca-se o aborto ou enforca-se alguém, não se interrompe a gravidez ou a respiração; em ambos os casos mata-se alguém.

E, claro, é uma hipocrisia ainda maior considerar que há diferença em que lugar do caminho se encontra a criança, a que distância em semanas ou meses dessa etapa da vida que se chama nascimento será surpreendida pela morte.

Consideremos outro aspecto da questão. Com freqüência se afirma a licitude do aborto quando se julga que provavelmente aquele que vai nascer (ou que iria nascer) seria anormal, física ou psiquicamente. Mas isso implica que o que é anormal não deve viver, já que essa condição não é provável, senão segura. E teríamos de estender a mesma norma ao que chega a ser anormal por acidente, enfermidade ou velhice. Se temos tal convicção, então temos de sustentá-la com todas as suas conseqüências. Esta situação não é nova; já foi aplicada, e com grande amplitude, na Alemanha hitlerista, há meio século, com o nome de eugenia prática.

O que me interessa é entender o que é aborto. Com incrível freqüência mascara-se sua realidade com seus fins. Quero dizer que tentam identificar o aborto com certos propósitos que pareçam valiosos, convenientes ou pelo menos aceitáveis: por exemplo, o controle populacional, o bem-estar dos pais, a situação da mãe solteira, as dificuldades econômicas, a conveniência de dispor de tempo livre, a melhoria da raça. Poder-se-ia investigar em cada caso a veracidade ou a justificação desses mesmos fins (por exemplo, foi feita uma campanha abortista em uma região da América do Sul de 144.000 quilômetros quadrados de extensão e 25.000 habitantes, isto é, despovoada). Mas o que quero mostrar é que esses fins não são o aborto.

O correto seria dizer: para isso (para conseguir isso ou aquilo) deve-se matar tais pessoas. Isto é o que se propõe, o que em tantos casos se faz em muitos países na época em que vivemos. Esta é a significação antropológica dessa palavra tão usada e abusada, que se escreve mais vezes em um só dia do que em qualquer outra época em um ano.

E mais uma prova de como se pensa o tema do aborto, eliminando arbitrariamente a condição pessoal do homem, o caráter de quem se fala, é que em muitas legislações sobre o assunto – sem irmos mais longe, a que se propõe atualmente na Espanha – se prescinde inteiramente do pai. Atribui-se a decisão exclusivamente à mãe (a palavra não parece inteiramente apropriada, seria mais adequado falar da fêmea grávida), sem que o pai tenha nada a dizer. Isto é, mesmo no caso em que o pai seja perfeitamente conhecido e legítimo, por exemplo, se se trata de uma mulher casada, é ela e somente ela é quem decide, e se sua decisão é abortar, o pai não pode fazer nada para que não matem a seu filho.

Isto, claro, não se diz assim; tende-se a não dizê-lo, a passar por alto, para que não se advirta o que significa. Em uma época em que se fala tanto da “mulher objeto” – não sei se alguma vez chegou a ser assim; suspeito que sempre a viram como “sujeito” (ou “sujeita”) –, um caminho foi aberto na mente de inúmeras pessoas a interpretação da criança-objeto, da criança-tumor, que se pode extirpar como um crescimento nojento. Trata-se de obliterar literalmente o caráter pessoal do humano. Para isso fala-se do “direito de dispor do próprio corpo”. Mas, além da criança não ser o corpo do mãe, senão que é alguém corporalmente implantado na realidade corporal de sua mãe, é que esse suposto direito não existe. A ninguém se permite a mutilação: se eu quero cortar minha mão num golpe só, os outros, e em última instância o poder público, me impedirão; sem falar no caso de querer cortar a mão de outrem, mesmo com seu consentimento. E se quero me atirar da janela ou de um terraço, a polícia e os bombeiros acudir-me-ão e pela força me impedem de realizar esse ato, do qual me pedirão explicações.

O núcleo da questão é a negação do caráter pessoal do homem. Por isso oculta-se a paternidade; por isso reduz-se a maternidade ao estado de suportar um crescimento intruso que pode ser eliminado. Descarta-se todo uso possível do quem, dos pronomes tu e eu. Tão logo apareçam, toda o castelo erguido para justificar o aborto rui como uma monstruosidade.

Por acaso não se trata precisamente disso? Não estará em curso um processo de despersonalização, isto é, de desumanização do homem e da mulher, as duas formas irredutíveis, mutuamente necessárias em que se realiza a vida humana?

Se as relações de maternidade e paternidade forem abolidas, se a relação entre os pais for reduzida a uma mera função biológica sem duração para além do ato de geração, sem nenhuma significação pessoal entre as três pessoas implicadas, que ocorre de humano em tudo isso? E se isso se impõe e se generaliza, se em fins do século XX a humanidade vive de acordo com esses princípios, não estará comprometida, quem sabe até quando, essa mesma condição humana?

Por isso me parece que a aceitação social do aborto é, sem exceção, o que de mais grave tem acontecido neste século que vai chegando ao fim.

Por que o Nazismo era Socialismo e por que o Socialismo é Totalitário

Escrito por George Reisman
Retirado do Endireitar


Minha intenção hoje é expor dois pontos principais: (1) Mostrar que a Alemanha Nazista era um estado socialista, e não capitalista. E (2) mostrar por que o socialismo, compreendido como um sistema econômico baseado na propriedade estatal dos meios de produção, necessariamente requer uma ditadura totalitária.

A caracterização da Alemanha Nazista como um estado socialista foi uma das grandes contribuições de Ludwig von Mises.

Quando nos recordamos de que a palavra "Nazi" era uma abreviatura de "der Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei" - Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães - a caracterização de Mises pode não parecer tão notável. O que se poderia esperar do sistema econômico de um país comandado por um partido com "socialista" no nome além de ser socialista?

Não obstante, além de Mises e seus leitores, praticamente ninguém pensa na Alemanha Nazista como um estado socialista. É muito mais comum se acreditar que ela representou um forma de capitalistmo, aquilo que comunistas e marxistas em geral têm alegado.

A base do argumento de que a Alemanha Nazista era capitalista é o fato de que a maioria das industrias foram aparentemente deixadas em mãos privadas.

O que Mises identificou foi que a propriedade privada dos meios de produção existia apenas nominalmente sob o regime Nazista, e que o verdadeiro conteúdo da propriedade dos meios de produção residia no governo alemão. Pois era o governo alemão e não o proprietário privado nominal quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem seria distribuído, bem como quais preços seriam cobrados e quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário privado nominal receber. A posição do que se alega terem sido proprietários privados era reduzida essencialmente à função de pensionistas do governo, como Mises demonstrou.

A propriedade governamental "de fato" dos meios de produção, como Mises definiu, era uma conseqüência lógica de princípios coletivistas fundamentais adotados pelos nazistas como o de que o bem comum vem antes do bem privado e de que o indivíduo existe como meio para os fins do Estado. Se o indivíduo é um meio para os fins do Estado, então, é claro, também o é sua propriedade. Do mesmo modo em que ele pertence ao Estado, sua propriedade também pertence.

Mas o que especificamente estabeleceu o socialismo "de fato" na Alemanha Nazista foi a introdução do controle de preços e salários em 1936. Tais controles foram impostos como resposta ao aumento na oferta de dinheiro [N.T.] praticada pelo regime nazista desde a época da sua chegada ao poder, no início de 1933. O governo nazista aumentou a oferta de dinheiro no mercado como meio de financiar o vasto aumento nos gastos governamentais devido a seus programas de infra-estrutura, subsídios e rearmamento. O controle de preços e salários foi imposto em resposta ao aumento de preços resultante desta inflação.

O efeito causado pela combinação entre inflação e controle de preços foi a escassez, ou seja, a situação na qual a quantidade de bens que as pessoas tentam comprar excede a quantidade disponível para a venda.

As escassezes, por sua vez, resultam em caos econômico.Não se trata apenas da situação em que consumidores que chegam mais cedo estão em posição de adquirir todo o estoque de bens, deixando o consumidor que chega mais tarde sem nada - uma situação a que os governos tipicamente respondem impondo racionamentos. Escassezes resultam em caos por todo o sistema econômico. Elas tornam aleatória a ditribuição de suprimentos entre as regiões geográficas, a alocação de um fator de produção dentre seus diferentes produtos, a alocação de trabalho e capital dentre os diferentes ramos do sistema econômico.

Face à combinação de controle de preços e escassezes, o efeito da diminuição na oferta de um item não é, como seria em um mercado livre, o aumento do preço e da lucratividade, operando o fim da diminuição da oferta, ou a reversão da diminuição se esta tiver ido longe demais. O controle de preços proíbe o aumento do preço e da lucratividade. Ao mesmo tempo, as escassezes causadas pelo controle de preços impedem que aumentos na oferta reduzam o preço e a lucratividade de um bem. Quando há uma escassez, o efeito de um aumento na oferta é apenas a redução da severidade desta escassez. Apenas quando a escassez é totalmente eliminada é que um aumento na oferta necessita de uma diminuição no preço, trazendo consigo uma diminuição na lucratividade.

Como resultado, a combinação de controle de preços e escassezes torna possíveis movimentos aleatórios de oferta sem qualquer efeito no preço ou na lucratividade. Nesta situação, a produção de bens dos mais triviais e desimportantes, como bichinhos de pelúcia, pode ser expandida às custas da produção dos bens importantes e necessários, como medicamentos, sem efeito sobre o preço ou lucratividade de nenhum dos bens. O controle de preços impediria que a produção de remédios se tornasse mais lucrativa conforme a sua oferta fosse diminuindo, enquanto a escassez mesmo de bichinhos de pelúcia impediria que sua produção se tornasse menos lucrativa conforme sua oferta fosse aumentando.

Como Mises demonstrou, para lidar com os efeitos indesejados decorrentes do controle de preços, o governo deve abolir o controle de preços ou ampliar tais medidas, precisamente, o controle sobre o que é produzido, em qual quantidade, através de quais métodos, e a quem é distribuído, ao qual me referi anteriormente. A combinação de controle de preços com estas medidas ampliadas constituem a socialização "de fato" do sistema econômico. Pois significa que o governo exerce todos os poderes substantivos de propriedade.

Este foi o socialismo instituído pelos nazistas. Mises o chama de modelo alemão ou nazista de socialismo, em contraste ao mais óbvio socialismo dos soviéticos, ao qual ele chama de modelo russo ou bolchevique de socialismo.

O socialismo, é claro, não acaba com o caos causado pela destruição do sistema de preços. Ele apenas perpetua esse caos. E se introduzido sem a existência prévia de controle de preços, seu efeito é inaugurar este mesmo caos. Isto porque o socialismo não é verdadeiramente um sistema econômico positivo. É meramente a negação do capitalismo e seu sistema de preços. E como tal, a natureza essencial do socialismo é a mesma do caos econômico resultante da destruição do sistema de preços através do controle de preços e salários. (Eu quero demonstrar que a imposição de cotas de produção no estilo bolchevique de socialismo, com a presença de incentivos por todos os lados para que estas sejam excedidas, é uma fórmula certa para a escassez universal da mesma forma como ocorre quando se controla preços e salários.)

No máximo, o socialismo meramente muda a direção do caos. O controle do governo sobre a produção pode tornar possível uma maior produção de alguns bens de especial importância para si mesmo, mas faz isso às custas de uma devastação através de todo o resto do sistema econômico. Isto porque o governo não tem como saber dos efeitos no resto do sistema econômico da sua garantia da produção dos bens aos quais atribue especial importância.

Os requisitos para a manutenção do sistema de controle de preços e salários trazem à luz a natureza totalitária do socialismo - mais obviamente, é claro, na variante alemã ou nazista de socialismo, mas também no estilo soviético.

Podemos começar com o fato de que o auto-interesse financeiro dos vendedores operando sob o controle de preços seja de contornar tais controles e aumentar seus preços. Compradores, antes impossibilitados de obter os bens, estão dispostos, na verdade, ansiosos para pagar estes preços mais altos como meio de garantir os bens por eles desejados. Nestas circunstâncias, o que pode impedir o aumento dos preços e o desenvolvimento de um imenso mercado negro?

A resposta é a combinação de penas severas com uma grande probabilidade de ser pego e, então, realmente punido. É provável que meras multas não gerem a dissuasão necessária. Elas serão tidas como simplesmente um custo adicional. Se o governo deseja realmente fazer valer o controle de preços, é necessário que imponha penalidades comparadas àquelas dos piores crimes.

Mas a mera existência de tais penas não é o bastante. O governo deve tornar realmente perigosa a condução de transações no mercado negro. Deve fazer com que as pessoas temam que agindo desta maneira possam, de alguma maneira, ser descobertas pela polícia, acabando na cadeia. Para criar tal temor, o governo deve criar um exército de espiões e informantes secretos. Por exemplo, o governo deve fazer com que o dono da loja e o seu cliente tenham medo de que, caso venham a se engajar em uma transação no mercado negro, algum outro cliente na loja vá lhe informar.

Devido à privacidade e sigilo em que muitas transações no mercado negro ocorrem, o governo deve ainda fazer com que qualquer participante de tais transações tenha medo de que a outra parte possa ser um agente da polícia tentando apanhá-lo. O governo deve fazer com que as pessoas temam até mesmo seus parceiros de longa data, amigos e parentes, pois até eles podem ser informantes.

E, finalmente, para obter condenações, o governo deve colocar a decisão sobre a inocência ou culpa em casos de transações no mercado negro nas mão de um tribunal administrativo ou seus agentes de polícia presentes. Não pode contar com julgamentos por júris, devido à dificuldade de se encontrar número suficiente de jurados dispostos a condenar a vários anos de cadeia um homem cujo crime foi vender alguns quilos de carne ou um par de sapatos acima do preço máximo fixado.

Em suma, a partir daí o requisito apenas para a aplicação das regulações de controle de preços é a adoção de características essenciais de um estado totalitário, nominadamente o estabelecimento de uma categoria de "crimes econômicos", na qual a pacífica busca pelo auto-interesse material seja tratada como uma ofensa criminosa grave, e o estabelecimento de um aparato de polícia totalitário repleto de espiões e informantes e o poder de prisões arbitrárias.

Claramente, a aplicação e fiscalização do controle de preços requere um governo similar à Alemanha de Hitler ou a Rússia de Stalin, no qual praticamente qualquer um pode ser um espião da polícia e no qual uma polícia secreta existe e tem o poder de prender pessoas. Se o governo não está disposto a ir tão longe, então, nesta medida, o controle de preços se prova inaplicável e simplesmente entra em colapso. O mercado negro, então, assume maiores proporções. (Incidentalmente, não se sugere que o controle de preços foi a causa do reino de terror instituído pelos nazistas. Estes iniciaram seu reino de terror bem antes do decretamento do controle de preços. Como resultado, o controle de preços foi decretado em um ambiente feito para a sua aplicação.)

As atividades do mercado negro exigem o cometimento de outros crimes. Sob o socialismo "de fato", a produção e a venda de bens no mercado negro exige o desafio às regulações governamentais no que diz respeito à produção e à distribuição, bem como o desafio ao controle de preços. Por exemplo, o governo pretende que os bens que são vendidos no mercado negro sejam distribuídos de acordo com seu planejamento, e não de acordo com o do mercado negro. O governo pretende, igualmente, que os fatores de produção usados para se produzir aqueles bens sejam utilizados de acordo com o seu planejamento, e não com o propósito de suprir o mercado negro.

Sobre um sistema socialista "de direito", como o que existia na Rússia soviética, no qual o ordenamento jurídico do país aberta e explicitamente tornava o governo o proprietário dos meios de produção, toda a atividade do mercado negro, necessariamente, exige a apropriação indébita ou o roubo da propriedade estatal. Por exemplo, considerava-se que os trabalhadores e gerentes de fábricas na Rússia soviética que tiravam produtos destas para vender no mercado negro estavam roubando matéria-prima fornecida pelo Estado.

Além disso, em qualquer tipo de estado socialista, nazista ou comunista, o plano econômico do governo é parte da lei suprema do país. Temos uma boa idéia de quão caótico o chamado processo de planejamento do socialismo é. O distúrbio adicional causado pelo desvio para o mercado negro de materiais e suprimentos para produção é algo que o estado socialista toma como um ato de sabotagem ao planejamento econômico nacional. E sabotagem é como o ordenamento jurídico dos estados socialistas se refere a isto. Em concordância com este fato, atividades de mercado negro são, com freqüência, punidas com pena de morte.

Um fato fundamental que explica o reino de terror generalizado encontrado sob o socialismo é o incrível dilema em que o estado socialista se coloca em relação à massa de seus cidadãos. Por um lado, o estado assume total responsabilidade pelo bem-estar econômico individual. O estilo de socialismo russo ou bolchevique declara abertamente esta responsabilidade - esta é a fonte principal do seu apelo popular. Por outro lado, o estado socialista desempenha essa função de maneira desastrosa, tornando a vida do indivíduo um pesadelo.

Todos os dias de sua vida, o cidadão de um estado socialista tem de perder tempo em infindáveis filas de espera. Para ele, os problemas enfrentados pelos americanos com a escassez de gasolina nos anos 70 são normais; só que ele não enfrenta este problema em relação à gasolina - pois ele não tem um carro nem a esperança de jamais ter um - mas em relação a itens de vestimento, verduras, frutas, e até mesmo pão. Pior ainda, ele é forçado a trabalhar em um emprego que não foi por ele escolhido e que, por isso, deve odiar. (Já que sob escassezes, o governo acaba por decidir a alocação de trabalho da mesma maneira que faz com a alocação de fatores de produção materiais.) E ele vive em uma situação de inacreditável superlotação, com quase nenhuma chance de privacidade. (Frente à escassez habitacional, hóspedes são designados a moradias; famílias são obrigadas a compartilharem apartamentos. E um sistema de passaportes e vistos internos é adotado a fim de limitar a severidade da escassez habitacional em áreas mais desejáveis do país.) Expondo suavemente, uma pessoa forçada a viver em tais condições deve ferver de ressentimento e hostilidade.

Contra quem seria lógico que os cidadãos de um estado socialista dirigissem seu ressentimento e hostilidade se não o próprio estado socialista? Contra o mesmo estado socialista que proclamou sua responsabilidade pela vida deles, prometeu uma vida de bençãos, e que é responsável por proporcionar-lhes uma vida de inferno. De fato, os dirigentes de um estado socialista vivem um dilema no qual diariamente encorajam o povo a acreditar que o socialismo é um sistema perfeito em que maus resultados só podem ser fruto do trabalho de pessoas más. Se isso fosse verdade, quem poderiam estas pessoas más serem senão os próprios líderes, que não apenas tornaram a vida um inferno, mas perverteram a este ponto um sistema supostamente perfeito?

A isso se segue que os dirigentes de um estado socialista devem temer seu povo. Pela lógica das suas ações e ensinamentos, o fervilhante e borbulhante ressentimento do povo deveria jorrar e engolí-los numa orgia de vingança sangrenta. Os dirigentes sentem isso, ainda que não admitam abertamente; e portanto a sua maior preocupação é sempre manter fechada a tampa da cidadania.

Conseqüentemente, é verdadeiro mas bastante inadequado dizer apenas coisas como que o socialmo carece de liberdade de imprensa e expressão. Carece, é claro, destas liberdade. Se o governo é dono de todos os jornais e gráficas, se ele decide para quais propósitos a prensa e o papel devem ser disponibilizados, então obviamente nada que o goveno não desejar poderá ser impresso. Se a ele pertencem todos os salões de assembléias e encontros, nenhum pronunciamento público ou palestra que o governo não queira poderá ser feita. Mas o socialismo vai muito além da mera falta de liberdade de imprensa e de expressão.

Um governo socialista aniquila totalmente estas liberdades. Transforma a imprensa e todo foro público em veículos de propaganda histérica em prol de si mesmo, e pratica cruéis perseguições a todo aquele que ouse desviar-se uma polegada da linha do partido oficial.

A razão para isto é o medo que o dirigente socialista tem do povo. Para se proteger, eles devem ordenar que o ministério da propaganda e a polícia secreta corram atrás do prejuízo. Um deve tentar desviar constantemente a atenção do povo da responsabilidade do socialismo, e dos dirigentes socialistas, sobre a miséria do povo. O outro deve desestimular e silenciar qualquer pessoa que possa mesmo que remotamente sugerir a responsabilidade do socialsmo ou de seus dirigentes - desestimular qualquer um que comece a mostrar sinais de estar pensando por si mesmo. É por causa do terror dos dirigentes, e da sua necessidade desesperada de encontrar bodes-expiatórios para as falhas do socialismo, que a imprensa de um país socialista está sempre cheia de histórias sobre conspirações e sabotagens estrangeiras, e sobre corrupção e mau gerenciamento da parte de oficiais subordinados, e por que, periodicamente, é necessário desmascarar conspirações domésticas e sacrificar oficiais superiores e facções inteiras do partido em gigantescos expurgos.

E é por causa do seu terror, e da sua necessidade desesperada de esmagar qualquer suspiro de oposição em potencial, que os dirigentes do socialismo não ousam permitir nem mesmo atividades puramente culturais que não estejam sob o controle do Estado. Pois se o povo se reúne para uma amostra de arte ou um sarau de literário que não seja controlado pelo Estado, os dirigentes devem temer a disseminação de idéias perigosas. Quaisquer idéias não-autorizadas são idéias perigosas, pois podem levar o povo a pensar por si mesmo e, a partir daí, começar a pensar sobre a natureza do socialismo e de seus dirigentes. Estes devem temer a reunião espontânea de qualquer punhado de pessoas em uma sala, e usar a polícia secreta e seu aparato de espiões, informantes, e mesmo o terror para impedir tais encontros ou ter certeza de que seu conteúdo é inteiramente inofensivo do ponto de vista do Estado.

O socialismo não pode ser mantido por muito tempo, exceto através do terror. Assim que o terror é relaxado, ressentimento e hostilidade logicamente começam a jorrar contra seus dirigentes. O palco está montado, então, para uma revolução ou uma guerra civil. De fato, na ausência de terror, ou, mais corretamente, de um grau suficiente de terror, o socialismo seria caracterizado por uma infindável série de revoluções e guerras civis, conforme cada novo grupo dirigente se mostrasse tão incapaz de fazer o socialismo funcionar quanto foram seus predecessores. A inescapável conclusão a ser traçada é a de que o terror experimentado nos países socialistas não foi simplesmente culpa de homens maus, como Stalin, mas algo que brota da natureza do sistema socialista. Stalin vem à frente porque sua incomum perspicácia e disposição no uso do terror foram as características específicas mais necessárias para um líder socialista se manter no poder. Ele ascendeu ao topo através de um processo de seleção natural socialista: a seleção do pior.

É preciso antecipar um possível mal-entendido em relação à minha teses de que o socialismo é totalitário por natureza. Diz respeito aos países supostamente socialistas dirigidos por social-democratas, como a Suécia e outros países escandinavos, que claramente não são ditaduras totalitárias.

Neste caso, é necessário que se entenda que não sendo estes países totalitários, não são também socialistas. Os partidos que os governam podem até sustentar o socialismo como sua filosofia e seu fim último, mas socialismo não é o que eles implementaram como seu sistema econômico. Na verdade, o sistema econômico vigente em tais países é a economia de mercado obstruída, como Mises definiu. Ainda que seja mais obstruído do que o nosso em aspectos importantes, seu sistema econômico é essencialmente similar ao nosso, no qual a força motora característica da produção e da atividade econômica não é o governo, mas sim a iniciativa privada motivada pela perspectiva de lucro.

A razão pela qual social-democratas não estabelecem o socialismo quando estão no poder, é que eles não estão dispostos a fazer o que seria necessário. O estabelecimento do socialismo como um sistema econômico requer um ato massivo de roubo - os meios de produção devem ser expropriados de seus donos e tomados pelo Estado. É virtualmente certo que tais expropriações provoquem grande resistência por parte dos proprietários, resistência que só pode ser vencida pelo uso de força bruta.

Os comunistas estavam e estão dispostos a usar esta força, como evidenciado na União Soviética. Seu caráter é o dos ladrões armados preparados para matar se isso se mostrar necessário para dar cabo dos seus planos. O caráter dos social-democratas, em contraste, é mais próximo dos batedores de carteira, que podem falar em coisas grandes algum dia, mas que de fato não estão dispostos a praticar a matança que seria necessária, e então desistem ao menor sinal de resistência séria.

Já os nazistas, em geral não tiveram que matar para expropriar a propriedade dos alemães, fora os judeus. Isto porque, como vimos, eles estabeleceram o socialismo discretamente, através do controle de preços, que serviu para manter a aparência de propriedade privada. Os proprietários eram, então, privados da sua propriedade sem saber e, portanto, sem sentir a necessidade de defendê-la pela força.

Creio ter demonstrado que o socialismo - o socialismo de verdade - é totalitário pela sua própria natureza.

Atualmente nos Estados Unidos não temos nenhum tipo de socialismo. E não temos uma ditadura, muito menos uma ditadura totalitária.

Não temos também, ainda, fascismo, ainda que estejamos indo nesta direção. Entre os elementos essenciais que ainda faltam estão o sistema unipartidário e a censura. Ainda temos liberdade de expressão e imprensa e eleições livres, ainda que ambas venham sendo minadas e sua existência não possa ser garantida.

O que nós temos é uma economia de mercado obstruída que está se tornando mais e mais obstruída por uma intervenção governamental cada vez maior, caracterizada por uma crescente perda da liberdade individual. O crescimento da intervenção econômica governamental é diretamente relacionado com a liberdade individual pois significa uma crescente iniciação de violência para fazer com que as pessoas façam o que não escolheriam fazer voluntariamente ou para impedí-las de fazer o que voluntariamente escolheriam fazer.

Já que o indivíduo é o melhor juiz dos seus próprios interesses, e ao menos em regra é do seu interesse evitar aquilo que afeta negativamente seus interesses, segue que quanto maior a intervenção governamental, mais os indivíduos são impedidos de fazer aquilo que os beneficiariam, sendo compelidos, em vez disso, a fazer o que lhes causam perdas.

Hoje, nos Estados Unidos, os gastos governamentais no âmbito federal, estadual e municipal somam quase a metade da renda do conjunto de cidadãos que não trabalham para o governo. Quinze gabinetes de ministérios federais, e um número ainda maior de agências regulatórias federais, juntos, na maior parte das vezes com seus correspondentes no âmbito estadual e municipal, costumeiramente intrometem-se em virtualmente todas as áreas da vida do cidadão. Este é, de inúmeras maneiras, taxado, forçado e proibido.

Os efeitos desta pesada interferência governamental são desemprego, aumento de preços, queda de salários reais, necessidade de se trabalhar mais tempo e mais pesado e uma crescente insegurança econômica. Soma-se a isso o crescente ódio e ressentimento.

Embora a política governamental de intervenção na economia fosse o seu alvo lógico, o ódio e o ressentimento sentidos pelas pessoas acabam, em vez disso, sendo direcionados aos empresários e aos ricos. Trata-se de um equívoco alimentado em grande parte pela inveja e ignorância da imprensa e do establishment intelectual.

Em conformidade com esta atitude, desde o colapso da bolha do mercado de ações, que foi na verdade gerada pela política de expansão do crédito implementada pelo Fed e depois "furada" pelo abandono temporário de tal política, o ministério público tem adotado o que parece ser uma política particularmente vingativa contra executivos acusados de desonestidades financeiras, como se as suas ações fossem responsáveis pelas extensas perdas resultantes do colapso da bolha. Neste sentido, o ex-presidente de uma das maiores empresas de telecomunicações foi sentenciado recentemente a 25 anos de prisão. Outros executivos de ponta passaram por situação parecida.

De maneira ainda mais preocupante, o poder governamental de obter o mero indiciamento criminal se tornou equivalente ao de destruir uma firma, como ocorreu no caso da Arthur Andersen, uma grande firma de contabilidade. A simples ameaça do uso deste poder foi suficiente para forçar grandes corretoras de seguros nos Estados Unidos a mudarem sua administração ao gosto do Procurador-Geral de Justiça do Estado de Nova York. Não há outra maneira de descrever tais acontecimentos senão como condenação e punição sem julgamento e como extorsão governamental. Estes têm sido os principais passos de um caminho muito perigoso.

Felizmente, ainda há suficiente liberdade nos Estados Unidos para desfazer todo o estrago que foi feito até agora. Há, antes de mais nada, liberdade de elencar e denunciar publicamente tais fatos.

Além disso, existe a liberdade de se analizar e refutar as idéias que sustentam as políticas destrutivas que vêm sendo adotadas ou que possam vir a ser adotadas. E isso é muito importante, já que o fator fundamental de sustentação do intervencionismo e, é claro, também do socialismo, seja nazismo ou comunismo, é nada mais do que idéias equivocadas, sobretudo equivocadas econômica e filosoficamente.

Existe agora uma ampla e crescente literatura que apresenta idéias sólidas nestes dois campos vitais, Na minha opinião, os dois autores mais importantes desta literatura são Ludwig von Mises e Ayn Rand. Um abrangente conhecimento dos seus escritos é um pré-requisito indispensável ao sucesso na defesa da liberdade individual e do livre-mercado.

Este instituto, o Ludwig von Mises Institute, é o líder mundial na disseminação das idéias de Mises. Apresenta uma corrente constante de análises baseadas nas suas idéias, análises que aparecem em jornais acadêmicos, livros e períodicos e em artigos diariamente publicados no website do instituto, tratando de questões atuais. O Mises Institute educa estudantes secundaristas, universitários e jovens professores nas idéias de Mises e nas idéias próximas de outros membros da Escola Austríaca de Economia. Faz isto através do Mises Summer University, do Austrian Scholars Conference, e uma variedade de outros seminários.

Duas maneiras princpais de se lutar pela liberdade são educar a si mesmo ao ponto de tornar-se apto a falar e escrever de maneira articulada em sua defesa, como o fazem os acadêmicos associados a este instituto, ou, na ausência de tempo ou inclinação para dedicar-se a tais atividades, apoiar o instituto em seu trabalho vital da maneira que for possível.

É possível virar a maré. Nenhuma pessoa sozinha pode fazê-lo. Mas um número amplo e crescente de pessoas inteligentes, educadas na causa da liberdade econômica, falando e debatendo em sua defesa sempre que possível, é capaz de formar gradualmente a postura da cultura e, assim, da natureza do sistema econômico e político.

Vocês na platéia já estão envolvidos neste grande esforço. Espero que todos continuem e intensifiquem este compromisso.

* Este artigo é fruto de uma palestra dada no seminário "The Economics of Fascism, Supporters Summit 2005", no Mises Institute. O copyright © 2005 pertence a George Reisman. É dada a permissão para reprodução e distribuição eletrônica e impressão, exceto como parte de livro. (Notificação por email necessária).Todos os direitos reservados.

** George Reisman, Ph.D., é professor de economia (aposentado) na Graziadio School of Business and Management da Pepperdine University, em Los Angeles, e é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics (Ottawa, Illinois: Jameson Books, 1996), do qual partes deste artigo foram retiradas. Seu website é www.capitalism.net. Contate-o, veja o seu Arquivo de Artigos Diários, e comente no seu blog.

[N.T.] Do original "inflation of the money supply"

Tradução de Fábio M. Ostermann

As consequências políticas do desemprego

do Ação Humana

Permanent mass unemployment destroys the moral foundations of the social order. The young people, who, having finished their training for work, are forced to remain idle, are the ferment out of which the most radical political movements are formed. In their ranks the soldiers of the coming revolutions are recruited.
Socialism, Ludwig von Mises.

O desemprego como um fenômeno permanente e de considerável magnitude tornou-se o principal problema político de todos os países democráticos. Que milhões fiquem permanentemente excluídos do processo produtivo é algo que não pode ser tolerado, mesmo que seja par um curto período de tempo. O indíviduo desempregado quer trabalhar. Quer ganhar um salário, porque considera que as oportunidades que um emprego lhe proporciona são maiores do que o duvidoso valor do ócio na pobreza. Fica desesperado porque não consegue encontrar trabalho. E entre os desempregados que os aventureiros e os aspirantes a ditador costumam recrutar as suas tropas de choque. A opinião pública considera que essa situação de desemprego e uma prova do fracasso da economia de mercado.

O público acredita que já ficou demonstrada a incapacidade de o capitalismo resolver os problemas de cooperação social. O desemprego e apresentado como o inevitável resultado das antinomias, das contradições da economia capitalista. O que a opinião publica não percebe e que a causa real do permanente desemprego em larga escala deve ser atribuída a política salarial defendida pelos sindicatos e ao apoio que o governo tem concedido a esse tipo de política. A voz do economista não chega a ser ouvida pelo público. E crença geral, entre as pessoas leigas, que o progresso tecnológico tira de muitas pessoas a possibilidade de seu próprio sustento. Por essa razão as guildas perseguiam os inventores; por essa razão os artesões destruíam as máquinas.

Hoje em dia os que se opõem ao progresso tecnológico recebem o apoio de pessoas que são habitualmente consideradas cientistas. Em livros e artigos afirmam que o desemprego tecnológico e inevitável — pelo menos no sistema capitalista. Como um meio de combater o desemprego recomendam que a jornada de trabalho seja reduzida; como os salários devem ser mantidos sem alteração (ou diminuídos menos que proporcionalmente, ou até mesmo aumentados), isso significa que na realidade os salários estão sendo aumentados e, por conseguinte, também o desemprego. Recomendam que sejam implementados programas de obras píblicas para gerar emprego. Mas se os recursos necessários são oriundos da arrecadação de impostos ou da emissão de títulos, a situação permanece a mesma.

Os recursos usados nesses projetos são retirados de outros projetos, e o aumento da oportunidade de emprego num setor da economia e neutralizado pela redução noutro setor do sistema econômico. Finalmente, acabam recorrendo a expansão do credito e a inflação. Mas, com preços aumentando e salários reais diminuindo, as reivindicações sindicais por maiores salários ficam cada vez mais intensas. Não obstante, devemos mencionar que a desvalorização da moeda e medidas inflacionárias semelhantes, conseguiram, em alguns casos, temporariamente, suavizar os efeitos da política salarial dos sindicatos e reduzir por algum tempo o crescimento do desemprego. Comparada com a forma ineficaz com que e tratado o problema de desemprego nos paises habitualmente chamados de democráticos, os ditadores conseguem ser muito mas bem-sucedidos.

O desemprego desaparece se forem adotadas formas de trabalho compulsório, Como prestação de serviço militar, criação de campos de trabalho ou qualquer outra forma compulsória de prestação de serviço. Os trabalhadores nesses empregos terão que se dar por satisfeitos com salários bem menores do que os recebidos por outros trabalhadores. Gradativamente, uma redução dessa diferença irá ocorrer, seja pelo aumento dos salários dos que trabalham nessas frentes de serviço, seja pela diminuição do salário dos demais trabalhadores. O sucesso político de alguns governos totalitários se deve sobretudo aos resultados obtidas na sua luta contra o desemprego.

:: Capítulo II, seção 4, do livro Interventionism, um clássico do economista austríaco Ludwig von Mises.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Morre em Manaus o senador Jefferson Péres



do Noblat.

O senador Jefferson Péres (PDT-AM), de 76 anos, faleceu por volta das 6h desta sexta-feira, em casa, em Manaus. O parlamentar, líder de seu partido no Senado, foi vítima de um ataque cardíaco fulminante, segundo confirmaram parentes. A família ainda não decidiu onde será o velório, mas o enterro será no cemitério São João Batista, na capital amazonense. Leia mais em Morre em Manaus o senador Jefferson Péres

No vídeo abaixo, discurso de Péres feito em 30 de agosto de 2006 sobre a dilapidação da ética no país, onde ele anuncia sua decepção com a política, seus pares e Lula. "Este Congresso que está aqui é o pior de que participei. A maioria é medíocre, de moral baixa. (...) Despois de 2010, não quero mais. Podem eleger Fernandinho Beira Mar para presidente, mas não com meu voto".

A Lesson about Federalism

A Sociedade Aberta e Seus Inimigos

"As sociedades tribais caracterizam-se por uma atitude mágica ou irracional dos costumes da vida social e pela sua rigidez. Não distinguem as regularidades convencionais da vida social das regularidades da “natureza”; crêem que ambas são impostas por uma vontade sobrenatural. Baseadas na tradição tribal coletiva, não admitem problemas de natureza moral, e suas instituições não dão espaço à responsabilidade pessoal. À sociedade mágica, tribal ou coletivista – comparável a um organismo – denomino sociedade fechada; e sociedade democrática à sociedade em que os indivíduos são confrontados com decisões pessoais.

A transição de uma sociedade fechada para a aberta constitui uma das mais profundas revoluções por que passou a humanidade. Essa revolução não foi feita conscientemente, nem isenta de perigos. Gerou tentativas de manter o tribalismo pela força; mas também levou à grande revolução espiritual, à invenção da discussão crítica e ao pensamento liberto de obsessões mágicas.

A Grande Geração que viveu em Atenas na época da Guerra do Peloponeso formulou os princípios da igualdade perante a lei e do individualismo político. Enfatizou também que o idioma, os costumes e a lei não têm o caráter mágico de tabus – são instituições humanas, convencionais. E insistiu que somos responsáveis por essas instituições, que devemos ter fé na razão humana, ao mesmo tempo resguardando-nos do dogmatismo: em outras palavras, que é crítico o espírito da ciência. O surgimento da própria filosofia foi uma resposta à queda da sociedade fechada e de suas crenças mágicas. Uma tentativa de substituir a perdida fé mágica por uma fé racional; modificou a tradição de transmitir uma teoria ou um mito, fundando uma tradição nova: a de desafiar teorias e mitos e de discuti-los criticamente.

Em contraste, o sonho de Platão – da unidade, da beleza e perfeição, o esteticismo, o holismo e o coletivismo – é tanto produto quanto sintoma da perda do espírito de grupo do tribalismo. É a expressão dos sentimentos dos que sofrem da tensão da civilização – nos tornamos dolorosamente conscientes das grandes imperfeições de nossa vida, das imperfeições pessoais e institucionais, do sofrimento evitável. Essa consciência aumenta a tensão da responsabilidade pessoal, de carregar a cruz de ser humano.

A lição que devemos aprender de Platão é exatamente a oposta à que ele tenta nos ensinar. A despeito da excelência do diagnóstico sociológico, sua terapêutica é pior que o mal que tentava combater. Deter a mudança política não é o remédio; não pode trazer a felicidade. Uma vez que comecemos a confiar em nossa razão e sintamos o apelo das responsabilidades pessoais e, com estas, a responsabilidade de promover o conhecimento, não podemos retornar ao estado de submissão na magia tribal. Não há volta possível a um estado harmonioso da natureza. Se voltarmos, deveremos refazer o caminho integral – devemos retornar às feras."


A Sociedade Aberta e seus Inimigos; Karl Popper.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Maio de 1968, o politicamente correto e o autoritarismo das consciências

por Pedro Sette Câmara, n'O Indivíduo

Pululam na imprensa textos sobre 1968. Até agora, a melhor coisa que li foi o caderno especial que O Globo. Na primeira metade, cientistas políticos franceses dizem que 1968 foi ótimo e reclamam do fim das utopias e da juventude atual, que seria amarga e atomizada. Na segunda metade, resistentes da antiga Tchecoeslováquia reclamam da ocupação soviética e dizem que 1968 deixou um problema: o que fazer com aqueles que foram cúmplices do invasor estrangeiro naquele ano? Querendo ou não, o caderno mostra que era muito mais confortável ser de esquerda na Europa ocidental... O que, aliás, está longe de ser novidade.

Para mim, é muito difícil não olhar para toda a euforia ocidental em torno da idéia de 1968 sem ver uma fila interminável de narcisistas querendo colocar a sua geração no centro da História. Não me impressionam as reclamações contra a juventude atual, supostamente apática: já na Ilíada o velho Nestor ficava dizendo que os guerreiros de antigamente eram melhores do que os de hoje, e Aristóteles, na Retórica, assinalou que essa premissa é própria da mentalidade dos velhos. Ou, como disse no século XV o poeta espanhol Jorge Manrique, "a nuestro parescer / cualquiera tiempo pasado / fué mejor". Mas esta geração parece ir um pouco além e clamar para si méritos praticamente inéditos - tudo por conta de meia dúzia de passeatas.

Contudo, naquele mesmo caderno especial de O Globo , uma cientista social aponta o que parece ser o legado mais verdadeiro e tangível de 1968: a politização de diversas questões. Naquela época popularizou-se a idéia de que "todo ato é político" e de que o tempo inteiro as suas atitudes confirmam ou questionam o establishment. Eu mesmo já ouvi da boca de um jornalista: "Quando você acorda de manhã, isso já é um ato político..." É só comparar a idéia da politização total de tudo com o senso comum de 25 anos depois para reparar que aquela idéia teve inúmeras aplicações, transformada na "tecnologia da informação" conhecida como "politicamente correto". Quem tiver uma certa idade conseguirá lembrar de quando, lá no início dos anos 90, ouviu pela primeira vez termos como "afro-americano" e "deficiente visual". É impossível não ficar ressabiado com as implicações contidas nessa reformulação da linguagem, porque, ao absolutizar certos termos, ignorando os contextos, ela mesma é ofensiva. Ser negro não é uma deficiência, como ser cego. E se eu falo que gosto de "Stevie Wonder, aquele músico negro e cego" não estou sendo ofensivo, nem me parece que o próprio Stevie Wonder, cuja carreira começou décadas antes do "politicamente correto", tenha ficado ofendido com estes termos. O que não os impede, é claro, de ser usados ofensivamente em alguns casos. Por isso, o maior legado do "politicamente correto" e, com isso, de 1968, foi a necessidade de manter diante de si uma platéia imaginária maliciosa e hipersensível, permanentemente disposta a atribuir más intenções e mesmo a prender e multar quem falar certas coisas - eis o espírito libertário de 1968.

Em seu favor, os 68tistas (também tenho direito aos meus neologismos) de ontem e politicamente corretos de hoje dirão que a linguagem já era politizada e que eles, assim como os personagens de Jornada nas Estrelas em situações de perigo, apenas inverteram a polaridade nos motores. Também acusam-nos, ao recusar essa dimensão totalizante da política, de servir a um sistema sem perceber. Ora, ninguém quer ser percebido como ingênuo ou trouxa, servindo a algum interesse que ignora, e é graças a este apelo à vaidade ferida que o 68tismo politicamente correto prospera. Você faz parte daqueles que são "conscientizados" ou "alienados"?

Um tratamento liberal dessa questão não pode simplesmente respondê-la. Não se trata de politizar a sociedade, a linguagem, as ciências, a intimidade e tudo mais no sentido "bom" ou "verdadeiro". Apesar de o liberalismo ser uma posição política, ele é a posição que pretende libertar todas as demais áreas da vida humana da tirania da política ou da politização, e esse é seu único ponto de contato com "todas as demais áreas da vida humana". Se a liberdade está em tudo, a consciência dessa liberdade também pode estar. Se a liberdade é a ausência de coerção por agentes externos, então a consciência da possibilidade de escolher o próprio caminho é a afirmação do liberalismo. Uma afirmação que pode ser discreta, mas da qual depende tudo.

O que digo pode parecer sutil, mas é fácil de demonstrar. Não existe, por exemplo, uma "teoria liberal da literatura", mas existe uma teoria marxista da literatura (para quem quer saber mais, o maior ícone das análises marxistas hoje é o inglês Terry Eagleton) e milhões de análises políticas de textos literários, transformando-os em metáforas para conflitos de classe ou em simples ataques retóricos a certas idéias. Essas análises podem até ser parcialmente verdadeiras - veja, por exemplo, que é impossível ler Jane Austen sem ficar chocado com a intensidade da "consciência de classe" dos personagens, ainda que ela sempre tente mostrar que é possível transcender essa consciência. Porém, seria possível uma "teoria liberal da literatura"? Talvez uma teoria que tentasse mostrar que os personagens dos romances na verdade buscam afirmar suas próprias decisões contra uma sociedade imóvel? Isso seria tão ridículo e limitado quanto ler romances buscando apenas a confirmação ou o questionamento das estruturas políticas vigentes.

Porém, toda vez que um crítico literário escolhe os métodos que utilizará, está praticando a liberdade intelectual. Essa liberdade de análise, que inclui a liberdade de fazer testes, é que permite os avanços do conhecimento (sejam eles avanços em qualquer direção). Até mesmo quando um crítico escolhe ler romances com um modelo marxista, ou politicamente correto, ele está praticando a liberdade. Por isso pode não existir uma teoria liberal da literatura - mas existe uma atitude liberal em relação ao estudo da literatura.

A diferença entre essa atitude liberal, universalmente praticada, e a atitude (pois a teoria politicamente correta / marxista também gera uma atitude) 68tista é que a primeira não se autodestrói. A segunda é apenas nominalmente libertária: diz que vai libertá-lo dos grilhões do sistema mas já sabe aonde pretende levá-lo. O mesmo acontece com a linguagem politicamente correta: se você queria libertar-se da suposta politização da linguagem, apenas vai passar a trabalhar para novos senhores. Assim como não existe, segundo o 68tismo, uma área livre na consciência em que a boa-vontade pode prevalecer, também não existe, na convivência, uma área em que as regras possam ser livremente ditadas pela conveniência das partes.

Por isso, mesmo que o liberalismo não se pretenda uma teoria total da realidade, admitindo que há áreas da vida humana que simplesmente não são governadas por leis políticas, ele pode estar por trás de cada uma dessas áreas, afirmando a liberdade da consciência de examiná-las da maneira que quiser, de olhá-las como se fosse a primeira vez. A negação da politização total de tudo se dá pela consciência da liberdade de não agir politicamente. Falta agora, para apagar o legado de 1968, tirar a impressão de que essa politização total é uma espécie de liberdade, quando não passa de um autoritarismo das consciências.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Se beber, não pense

por Guilherme Fiúza

Você aí, que estava preocupado com esses jovens que matam e morrem dirigindo bêbados por aí, ou com seu rebento tão bem criado que cismou de encher a cara em festa de adolescente: seus problemas acabaram.

Vem aí a proibição da propaganda de bebida alcoólica na TV entre 6 da manhã e 9 da noite. Projeto de lei do deputado Jorge Mudalen (DEM-SP), que está para ser votado na Câmara, resolve esse problema para você.

E o problema era tão simples, nem dá para entender como ninguém pensou nisso antes. Ou melhor, pensou. O então ministro da Saúde José Serra empreendeu uma autêntica cruzada nacional contra a propaganda do cigarro. O povo precisava aprender que fumar não o levaria “ao sucesso”.

Realmente, é um absurdo o sujeito ser levado a associar um gole de cerveja ao sorriso da Juliana Paes, quando se sabe que pelo menos 50% dos beberrões saem dos bares arrastando dragões. Talvez o projeto do deputado devesse obrigar a Antártica a substituir Juliana Paes por Andréia Albertine – com o slogan “reputação de bêbado não tem dono”.

É muito interessante essa idéia de salvar o consumidor indefeso dos males da propaganda. Claro: o produto existe, faz mal, pode ser produzido e vendido legalmente – o problema é o anúncio.

Nem dá para conceber como o deputado Mudalen e o ex-ministro Serra ainda não proibiram esses anúncios em que o carrão passa veloz e sacode o vestido da mulher bonita. Alguém tem que avisar correndo o idiota do consumidor de que sexo não se faz com o pedal do acelerador.

Mas agora vai ficar tudo bem. Juliana Paes só vai levar ao alcoolismo os jovens que ficarem acordados depois de 21h. Fica já aqui uma proposta de emenda à lei, determinando que menores de 21 anos vão pra caminha, inapelavelmente, depois do “Jornal Nacional”.

São realmente perigosíssimos esses anúncios de coisas que fazem mal apresentadas como se fizessem bem. A propaganda política na TV, por exemplo, já levou milhões de eleitores inocentes a cometer loucuras.

Mas nessa ninguém vai mexer. Claro, o mau caminho é a Juliana Paes.

Não use drogas...

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"Obrigado por fumar": a volta

por Antonio Fernando Borges

A vitória da democracia tem sido comemorada, mundo afora, toda vez que um mandatário fardado é deposto ou afastado. Regimes civis, conduzidos por governantes eleitos, seriam hoje maioria no mundo -- um indício (dizem os intelequituais) de que a Idade Contemporânea pode ser definida pelo aumento crescente das liberdades políticas, coletivas e pessoais.

Sério?!

Em face dos últimos acontecimentos, seria o caso de perguntar de onde essas pessoas tiram suas teorias esdrúxulas, e o que eles entendem, afinal, como liberdade?

(Liberdade = o "direito" de obedecer de bico calado?)

O titular deste blog (que não fuma) está de luto, ao ver a liberdade individual morrer mais um pouquinho...

É proibido fumar?! Então cabe a pergunta aos defensores da "liberdade de expressão": mas maconha pode?!!

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Uma lição sobre crédito e moeda

Educação e capitalismo: aliados ou inimigos?

Gustavo Ioschpe, da Veja

Virou consenso no Brasil associar o nosso fracasso educacional com as maquinações do sistema capitalista/neoliberal. Segundo essa leitura, calcada em Marx, interessaria aos "poderosos", à "elite", que o proletariado não fosse instruído ou, no máximo, recebesse uma educação totalmente "alienante", para que não questionasse suas mazelas nem incomodasse o status quo e apenas continuasse fornecendo sua mão-de-obra barata para a manutenção do sistema. Essa leitura da situação se tornou absolutamente hegemônica: vai da imprensa à academia, dos mais louvados pensadores do tema à correspondência enviada a este articulista por professores dos grotões do Brasil. Vejamos alguns exemplos. De Emir Sader: "A educação, que poderia ser uma alavanca essencial para a mudança, tornou-se instrumento daqueles estigmas da sociedade capitalista: ‘fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à maquinaria produtiva em expansão do sistema capitalista, mas também gerar e transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes’. Em outras palavras, tornou-se uma peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de um consenso que torna possível a reprodução do injusto sistema de classes. (...) No reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do sistema público de ensino, pressionado pelas demandas do capital (...)". Lucyelle Pasqualotto: "Podemos analisar que a educação como vem sendo, historicamente, organizada está para atender ao capital, numa sociedade inerentemente excludente e contraditória. (...) Oferece diferentes níveis, modalidades, métodos educacionais, a fim de dar continuidade ao seu elemento diferenciador e, ao mesmo tempo, apregoando o discurso da unificação e universalização da educação. Discurso este que, em uma sociedade capitalista, onde os meios de produção, inclusive o conhecimento[,] são propriedade privada, quanto muito pode proporcionar uma educação mercantilizada, excludente e diferencial". Amelia Hamze: "Proporcionar a qualidade de ensino e a gestão democrática da escola levaria a invalidação da sustentação do poder amparada pelo estado capitalista".

Edward Gooch/Hulton Archive/Getty Images


Trabalho infantil na Inglaterra durante a Revolução Industrial

Essas teses, como de costume, são apenas frutos da verborragia dos "pesquisadores" que as produzem. Não vêm embasadas por nenhuma tentativa de comprovação quantitativa – até porque a maioria de seus autores se confunde com qualquer operação matemática ou estatística que requeira sofisticação maior do que calcular o troco do táxi e costuma, convenientemente, mascarar essas deficiências sob um discurso ideológico segundo o qual a própria quantificação, do que quer que seja, seria uma vitória da superestrutura neoliberal, mercantilista. É pena, porque essa teoria – de que o capitalismo requer a falta de educação, ou a educação de baixa qualidade – é facilmente conversível em uma hipótese testável. Se esses pensadores estiverem certos, espera-se que os países mais capitalistas sejam aqueles com os piores e mais excludentes sistemas educacionais, enquanto aqueles em que o capitalismo não conseguiu estender seus tentáculos malévolos deveriam ter populações formadas por cidadãos altamente instruídos e intelectualizados.

Em realidade, o que ocorre é exatamente o oposto: quanto mais capitalista o país, melhor e mais abrangente é o seu sistema educacional. Cruzei os dados referentes a educação e capitalismo de 167 países. Usando o instrumento da estatística de regressão, descobre-se que o desempenho educacional explica, por si só, 47% da posição de um país na escala do capitalismo. A relação é estatisticamente fortíssima: a probabilidade que a percebida ligação entre as duas variáveis seja fruto de erro é inferior a 0,00000001%. Essa robustez não é casual: indica que o sistema capitalista exige sociedades com alto nível educacional, e, quanto mais instruída é a população, mais capitalista o país tende a ser, e vice-versa.

Por que no Brasil ainda se acredita no oposto? É a junção do mofo intelectual com a vigarice. Marx já cometia erros de interpretação da realidade quando escrevia seu Manifesto Comunista e O Capital, há 150 anos. O que se aplicava àquela realidade histórica, porém, não se aplica à nossa – o capitalismo mudou, e muito, neste século e meio. O período do início da Revolução Industrial era, sim, uma época em que a competência necessária ao trabalhador era mínima e sua jornada de trabalho era desumana. Para apertar parafusos em uma linha de montagem esfumaçada por dezesseis ou vinte horas por dia, em repetição incessante, era apenas necessário alguém que soubesse ler, se tanto. O capitalismo do século XXI, porém, é outro. O conjunto de habilidades e conhecimentos necessários é muito maior – até para trabalhar em uma linha de montagem de uma fábrica é preciso capacidade analítica para lidar com um maquinário cada vez mais sofisticado. E, quanto mais capitalista e desenvolvido um país se torna, mais diminui a importância das áreas fabril e de produção de commodities e aumenta o peso de setores de serviço e de alta tecnologia, em que o principal insumo é o cérebro das pessoas. Não é por acaso que alguns campeões do capitalismo, como Coréia do Sul e Estados Unidos, hoje se aproximam da massificação da matrícula de ensino universitário, com taxas beirando os 90%. O profissional de sucesso do mercado internacional de hoje é a antítese do proletário da Inglaterra de Marx: precisa ser altamente capacitado em sua área e, ao mesmo tempo, ter uma formação multidisciplinar e abrangente. Enquanto isso, nossos pensadores continuam recebendo soldo dos nossos impostos para suas análises em que até hoje, quase vinte anos depois da falência do socialismo, tentam mostrar como Marx tinha razão. A essa incapacidade de alguns, soma-se o oportunismo de muitos. Esse tipo de análise reverbera no professorado porque o seu corolário é simples: o insucesso educacional é resultado de uma sociedade corrompida pelo capitalismo. Eu quero ensinar, mas a superestrutura não me permite. A única maneira de produzir uma mudança efetiva na educação é através da revolução social, e acreditar que o esforço individual de um professor ou diretor pode fazer qualquer diferença diante de forças sociais e históricas tão poderosas já seria uma rendição ao espírito atomista, ilusório, que é a marca do capitalismo. A falência intelectual pavimenta o caminho do conformismo e cinismo de cada um.

Jung Yeon-Je/AFP


Escola primária na Coréia do Sul: a educação como maior riqueza

Essa prisão mental em que nos encontramos acaba por prender em amarras o próprio país. Esperando pela revolução social, abandonamos a possibilidade da revolução mais maravilhosa que existe: a que se dá pelo conhecimento. Silenciosa e pacífica, é a verdadeira redentora: perto de dominar a eternidade representada pelo saber, desapropriar uma fábrica ou fazenda parece brincadeira de criança.

E essa é uma revolução em que não há perdedores. Todos os setores se beneficiam de uma população mais instruída. Em um mundo globalizado, a idéia de que a elite gostaria de confinar a população à ignorância para não ver sua posição ameaçada é fajuta. Se o empresário não tiver trabalhadores competentes, será destruído pela competição das empresas de outros países, com gente qualificada. Só há, estranhamente, um único tipo de organização, que eu saiba, que se beneficie de uma população iletrada: são os partidos de esquerda. Nas últimas eleições presidenciais, segundo o Datafolha, Lula só perdeu em um grupo: o dos eleitores com ensino superior. Entre eles, em pesquisa de 17 de outubro – doze dias antes da eleição, portanto – Lula tinha 40% das preferências, contra 50% de Alckmin. Felizmente, para ele, a maioria de nossa população só tem ensino fundamental, grupo em que o petista liderava por 57% a 28%.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Gente distraída

por Guilherme Fiúza

O ministro da Justiça, Tarso Genro, esse que faz vista grossa para as depredações do MST, sugeriu que a montagem/vazamento do dossiê FHC foi um “descuido”.

Claro que foi. Como se sabe, o PT do ministro Genro acabou com o caixa dois e inventou o “dinheiro não-contabilizado”.

Depois das trampolinagens de Vavá, o Grande Irmão, tráfico de influência passou a se chamar “ingenuidade”.

A ajuda aos empresários “desenvolvimentistas”, velhos amigos do Delfim e novos amigos do Lula, acaba de ser anunciada como “política industrial”.

Tarso Genro não dá ponto sem nó. Disse que descuido não é coisa que mereça investigação da Polícia Federal. Ou seja: afastem de mim esse cálice e esse Código Penal. Nada que um puxão de orelhas não resolva.

São precedentes muito interessantes. Como se sabe, a julgar pelas punições até agora, Delúbio, Valério e companhia não passaram de uns descuidados.

A Era Lula e seus eufemismos distraídos ainda vão provar, definitivamente, que não existe pecado do lado de baixo do Equador.

sábado, 10 de maio de 2008

Clube das Democracias - Pt. 2

do Blog do Bernardo Carvalho

Então, tem um concurso de desenvolvedores para saudar a chegada do Firefox 3 (bocejo).

A parte curiosa está aqui, na lista de países onde o concurso não é válido:

Contest is void in Brazil, Cuba, Iran, Iraq, North Korea, Puerto Rico, Province of Quebec (Canada), Sudan, Syria, Union of Myanmar, and where prohibited by law.


Deixa eu traduzir para você:

O concurso não é válido no Brasil, em uma ditadura comunista, em uma ditadura teocrática, em outra ditadura comunista, em uma possessão semi-autônoma, em uma província separatista, em uma ditadura cleptocrática de inspirações teocráticas, em uma ditadura ba'athista, em uma ditadura militar e onde mais for proibido por lei.


Em resumo:

* 7 ditaduras;
* 2 lugares que nem país são;
* Brasil.

Diga-me com quem andas, etc.

O Individualismo de Sólon

por Rodrigo Constantino


O Estado deve abster-se de todo esforço por interferência positiva no bem-estar dos cidadãos, e não dar nenhum passo além do necessário para garantir-lhes a segurança mútua e a proteção contra inimigos externos, visto que nenhum outro objetivo deveria constituir motivo para a imposição de restrição à liberdade.
(Humboldt)


Atenas deixou infinitamente mais ensinamentos ao mundo que Esparta, sua inimiga. O período de maior influência de Atenas estende-se até a Guerra do Peloponeso, iniciada em 431 a.C. Esparta saiu vitoriosa dessa guerra, que terminou em 404 a.C. A partir da derrota para Tebas em 371 a.C., entretanto, seu declínio foi vertiginoso, até desaparecer completamente numa terrível guerra civil. O legado de Atenas, por outro lado, brilha até os dias atuais.

Figura fundamental por trás dessa trajetória bem sucedida de Atenas foi Sólon, um grande reformador do sistema legal e introdutor da democracia. O individualismo de Sólon contrastava radicalmente com uma visão coletivista de Esparta. A vida dos espartanos era totalmente dedicada ao Estado, que decidia inclusive sobre o direito de sobrevivência dos bebês masculinos. Os funcionários públicos decidiam tudo, e a idéia principal era diminuir ao máximo os elos afetivos entre pais e filhos. Ao completar 12 anos, os garotos saíam de casa definitivamente, para morar num quartel. Esparta formava o ideal de uma sociedade coletivista dedicada apenas ao militarismo, como seriam as nações comunistas no século XX. A Atenas de Sólan era o oposto!

Em 594 a.C., com um grande conflito de interesses em Atenas, os cidadãos chamaram Sólon para arbitrar a questão. A escravidão por dívida, uma herança da influência mesopotâmica, era o cerne do problema. Sólon tomou seis medidas que foram muito importantes no que tange os direitos individuais. Ele, em primeiro lugar, perdoou as dívidas e aboliu a possibilidade da escravidão servir como garantia real. Depois, permitiu que todo cidadão ingressasse em juízo, caso se sentisse prejudicado. Deu também o direito a recorrer de uma decisão numa instância superior. Introduziu um sistema de votações por meio do qual poderiam ter acesso aos principais cargos públicos os cidadãos que tinham posses mas não pertenciam a famílias aristocráticas. Estabeleceu um conselho de 400 integrantes, que foi posteriormente aumentado para 500. Permitiu, por fim, legar bens em testamento. Plutarco, sobre essa última medida, afirmou que Sólon “fez a propriedade de qualquer homem verdadeiramente dele”.

O código de Sólon teve profundo impacto no Ocidente. Representa o básico sobre direitos individuais, isonomia de tratamento, propriedade privada. Coloca cada indivíduo como um fim em si, e não um meio para algo “maior”, visão coletivista que dominava Esparta e ainda hoje contamina a mentalidade de muitos. Depois de fazer as leis que mudariam para sempre o conceito de governo, e que muito contribuíram para pacificar Atenas, os cidadãos propuseram a Sólon que se tornasse seu rei. Sólon recusou, alegando que os atenienses deveriam ser capazes de resolver seus problemas valendo-se apenas de seu código legal. Afinal, Sólon não duraria para sempre, mas suas leis sim. Isso vai à linha de Aristóteles, que defendia um governo de leis, não homens. Algo completamente oposto à arbitrariedade dos modelos que concentram poder abusivo nos governantes, em nome de objetivos vagos e abstratos, como “justiça social”.

Infelizmente, essas lições, tão antigas, ainda hoje não foram assimiladas por todos. São milhões os inimigos da liberdade individual. São muitos os que ignoram a justiça das leis isonômicas. Não são poucos os que ainda hoje não entenderam o individualismo de Sólon.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Plebiscito é liberdade?

Democracia plebiscitária é a glória de todo totalitário que se julga forte o suficiente para submeter seu povo ao teste supremo da obediência canina – e que, garantido da certeza de que quanto mais seu povo é levado a interpretar essa especiosa liberdade de escolher entre coisas que não são do seu interesse nem de sua vontade, como demonstração de madura democracia, mais esse povo estará perto do fim de todos os seus direitos.

Carlos Reis

Edward Griffin - On Individualism vs Collectivism

Entrevista com Edward Griffin sobre o cisma ocidental entre Coletivistas e Individualistas. O texto completo pode ser lido traduzido aqui.

Al Gore's global warming debunked – by kids!

Winners announced in 'The Sky's Not Falling' video-essay contest
© 2008 WorldNetDaily

Al Gore's global warming philosophy has been debunked by many scientists and studies, and now it has met the same fate at the hands of children, in "The Sky's Not Falling" video/essay contest, sponsored by WND Books, formerly World Ahead Media.

The contest was launched early in 2008 and was designed to highlight the absurdities, untruths and downright lies that children are being taught daily about "climate change" in public school.

Russell Young, a Minnesota writer who captured first place in the essay competition, explained the importance of using celebrities such as Gore and the medium of movies to enhance the educational experience for students.

"Here are just a few other films schools might use for their teaching curriculums. 'The Polar Express' could be used for instruction on transportation systems. 'Borat' is a perfect teaching tool for understanding how the Democratic Party uses focus groups. 'Alien,' could be used to teach students about anatomy and homeland security, all at the same time," he wrote.

"'Far fetched,' you say. Maybe, but 'Moby Dick' taught me all I ever needed to know about whales, and I'm a marine biologist," he said.

"Kids across America are being victimized by global warming hysteria," according to Holly Fretwell, author of The Sky’s Not Falling: Why It’s OK to Chill About Global Warming.

"I wanted to know what kids just like mine are hearing in their classrooms," Fretwell said. "Running a contest was a fun way to go about it."

"All of us, and our children in particular, are being confronted daily with half-truths and falsehoods about global warming," noted Fretwell. "It's just plain wrong."

She said that was or inspiration for the book in the first place.

"I want kids to get excited about science and to understand that it’s human ingenuity and a can-do spirit, not government sanctions, that will lead us to a bright environmental future. I want kids to learn how to become critical thinkers," she said.

Contest winners will receive a cash prize, a copy of "The Great Global Warming Swindle" DVD courtesy of junkscience.com, and copies of "The Sky's Not Falling" for their local school library and their kids' science classroom.

In the video competition, the DiMarias from South Carolina submitted the winning entry, which is available through this link, or by watching the following:



In second place in the video competition was Warren Meyer of Arizona, whose winner can be seen at this link, or by watching the following



The first-place essay is titled "Al Gore Causes Global Warming in School Aged Brains" and is by Russell Young, of Minnesota:

If Al Gore's film "An Inconvenient Truth," is suitable for teaching about climatology, then Alfred Hitchcock's film the "The Birds," is a good candidate for teaching ornithology.

"Wait a moment," you say. What does a horror film which has been characterized as "extremely disturbing," where hoards of normally skittish, but peaceable birds, inexplicably attack and terrorize humans, have to teach our children about science? The answer, of course is that it could be used to anesthetize them to the frightening scenarios presented in Gore's "An Inconvenient Truth."

It's hard to decide which would be worse: frightening young students with scripted terror from a horror master, or frightening students with scripted propaganda from an environmental hypocrite. But think of the box office draw potential by making a double header out of these two movies. Plus, each film is steeped with enough gut wrenching scenes to keep even the most jaded students interested, making them a perfect antidote to typically boring science fare.

In "The Birds," one scene shows children helplessly driven to terrified flight as birds relentlessly descend upon them. A particularly graphic moment depicts a bird tearing at the face of a screaming boy of about 8 or 9 years of age. Such viewing should make an indelible impression upon the minds of our youth as to the importance of not interfering with nature.

In Gore's film we are treated to equally stomach turning cinematography as the director treats us to numerous close-ups of Gore, thus making it clear how serious minded he is about the environment. We know he is the man who can make a change because of the repeated shots showing adoring masses who seemingly follow him around the globe. Let's just hope they don’t all do it on their own personal jets.

All of this, however, got me to thinking. Maybe schools could begin to utilize more Hollywood offerings. Think about it. For only the cost of a Blockbuster rental our students minds could be opened up to myriad realms.

Here are just a few other films schools might use for their teaching curriculums. "The Polar Express" could be used for instruction on transportation systems. "Borat" is a perfect teaching tool for understanding how the Democratic Party uses focus groups. "Alien," could be used to teach students about anatomy and homeland security, all at the same time.

"Far fetched," you say. Maybe, but "Moby Dick" taught me all I ever needed to know about whales, and I'm a marine biologist.


The second-place essay is titled "Global Warming Basics For Beginners," and is by Dan Nagasaki of California:

The earth has had huge climate shifts with extreme warmth and extreme cold (remember reading about the ice age?) long before man could have possibly had any impact on the earth's climate. If man didn't exist on earth, these great climate shifts would still occur. There are two major questions regarding global warming. First, are we really in a long-term global warming trend and second, is man primarily responsible for this? The first may be true, but the second doesn't appear to be true.

If you ask an average person who is concerned about the environment to name the major factors affecting global warming, he'll probably fail to mention the two most important factors. First is the sun, which is actually quite volatile. Even small changes on the sun affect our climate. So, the most important factor affecting global warming, the sun, is not affected by anything mankind does.

In fact, other planets in our solar system are also getting warmer. Second is water vapor, which forms the cloud cover.

After the sun and water vapor come other, much less significant factors such as sulfur dioxide, methane, and carbon dioxide (CO2). To put this even further in perspective, more sulfur dioxide is spewed out through volcanoes and earth vents than by industrialization. Methane is produced by plant-eating animals, including man, so if you really want to make a serious dent in methane production, you need to resign yourself to the mass extinction of most plant-eating animals. As for CO2, which makes up less than 1/10th of 1 percent of the earth's atmosphere (Nitrogen and oxygen make up 99 percent of the earth's atmosphere), the average person, merely by existing, produces more CO2 than the average automobile. Even with the tremendous increase in CO2 in the atmosphere over the last 100 years, the average temperature of the earth has increased about 1 degree C, with most of that temperature increase occurring prior to the rapid increase in CO2 levels.

Many environmentalists believe that protecting the environment means keeping certain environmental conditions exactly the same, but the earth and its ecosystem are constantly evolving. The earth naturally goes through periods of warming and cooling, and some species die out, while others are created. And again – to add some perspective – some changes, such as CO2 increases and global warming, have some beneficial effects, such as increased crop yields and vegetation.


The third-place essay is titled "A Christmas Dinner Conversation" and is by Jim Lion of California:

At a recent Christmas dinner, I had a conversation with my niece, 16 and very smart, who just got into the University of Pennsylvania on early decision. When I showed her how rising global temperatures may have caused the increase in CO2 gases, rather than the opposite Algorism (i.e. that rising CO2 has caused Global Warming) she said, "But that doesn't make any sense."

She's a smart girl. She can figure things out. The reason she thought my assertion made no sense is simple. It runs counter to the doctrine she has heard repeated over and over again ad nauseum, and perpetuated without question or remorse by the mainstream media.

I'll tell you what I told her that night at dinner.

If you look at the graph that Al Gore used in his Oscar-winning movie "An Inconvenient Truth," something emerges decidedly inconvenient to Al Gore's thesis of man-made global warming.

At first, Al Gore appears to get it right. The graph shows a precise correlation between changes in global temperature and changes in atmospheric CO2 over thousands of years. This suggests that when carbon dioxide emissions increase, a rise in global temperatures will result. However, if you take a closer look, the data show an 800 year gap between the changes in global temperature and the changes in atmospheric CO2. 800 years! What's more, CO2 is a trailing indicator, which means, based on the Goracle's own data, that today's current rise in atmospheric CO2 was actually caused by the Medieval Warming Period that occurred 800 years ago!

These facts have not been lost on many reputable scientists, who are busy looking for ways to prove how a rise in global temperature 800 years ago could have percolated down through the ocean, and then rose to the surface, causing the oceans to release vast quantities of CO2. If the process took 800 years in would explain the facts.

Imagine that. An explanation that matches the facts.

It seems to me Al Gore should get out of the pseudo-science business, and go back into theology, which he studied at Vanderbilt University, since it appears that he wants to alter the doctrine of Original Sin, making people feel guilty every time they exhale, spewing harmful CO2 into the atmosphere.

Mr. Gore may change his mind when he learns about these important facts, but don't hold your breath.


"As a parent of two grade-schoolers and a natural resources policy expert, I've heard some whoppers about global warming," says author Holly Fretwell, whose book, "The Sky's Not Falling! Why It's OK to Chill about Global Warming," is specifically designed to set the record straight. "If you're as tired as I am of the environmental bill of goods our kids are being handed at school, now's your chance to tell the world!"

In her book, Prof. Fretwell shows kids 9-12 that it's human ingenuity and adaptability – not a mindless fear of change – that are most likely to guarantee the Earth a healthy future. Fretwell brings genuine educational credentials and practical experience to the environmental debate, giving kids the straight scoop about global warming – and the potentially devastating human and economic consequences of politically motivated responses to it.

Can it really be that human innovation and creativity, combined with individual choice, will yield better environmental outcomes than the draconian, self-congratulatory approaches advocated by Al Gore and his Hollywood friends? Yes!

Indeed, in her book, Fretwell gets kids excited about science and economics, and shows it's human ingenuity combined with an "enviropreneurial" spirit that will lead America to a bright environmental future, not government programs controlled by giant, growth-killing bureaucracies.