sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Democratas, esses democratas

via Resistência

Recapitulemos: os republicanos são uns brutamontes, uns nazistas sem o bigodinho infame de Hitler, ao passo que os democratas representam a razão, a paz e a promessa da harmonia universal, certo? É o que se depreende da leitura dos nossos mais destacados e eruditos intelequituais. Vejamos alguns exemplos:

Segundo Arnaldo Jabor, que como comentarista político é mesmo um cineasta jenial, os democratas representam "a razão e a inteligência", em contraste com os republicanos, cujo universo mental seria feito de "preconceito, violência, burrice e [...] pulsão de morte". (Como vêem, a análise política de Jabor é cheia de sutilezas.) Se os democratas, em geral, representam a razão e a inteligência, Obama, em particular, encarna algo mais. Ele é "o jazz, a sexualidade livre, a liberdade da contra cultura". Em resumo, "Obama é mais que um candidato; ele é uma síntese de idéias, é a tomada do poder das conquistas cientificas, culturais e éticas da modernidade". Viram que eu não exagerava ao dizer que os comentaristas políticos andam escrevendo a respeito de Obama, em prosa, aquilo que B. Lopes escreveu, em verso, a respeito de Hermes da Fonseca? Mas continuemos.

Eis que desponta no horizonte a inteligência aguçada de Sergio Augusto, o Montaigne de Ipanema. Escrevendo sobre a convenção republicana, Augusto emitiu uma definição científica bagaray dos republicanos. Segundo o autor de Este mundo é um pandeiro, monumento imorredouro da filosofia política universal, os republicanos são, além de nazistas enrustidos (ou nem tanto), "caucasianos, caipiras, plutocratas, mal-amados, ressentidos, órfãos do macarthismo, peruas botocadas e lábios finos, vociferando ódio, zombarias, calúnias e slogans chauvinistas". Ah, bom.

Portanto, é isso. Se Jabor e Augusto, esses luminares da inteligência nacional, dizem que é assim, quem sou eu para dizer o contrário? Eppur si muove, conforme se pode ver na imagem abaixo:


Como vêem, eis um democrata que, para comemorar o Halloween, enforcou Sarah Palin em efígie, retratou John McCain emergindo do fogo do inferno e pendurou ambas as figuras na porta de casa. Mas, como sabe toda pessoa de bem, o monopólio da violência simbólica é dos republicanos, esses obscurantistas.

(Em tempo: se o contrário tivesse ocorrido, ou seja, se um republicano tivesse enforcado Obama em efígie e retratado um Joe Biden diabólico, o mundo inteiro lhe cairia na cabeça, e não sem razão. Como foi um democrata o autor dessa violência simbólica, a notícia ficou restrita a um despacho inconseqüente da Reuters.)

As mesmas e velhas ilusões

por Jeffrey R. Nyquist, no Mídia Sem Máscara

Se você acredita que a paz e a prosperidade podem continuar para sempre, a sua crença é uma ilusão. A história ensina que paz e prosperidade são repetidamente interrompidas por guerras e crises econômicas. A história é cíclica: a contração econômica segue-se à expansão, tanto quanto a paz e a guerra se alternam. As perigosas ilusões do período pré-1914 e dos anos 1920 e 1930 ocorrerão ainda muitas e muitas vezes. No passado, homens tentaram impor-se através da violência, e tentarão o mesmo no futuro. Homens já acreditaram num mercado de ações inflacionado, e acreditarão novamente. Homens confiaram em Hitler em Munique e homens aceitarão as mentiras russas de hoje.

Se um país experimentou ataques de surpresa, como foi o caso dos Estados Unidos (quando os japoneses atacaram Pearl Harbor em 1941, ou quando terroristas árabes atacaram o World Trade Center em 2001), há algo no caráter do país que convida uma surpresa futura. A diferença é que hoje os atacantes podem ser mais engenhosos do que os almirantes japoneses, ou mais sedentos de sangue dos que os gângsteres da Al Qaeda. Um ataque surpresa pode ocorrer quando um país fica doente e é colocado fora de ação por desordens financeiras – e por uma tentativa fútil de prolongar a prosperidade através de empréstimos, por um fútil resgate de bancos através de um governo que não percebe o quão perto da bancarrota ele mesmo está. Neste momento, corremos ansiosos atrás de candidatos que dizem o que queremos ouvir. Eles nos afirmam que o governo pode resolver nossos problemas. Mas, como disse Ronald Reagan em seu primeiro discurso de posse: “Na crise atual, o governo não é a solução para o nosso problema; o governo é o problema”.

O governo não pode impedir uma correção feita pelo próprio mercado. O governo não pode transformar negócios não lucrativos em lucrativos. A bolha nos mercados de ações e imobiliário precisa estourar. Isto é só o que as bolhas fazem. Ao intervir, o governo meramente aprofunda e amplia o dano. O que precisa acontecer, obviamente, é simples. Ronald Reagan, que assumiu a presidência durante uma severa crise econômica, vinte e sete anos atrás, explicou: “É hora de examinar e reverter o crescimento do governo, o qual dá sinais de ter crescido além do consentimento dos governados”.

O governo precisa parar a sua contínua expansão [e intromissão] em todas as esferas. Seu papel deveria ser limitado. Durante a crise atual, Washington deveria se concentrar em três coisas: preservar o poder de dissuasão nuclear, manter a ordem civil e evitar a fome se a economia entrar em colapso. O governo não é capaz de evitar um declínio econômico; ele jamais seria capaz de fazer isso. O que é necessário é fé no mercado, coisa que aparentemente nenhum de nossos líderes tem. Nenhum levou adiante o legado de Reagan. O marxista aspirante a ditador venezuelano, Hugo Chávez, zombou de Bush na quarta-feira [15/10/08] ao chamá-lo de “Camarada Bush”, uma vez que o republicano deu uma guinada à esquerda durante a atual crise financeira. “Bush agora está à esquerda de mim”, ironizou Chávez. Se o governo dos Estados Unidos pode comprar bancos, que crítica pode ter com relação a Chávez?

Houve um tempo em que nos iludimos com a noção de que o comunismo estava morto. Mas idéias não morrem, e ideólogos não mudam de idéia tão facilmente. O artifício de ontem prepara e articula o retorno de hoje. O bêbado Boris pavimentou o caminho para as garras de Putin, estendidas na direção da Alemanha. O que virá a seguir no período de “terror cinza” ninguém pode dizer ao certo. Talvez seja um ataque a bomba a um alvo financeiro significativo, tal como o Tesouro americano. Talvez uma metafórica bomba de nêutrons seja detonada sobre as transações financeiras do Ocidente. Recentes ataques cibernéticos ao centro de dados do Banco Mundial abrem o caminho para um ataque repentino e incapacitante. O plano da KGB não é meramente reunir e capturar os “oligarcas” russos. Se vocês ainda não entenderam a revolução, eu vou explicá-la em linguagem simples: A burguesia mundial deve ser liquidada de uma vez por todas.

Imaginem se um ataque cibernético destruísse o sistema financeiro ao apagar dados financeiros vitais dos computadores. Será que alguém percebe quão vulneráveis nós mesmos nos tornamos? Se o ataque a Pearl Harbor era realizável para os almirantes japoneses, o que pode ser realizado pela KGB hoje? O Banco Mundial está sob “cerco cibernético”. De acordo com a notícia veiculada pela FOX News no dia 10/10, “[A] rede de computadores do Banco Mundial – um dos maiores repositórios de dados sensíveis sobre as economias de todas as nações – tem sido repetidamente atacada, há mais de um ano…”. De fato, os invasores da rede tiveram “[a]cesso total, por quase um mês, entre junho e julho”. Os leitores desta coluna irão se lembrar daquilo que o governo russo estava prevendo em julho, a saber: que os Estados Unidos estavam por experimentar a “crise de sua existência”.

Como é que eles sabiam?

A sofisticação do “cerco cibernético” ao Banco Mundial aponta para a espionagem dirigida por um governo. Segundo a Fox News, “[I]nvestigadores descobriram que os invasores estavam usando o que se chama de ‘cluster’ de endereços IP originários de Macau, na China”. Evidentemente, os verdadeiros hackers fizeram uso dos endereços IP chineses para que os investigadores seguissem as pistas erradas. Eles jamais deixariam uma pista boa o suficiente para rastreá-la até a verdadeira origem. Há quem lance dúvidas sobre a possibilidade de ter sido a China a autora das invasões, e um país chama a atenção acima de todos os outros. Um dos maiores bancos da Rússia chama-se MDM, o qual recentemente divulgou que seus lucros líquidos triplicaram. Enquanto bancos caíam na Europa e nos Estados Unidos, o MDM prosperava. Um artigo de 10/10 do Wall Street Journal liga o MDM às transações financeiras suspeitas de um magnata ligado ao Kremlin. O artigo oferece a seguinte pista: “Altos funcionários da administração Bush têm revelado crescente preocupação acerca da possível infiltração de companhias ocidentais e de mercados financeiros por figuras suspeitas de pertencerem ao crime organizado e ligadas ao governo russo…”.

Será que, finalmente, estamos começando a entender?

Pode ser muito pouco, e muito tarde. Os políticos conservadores de hoje – na Europa e Estados Unidos – não são realmente conservadores. Eles não entendem a economia. Eles não sustentam as bem sucedidas tradições e práticas do passado. Tal como Hugo Chávez, no fundo eles são “Camaradas”. Apenas mais um exemplo é suficiente para provar o ponto em questão. De acordo com repórteres em Bruxelas, no dia 15/10 o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi disse que aceita a Rússia completamente. Ele explicou: “Eu considero a Rússia como um país ocidental, e meu plano é que a Federação Russa esteja apta a tornar-se membro da União Européia nos próximos anos”. Diante dessa formulação seria mais realista dizer que Berlusconi é a favor de que a Europa tenha um papel de satélite da Federação Russa. “Eu tive essa visão há anos”, disse Berlusconi.

Nós não deveríamos subestimar os efeitos desse pensamento ilusório dos políticos “conservadores” de hoje em dia. Os americanos tendem a ser ingênuos, e os conservadores de todas as partes adotaram essa posição. Eles pensam que seu país é invencível, que a sua prosperidade repousa sobre uma fundação firme. Eles subestimam a ameaça do exterior. Este tipo de raciocínio, porém, subverte a segurança e a prosperidade genuínas. Os homens precisam lutar pelo que querem, e precisam lutar para preservar o que possuem. Não há lugar nem futuro para a complacência diante dessa realidade. Aqueles que vêem as nossas asneiras econômicas apenas com relação à atual crise econômica viram apenas metade do quadro. Pearl Harbor e o 11 de Setembro foram eventos característicos, que ocorreram em concordância com a tendência dos Estados Unidos em negligenciar sua segurança enquanto perseguem objetivos econômicos. Há muitas dimensões na crise corrente, incluindo a divisão ideológica que ameaça nossa segurança nacional. Todavia, é certo que todos esses elementos estão ligados à ameaça externa e todos esses elementos podem ser explorados por nosso inimigo.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

É desmoralizante mesmo!

por Carlos César Higa, no Sempre no Ataque

Lula concedeu uma entrevista ao jornal carioca O Dia no dia 11 de julho de 1999:

Fernando Henrique se envolveu em denúncias graves. Como ele pôde dizer que não sabia que o presidente do Banco Central (na época, Chico Lopes) havia concedido empréstimo de 1,5 bilhão de dólares ao Banco Marka? Depois, disse também que não sabia que seus ministros viajavam em aviões da FAB. Ainda por cima, nomeou para a Polícia Federal o delegado João Batista Campelo, acusado de participar de sessões de tortura no período militar. Sem esquecer, que negou ter conversado dom pessoas durante a privatização da Telebrás. Pouco depois, surgiram as fitas com a voz dele e as publicações nos jornais. É desmoralizante.

Vejam que Lula critica Fernando Henrique Cardoso que não sabia de nada. Hoje virou rotina Lula dizer que não sabe de nada e ainda tem sua tropa de choque que o protege e ameaça quem duvida da ignorância dele. É desmoralizante!

Lula é PMDB

por Diogo Mainardi

Lula é PMDB. É o que tenho a dizer sobre o resultado eleitoral do último domingo. Se o PMDB é um aglomerado de caciques, Lula é o cacique dos caciques, tendo repartido o território brasiliense em tribos, cada qual com seus costumes, com sua estrutura, com seu sistema de valores. Sobretudo isso: com seu sistema de valores. Se o PMDB é um emblema de fisiologia, Lula é seu maior representante, saltando alegremente de um lado para o outro, de acordo com as suas necessidades mais imediatas. Se o PMDB representa o poder local, Lula administra o governo da República como se fosse a prefeitura de Campina Grande. O PT perdeu no domingo, o PT foi ridicularizado no domingo, mas quem disse que Lula é do PT?

Uma idéia foi repetida continuamente nos últimos dias. A idéia de que é cedo para se pensar em 2010. Na realidade, o que políticos, banqueiros, empreiteiros e jornalistas pretendem fazer, a partir de agora, é apenas isso: pensar em 2010. Pode ser cedo para o eleitor comum, mas está mais do que na hora de firmar acordos, comprar aliados e leiloar apoios para a disputa presidencial. Por isso mesmo, é preciso descobrir qual será o papel de Lula. De um ano para cá, ele sempre deu a entender que bancaria a candidatura de Dilma Rousseff. Eu entendo sua escolha. Ele perdeu todos os outros candidatos. Só sobrou Dilma Rousseff. E se só sobrou Dilma Rousseff, ele tem de se arranjar com ela. Mas o que Lula realmente espera obter com isso? Ele conhece o eleitorado. Por mais que eu me esforce, por mais que eu tente me desfazer de meus preconceitos, sou incapaz de imaginar como os eleitores poderiam votar em Dilma Rousseff. Ela tem aquele ar impaciente de funcionária pública que se recusa a aceitar nosso documento porque a cópia tem de ser autenticada, e que aguarda ansiosamente a saída do trabalho para poder fazer sua aula de rumba. Imagino que Lula saiba que uma candidata dessas nunca será eleita.

É nesse ponto que surge o Lula peemedebista. Como todos os peemedebistas, ele tem um projeto pessoal, muito mais do que um projeto partidário. Para ele, bem mais importante do que eleger um sucessor petista é garantir que seus interesses pessoais sejam atendidos pelo novo governo. Seu maior interesse, hoje, é assegurar uma passagem de poder sem conflitos, sem ressentimentos, para que seu sucessor nem pense em importuná-lo mais adiante, fazendo uma devassa pública de suas contas, ou punindo os membros de seu círculo íntimo, ou afastando seus homens da máquina estatal. Se Lula concluir que a derrota eleitoral em 2010 é certa, sua melhor candidata é Dilma Rousseff. Ele poderá se engajar em sua campanha, mas sem ter de se imolar por ela, indispondo-se com seus opositores. Lula precisa negociar o futuro de sua tribo. Ele é PMDB. Por isso, acabará ganhando, mesmo se perder.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

O fim do libertarianismo?

Por Jeffrey A. Miron, via Ordem Livre

Em um artigo recente publicado na Newsweek e no seu próprio periódico online, o editor-chefe da Slate, Jacob Weisberg, anuncia “o fim do libertarianismo”.

Respondendo a comentaristas que acreditam que políticas governamentais equivocadas provocaram ou contribuíram para a atual desordem financeira, Weisberg afirma que o verdadeiro culpado é a política financeira libertária (a qual impedia “qualquer violação do direito de comprar e vender”) que os Estados Unidos supostamente adotaram nos últimos anos. Estamos em meio a “um colapso econômico global possibilitado por idéias libertárias”, escreve Weisberg, acrescentando que libertários intelectualmente previsíveis simplesmente não conseguem “aceitar que mercados podem ser irracionais, compreender mal os riscos e alocar mal os recursos, ou que sistemas financeiros sem fiscalização vigorosa do governo e a capacidade para intervenções pragmáticas constituem uma receita para o desastre”. As políticas libertárias fracassaram tão redondamente, ele conclui, que chegou a hora de jogar o libertarianismo, como o comunismo soviético, na lata de lixo da história.

Como é? Você está falando sério, Jacob?

Sejam quais forem as visões que se tenha das políticas libertárias, o fato puro e simples é que os Estados Unidos não adotaram essas políticas. Não nos últimos dez anos. Não no último século. Na verdade, a não ser por um breve momento antes de Alexander Hamilton preparar o primeiro bailout americano dos mercados financeiros, nunca as adotaram. Se os Estados Unidos realmente fossem a “Terra Libertária” que Weisberg alega, um leque enorme de políticas que ajudaram a alimentar a situação atual teria sido radicalmente diferente.

Em uma Terra Libertária, os bancos não seriam licenciados, definidos e regulados pelo governo, como têm sido nos Estados Unidos por mais de 150 anos. Em especial, os bancos teriam o direito de “suspender a convertibilidade”, o que quer dizer que eles poderiam dizer aos depositantes, “desculpe, você não pode ter todo o seu dinheiro de volta nesse exato momento”, durante corridas aos bancos que ameaçassem a solvência bancária. Isso é justamente o que os bancos fizeram em pânicos financeiros decisivos durante o período pré-Fed, quando a suspensão era ilegal mas tolerada ou encorajada pelos reguladores. Fazendo isso, os bancos reduziam a disseminação do pânico e bancos solventes mas ilíquidos não faliram em grande quantidade.

Em uma Terra Libertária, o Federal Reserve nunca teria sido criado. Isso significa que o Fed não poderia ter transformado uma recessão normal na Grande Depressão, ao abster-se de deter uma queda enorme na oferta de moeda. Essa queda e as falências bancárias relacionadas ocorreram porque a existência do Fed era tomada como indicação de que os bancos não podiam, ou não deviam, suspender a convertibilidade, como tinham feito com sucesso no passado. Assim, em uma Terra Libertária, a Grande Depressão provavelmente não teria ocorrido.

Se o Fed nunca tivesse sido criado, Alan Greenspan nunca teria sido seu presidente. Assim, ele não teria dado garantias indevidas aos investidores quanto ao risco dos derivativos ou à viabilidade de longo prazo do boom do mercado de ações de meados dos anos de 1990. Se o Fed não existisse, não haveria Alan Greenspan para manter as taxas de juros baixas por um período prolongado e, desse modo, alimentar a bolha imobiliária que desempenhou um papel decisivo na perturbação dos últimos dois anos. Os participantes do mercado teriam feito julgamentos por sua própria conta, e estes provavelmente teriam sido, por conseqüência, mais cautelosos.

Em uma Terra Libertária, a Comissão de Valores Mobiliários (Securities and Exchange Commission), juntamente com regulamentações do mercado financeiro, tais como exigências de capital, não existiriam. Isso significa que os investidores não teriam qualquer garantia de que o governo poderia manter títulos “excessivamente” arriscados ou fraudulentos fora do mercado. Muitos pequenos investidores permaneceriam à margem, deixando os investimentos arriscados para aqueles que pudessem arcar com as perdas.

Em uma Terra Libertária, o governo não estimularia aumentos na propriedade de imóveis. Portanto, não teria criado a Fannie Mae e o Freddie Mac, nem incentivado essas instituições a expandir empréstimos subprime, nem prometido implicitamente salvá-las se ou quando esses empréstimos não fossem pagos. Assim, um ingrediente-chave na recente turbulência financeira não teria surgido.

Em uma Terra Libertária, o governo não protegeria agentes privados dos prejuízos de suas decisões arriscadas. Ou seja, nada de resgates ou bailouts para bancos, companhias aéreas ou indústrias de automóvel. Nada de garantias para depósitos, nada de garantias para pensões, e assim por diante.

Em uma Terra Libertária, indivíduos e empresas assumiriam riscos, mas pensariam longa e profundamente sobre tais riscos. Alguns indivíduos e empresas lucrariam consideravelmente com riscos assumidos com inteligência, mas muitos teriam, na média, retornos modestos, já que seus retornos aparentemente “excessivos” dos tempos de bonança seriam compensados por grandes perdas nos tempos ruins.

Pessoas sensatas podem discutir se a aplicação repetida de políticas libertárias teria melhorado o desempenho econômico dos Estados Unidos nos dois últimos séculos. Elas não podem afirmar, no entanto, que os acontecimentos recentes demonstram o fracasso das políticas libertárias, uma vez que essas políticas não foram empregadas.

Tampouco podem dizer, como Weisberg sustenta, que “as argumentações em favor do libertarianismo passam incrivelmente longe de oferecer qualquer explicação convincente sobre o que deu errado”. Na verdade, ao teorizar, antecipar e sublinhar o inevitável fracasso da mistura de dinâmicas de livre mercado com intervenções politicamente guiadas na economia, os libertários explicam não só o que está acontecendo, mas também como evitar sua repetição periódica.

No mínimo, ainda não está decidido se um regime de políticas verdadeiramente libertárias é desejável. Com sorte, algum governo um dia terá a coragem de lhe dar uma chance.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

A mentira dos mercados desregulados

por Nuno Garoupa, no Jornal de Negócios (Portugal)

Com uma monotonia que começa a cansar, muitos dos nossos ilustres economistas e comentadores escrevem estes dias sobre o alvorecer de um novo capitalismo com um Estado regulador forte. Descobre-se que, até agora (isto é, antes da crise dos mercados financeiros), se vivia um capitalismo selvagem desregulado de inspiração neoliberal, ou, na expressão patusca do Dr. Mário Soares, uma economia de casino e de "off-shores". Infelizmente isso é uma mentira, e que por mais repetida que seja continua a ser uma mentira.

Nunca a economia esteve tão regulada e regulamentada como nos últimos dez anos. Nunca houve tanta legislação técnica, tanta burocracia, tanta regulamentação, tantas e múltiplas agências administrativas e regulatórias, tanta intervenção do mundo político na organização dos mercados. Estado regulador existe e bem forte. Em Portugal, na União Europeia (basta ver o conteúdo quase exclusivamente regulador das directivas e dos regulamentos), e não menos nos Estados Unidos. O problema não é, nem nunca foi, de falta de regulação dos mercados, mas de uma má regulação desde o ponto de vista do interesse público.

Na última década, a forte regulação exercida pelo Estado foi capturada por interesses privados bem conhecidos. Entre os favores políticos e sem a atenção aos óbvios conflitos de interesse, o poder político permitiu aos grandes interesses económicos utilizar a regulação pública para aumentar os lucros privados. Foram ignoradas as externalidades sociais para favorecer, de forma sustentada, os grandes interesses económicos. Fala-se de economia de mercado, mas isso é uma grosseria técnica. Temos, sim, uma economia de oligopólios dominantes regulada por favores políticos. No caso português, uma versão modernizada e em grande escala do Estado corporativo.

O problema é, pois, político, e não económico. A classe política, durante os últimos dez anos, conviveu, promoveu, defendeu (e em muito beneficiou) a captura da regulação pública por interesses privados. Que credibilidade pode ter agora? Como podemos acreditar que o "novo" Estado regulador não é mais do mesmo, se os personagens são exactamente e literalmente os mesmos? Muito provavelmente, os mesmos interesses políticos de sempre vão "re-regular" o que já está regulado, para favorecer os mesmos interesses económicos de sempre.

Um novo Estado regulador não exige tanto profundas reformas económicas como nos querem vender, mas, sim, significativas mudanças políticas que não se vislumbram. Veremos a seu tempo quanto efectivamente mudará, mas a minha previsão é que, no essencial, muito pouco. Esta crise nos mercados financeiros não passará de um sobressalto passageiro para os oligopólios dominantes, que, no mínimo, já conseguiram o objectivo de curto prazo, a socialização das perdas.

PS. Foi com enorme justiça que o Prémio Nobel da Economia foi este ano para Paul Krugman. Mas lê-se o muito que se escreveu na imprensa escrita e na blogosfera portuguesa, e não se acredita. Desconfio que a esmagadora maioria jamais leu um artigo científico de Krugman. Os mais sinceros lá foram dizendo que só conheciam os seus artigos no NYT (ficámos mesmo a saber que nalgumas faculdades de economia em Portugal lêem-se os artigos do NYT mas não a obra científica). Pois só a mais completa ignorância científica pode falar de um Krugman heterodoxo, arraigado do "mainstream" da ciência económica, ignorado pelos consequencialistas que dominam na academia norte-americana, e, claro, está ostracizado em Princeton. Krugman, cientista económico pelo qual merece o Prémio Nobel, é um utilitarista "mainstream" da ciência económica moderna, como são Friedman ou Becker. Para muitos, habituados ao panorama nacional, é difícil entender que ser de esquerda ou de direita é uma opção ideológica, não uma escolha metodológica. O reconhecido rigor científico e técnico dos economistas que constituem o comité do Banco central sueco é incompatível com os favores políticos ou alinhamentos ideológicos. E os artigos no NYT não são obra científica (por muito que alguns famosos economistas portugueses tenham dificuldade em o aceitar, dada a dominante escassez de obra científica em Portugal).

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Crise. Você prefere com ou sem açúcar?

Fabio Fernandez, Diretor F/Nazca
via Agora eu já falei


Nós já enfrentamos e sobrevivemos a muitas crises. Talvez já tenhamos perdido as contas sobre o número e a origem delas. Mas as malditas já nos surpreenderam diversas vezes enquanto assobiávamos distraídos virando algumas dessas esquinas da vida. Algumas foram provocadas pelo petróleo, outras pela Rússia ou pela China, a maioria gerada internamente, já que em matéria de crise, o Brasil sempre foi auto-suficiente. A tal ponto que, se não chegamos a ser fraternos amigos - nós e a crise - também não podemos negar que tenhamos nos tornado íntimos conhecidos.

Nenhuma crise é igual à outra. Essa que chegou com toda a força, agora, certamente é a mais diferente de todas. Porque o Brasil não tem um pingo de responsabilidade sobre o que está ocorrendo e porque o Brasil está no seu melhor momento economicamente falando. O Brasil nunca esteve tão em dia com as suas obrigações, o dever de casa feito, com um mercado interno tão forte, com empresas tão sólidas, modernas e competitivas e com suas instituições tão garantidas, para encará-la.

Mas isso não nos exime das conseqüências da crise. Que, por sinal, é também uma das mais potentes e destruidoras das que se tem notícia em quase um século. Ela já está sendo dura e será ainda mais devastadora, não precisamos ser profetas para prevê-lo. Então, o que nos resta fazer?

O óbvio é termos medo, nos encasularmos, rezarmos para diferentes deuses, de diferentes religiões, ficarmos imóveis acreditando que qualquer mínimo movimento pode ser fatal para ela nos alcançar e, assim, esperarmos, até que ela passe.

Demitir, cortar os investimentos, reduzir a produção, suspender novos projetos, reprimir os movimentos de inovação, não acreditar num retorno inesperado da demanda, também são boas e óbvias idéias. Talvez, algumas tenham mesmo que ser feitas, quem sabe? Mas também há o inóbvio, por mais que, obviamente, a palavra inóbvio não exista. E não existe por quê? Porque ninguém a disse antes, vai saber.

E é aí que reside o intuito deste nosso anúncio: apelar para os que acreditam que o inóbvio existe. Não só existe, como pode ser feito nesse exato momento onde o óbvio é o que todos pensam, todos fazem, todos professam e todos aconselham.

O intuito deste anúncio é, humildemente, tentar criar uma minúscula fagulha de otimismo, de esperança – nossa velha, desgastada, mas essa sim, querida amiga em todos os nossos célebres momentos de crise – para que ela se dissemine, se instale na nossa cabeça, nas nossas empresas, na nossa sociedade, mesmo lutando contra esse poderoso inimigo, que tão mais facilmente gosta de se instalar nesses mesmos lugares ao menor sinal de que o pior pode acontecer.

O intuito deste anúncio é despertar o empreendedorismo que sempre caracterizou o empresariado brasileiro, a coragem que sempre foi a marca registrada das nossas empresas, a capacidade inesgotável de reinvenção que sempre foi o norte dos vencedores neste nosso país. E também é o intuito deste anúncio demonstrar que um marketing original é a mais poderosa fonte de energia, capaz de gerar as transformações que uma empresa precisa num momento de crise.
Nós acreditamos piamente nisso. Esse é o nosso óbvio.

Acreditamos que se esse não é o momento de inovar, que outro será? Acreditamos que se esse não é o momento de ser e parecer diferente dos seus concorrentes, que outro haverá de ser? Acreditamos que se não for essa a hora de falar, enquanto muitos se calam de medo, que outra hora estará à nossa disposição para fazê-lo?

Uma grande idéia, única, diferente de todo o óbvio, sempre foi e sempre será o detonador mais valioso - e menos oneroso - para se mudar a história, o humor, a fé, a determinação e o otimismo interno de uma empresa.

É isso que nós defendemos para os nossos clientes e que queremos externar para o Brasil inteiro hoje. Porque tivemos a presunção de que se nós pensamos assim, talvez você, talvez mais gente por aí também pense do mesmo jeito. E nós adoraríamos poder contar com mais gente, mais empresários, mais cidadãos para ajudar a contrariar o óbvio, a não aceitar passivamente em todas as suas piores conseqüências o medo, pelo medo.

Crises nós já enfrentamos e, queiramos ou não, ainda enfrentaremos essa um bom tempo e outras por muitas vezes. O que deve nos mover é a visão de como nós queremos ser percebidos assim que mais uma vez nós sairmos dela. De pé, ou de cócoras.

Aqueles que foram criativos, inovadores, desafiadores, obstinados, inteligentes, inóbvios, ou apenas aqueles - a maioria - normalmente óbvios. Na crise, já disseram muitos, é que se separam os homens dos meninos. Ou seja, crise pode ser café pequeno para os homens.

Nós gostamos com açúcar.

Pensamentos sobre o “colapso” do comunismo soviético

por Sergio Biasi no Indivíduo

Algo que por vezes parece escapar a muitos comentaristas políticos que falam entusiasticamente do “colapso” do comunismo soviético é que este não se deu exatamente e nível ideológico, e sim por ter se tornado economicamente insustentável. A fragilidade econômica interna do sistema, associada à necessidade de responder a programas armamentistas estratosféricos promovidos pela administração Reagan levou o império soviético à bancarrota.

Tal falência, porém, se deu basicamente a nível material, de recursos, e não a nível de idéias. Não se deu através de nenhuma “revolução” motivada por anseios de liberdade, justiça e indendência individual, mas pelo muito menos transcendente problema de que o estado ficou sem dinheiro para manter de forma eficaz e organizada seus sistemas de repressão interna. Por um lado, parece claro que o plano de derrotar o império soviético através de conflito armado direto seria não só inviável como a tentativa resultaria em suicídio coletivo de grande parte da humanidade. Por outro, o plano que concretamente “funcionou” de derrotá-los através de sufocação econômica derrotou apenas uma certa manifestação externa de um problema muito mais profundo.

A questão (pelo menos para alguém que acredita que as pessoas devem tanto quanto possível serem deixadas em paz para administrarem suas vidas como quiserem) é que a idéia básica de que seja moralmente aceitável e/ou socialmente desejável que o governo (ou qualquer outra entidade coletiva) controle irrestritamente a vida individual das pessoas não passou nem perto de ser derrotada, e continua bastante forte. E isso não só por lá nos confins da Ásia. Em quase todo o mundo, me parecem serem pouquíssimas as pessoas que acreditam atualmente que suas próprias consciências individuais devam ter precedência moral sobre quaisquer preceitos receitados pelo governo, pelas igrejas, pela família, pelas escolas ou por quem quer que seja. Não acredito ter havido qualquer vitória realmente significativa ou duradoura sobre tais idéias despersonalizantes. Muito pelo contrário, após um revolucionário período histórico em que a humanidade parecia destinada a libertar-se dos grilhões da opressão violenta e organizada ao pensamento individual divergente, vejo no horizonte as nuvens de um retorno ao obscurantismo massificante.

Inclusive, note-se que mesmo economicamente, o sistema soviético não era intrinsecamente “inviável”, afiinal sempre é uma opção logicamente disponível escolher voluntariamente viver na miséria por burrice, ignorância ou fanatismo (ou mesmo por preguiça, falta de ambição ou - num caso mais sofisticado - escolha consciente ao invés de acidental). O problema não foi tanto uma implosão espontânea quanto uma competição direta com economias um pouco mais eficientes (ou pelo menos eficazes), associada à não-passividade de tais economias diante de um projeto muito real de serem assimiladas.

O governo da China atual percebeu isso claramente e construiu um modelo divergente do soviético no qual o desrespeito mais desprezível às liberdades individuais é amplamente tolerado tanto internamente como externamente através da implementação de politicas econômicas pragmáticas. Por esse ponto de vista, pode-se argumentar que, muito ironicamente, o colapso do império soviético se deu não por ser opressivo, mas sim por não sê-lo suficientemente. Ao apegar-se a uma bagagem idealista e fantasiosa de estar cumprindo uma missão semi-divina cujo resultado eventual seria a construção de uma utopia na terra em que todos os seres humanos teriam (mesmo que à força) dignidade, felicidade, segurança, etc…, o governo soviético perdeu a chance de usufruir de diversos caminhos pragmáticos para obter progresso econômico concreto, recusando oportunidades que acreditava não poder coerentemente aproveitar.

O governo chines, por sua vez, despindo-se de tais vernizes e melindres, alavanca suas possibilidades econômicas ao máximo enquanto destrói sistematicamente qualquer tentativa de preservar a autonomia individual de pensamento, expressão e administração da própria vida. A sustentabilidade dessa estratégia a longo prazo descobriremos ao longe do resto do século, mas a noção de que tal sistema seja economicamente viável é preocupante.

O que nos leva à seguinte questão. Sou em princípio sim a favor do “livre” mercado em sua acepção mais ampla. Mas *não* porque esse sistema seja necessariamente o mais eficaz ou o que gera mais riqueza, e sim como efeito colateral da minha convicção de que as pessoas devem ser em princípio deixadas em paz para fazerem o que bem entenderem com suas vidas. Mesmo aceitando a premissa de que o “mercado” maximize ou de alguma forma otimize a “produção de riqueza” (por exemplo investindo trilhões na China), não acho que maximizar a produção de riqueza coincida automaticamente com maximizar as coisas que eu gostaria de vez maximizadas. Prefiro ter um carro um pouco pior mas não precisar ter medo de ser preso ou punido por expressar idéias impopulares.

Mas isso sou eu, e talvez essa posição não seja nem representativa nem evolutivamente ótima. Por um lado, talvez uma grande parte das pessoas se importe muito mais com ter carro um pouco melhor do que com poder dizer livremente o que pensa. Por outro, talvez maximizar a produção de riqueza seja o que efetivamente determina a sobrevivência material de um grupo humano, então os grupos que escolhem ao invés disso alguma noção abstrata de dignidade talvez estejam fadados a serem constantemente sendo varridos para fora da história.

O fato é que objetivamente somos máquinas biológicas descartáveis replicantes, e o domínio numérico de um certo perfil genético / cultural está inexoravelmente ligado em última instância à habilidade de se reproduzir. Especialmente num contexto em que conquistas científicas e tecnológicas facilmente se espalham universalmente, dignidade ou independência de pensamento do ser humano médio talvez pouco tenham a ver com sucesso material do grupo como um todo. Uma casta intelectual pode facilmente - e talvez até mais eficientemente - produzir toda a ciência que uma horda de zumbis “suficientemente inteligentes” se põe então a colocar em ação.

Talvez seja o caso de que o modelo economicamente mais eficiente seja de fato sermos todos descartáveis, substituíveis e intercambiáveis, abandonando qualquer noção de dignidade - seja isso atingido com ou sem um planejamento central. E se gostamos disso ou não (eu pessoalmente detesto), talvez não importe no grande esquema das coisas, porque o grupo mais eficiente em se reproduzir é o que vai predominar seja qual for a sua maravilhosa justificativa filosófico-político-ideológica. Talvez nem tentar ter uma justificativa e sim friamente e objetivamente enxergar toda a questão como um xadrez Darwiniano seja o próximo passo evolutivo/histórico. Não porque isso seja o “certo” ou o “bom”, mas porque talvez seja a estratégia que com mais eficácia aumente sua própria representatividade.

Claro que aqui não estou dizendo nada de realmente novo. O receio de que este seja o caso pode ser encontrado em um grande número de autores e obras mais ou menos óbvios. Mesmo assim, tais questões parecem por vezes se perderem nos discursos de quem associa automaticamente a pura “eficiência econômica” a um mundo no qual um ser com uma consciência que reconheceríamos (ou que atualmente idealizamos) como humana desejaria viver. Ignorar que recursos não podem ser criados do nada leva a um certo tipo de desvio perverso; achar que então a solução seja maximizar a geração de recursos a todo custo leva a outro. Infelizmente a segunda idéia talvez funcione.

O Erro de Greenspan

por Rodrigo Constantino


“O crédito fácil se transformou no Santo Graal da política monetária, principalmente sob a batuta de Alan Greenspan, ‘o Maestro supremo’.”
(Ron Paul)


O ex-presidente do Federal Reserve, Alan Greenspan, fez uma tímida mea culpa diante dos congressistas, ao confessar algumas falhas em sua gestão como banqueiro central. Greenspan alegou que sua confiança na capacidade de auto-regulação dos mercados se mostrou errada, para o delírio dos intervencionistas. Mas será que foi isso mesmo que aconteceu? A postura defensiva de Greenspan parece bastante natural, e o reconhecimento de um pequeno erro como regulador pode ocultar uma falha infinitamente mais grave. É mais fácil Greenspan jogar para o mercado a maior culpa, enquanto alivia o seu próprio fardo de ter, no fundo, contribuído muito para criar a bolha. Não faltaram críticos no passado que apontavam para esse erro bem mais sério do que apenas evitar os excessos do mercado. O grande erro de Greenspan não foi acreditar no poder de ajuste natural do mercado, mas sim ter colaborado muito para os seus excessos.

Eu mesmo fui um desses críticos no passado. Em um artigo escrito em abril de 2004, chamado “Amnésia Política”, utilizei vários trechos do próprio Greenspan escritos em 1966, num livro de Ayn Rand (Capitalism: The Unknown Ideal). A primeira frase do meu artigo foi: “No encontro entre um liberal e a política, é infinitamente mais provável que o primeiro seja corrompido pelo segundo, e não o contrário”. Essa introdução já expressava minha enorme decepção com Greenspan, ao constatar que aquele velho liberal havia cedido aos encantos do poder. A vaidade de Greenspan, aliás, parece evidente, e logo após se aposentar, depois de 18 anos à frente do Fed, ele já contava com uma autobiografia pronta. Greenspan, que fora discípulo de Ayn Rand e um defensor do laissez-faire e do padrão-ouro, chegando a culpar as ações do Fed pela Grande Depressão de 1929, acabou indo parar justamente no governo, concentrando um poder abusivo nas mãos.

Eis alguns trechos de Greenspan que eu destaquei no artigo: “Quando a economia nos Estados Unidos se submeteu a uma contração suave em 1927, o Fed criou mais reservas de papel na esperança de prevenir alguma falta possível da reserva bancária. [...] O crédito adicional que o Fed injetou na economia se espalhou para o mercado financeiro – provocando um crescimento especulativo fantástico. Em 1929 os desequilíbrios especulativos tinham-se tornado tão exagerados que a tentativa de enxugar as reservas adicionais precipitou uma aguda retração e a conseqüente desmoralização da confiança dos empresários. Em conseqüência, a economia americana desmoronou”. Em outras palavras, Alan Greenspan, ainda longe do poder, entendia como as ações do Fed, na tentativa de injetar liquidez nos mercados para evitar ajustes necessários, acabavam agravando os problemas.

Minha conclusão no artigo evidencia toda a decepção na época: “E pensar que este homem hoje senta na presidência do próprio Fed, injetando como ninguém liquidez nos mercados, tentando artificialmente manter o boom econômico, evitar a correção natural dos investimentos ruins realizados, usando o governo para ‘consertar’ os problemas da economia criados pelo próprio governo. O mundo perde muito com o fato de Greenspan ou ter esquecido o que disse em 1966, ou ter sucumbido às pressões políticas. Ele mesmo tem consciência de que é impossível alterar as leis econômicas através de mecanismos artificiais do governo. Mas a amnésia que o jogo político causa até mesmo nas cabeças mais lúcidas é incrível”.

E eu estava longe de ser o único crítico dessas medidas expansionistas adotadas por Greenspan! No Brasil, o economista Paulo Guedes sempre focou nesse aspecto, chegando a me dizer pessoalmente que o “mago” ainda seria vítima do ódio de muita gente, quando a bolha estourasse. No resto do mundo foram muitos os críticos, como os economistas “austríacos” do Mises Institute, ou Christopher Woods, estrategista do CLSA e autor de Greed & Fear, carta semanal aos seus clientes. O senador Ron Paul foi outro que acusou a irresponsabilidade de Greenspan muito antes de a bolha explodir. Na frase da epígrafe, o ex-candidato à presidência americana ridiculariza a fé tola nos poderes do Banco Central.

Essa crença nos poderes “mágicos” do Banco Central talvez seja um dos maiores indícios de irracionalidade dos tempos modernos. Em outro artigo meu intitulado O Templo, de 2006, comentei o livro A Term at the Fed, do ex-governador Laurence Meyer. Eis como começo: “A concentração de poder em poucas mãos sempre irá representar um enorme risco para os indivíduos. Isto não é diferente quando o assunto é economia. Por tratar-se de um campo com um jargão muito técnico, os leigos acabam vendo certas figuras como ‘sábios clarividentes’, delegando a esses as rédeas de toda a economia. Entretanto, não devemos esquecer que são apenas humanos sujeitos às falhas comuns da espécie, além de pressões externas e busca de interesses próprios”.

Infelizmente, muitos esqueceram essa lição, e durante a fase de bonança, Greenspan foi eleito o “Maestro” capaz de garantir a continuidade eterna da festa. Pior para ele que viveu o suficiente para ver o fim da festa, e está na defensiva tendo que se justificar. É uma pena que lhe falte mais coragem para assumir o verdadeiro erro, que foi ter se afastado de suas crenças antigas, seduzido pelo poder. Isso não iria apagar o passado, mas ao menos daria mais dignidade a ele nesse fim de vida. Se ele fizesse isso e se existisse vida após a morte, ao menos ele poderia reencontrar Ayn Rand com a cabeça erguida.

Pedro Cardoso e o "Manifesto contra a Pornografia"

por Nemerson Lavoura no Resistência

"Sou contra a censura externa, mas a favor do super-ego. Quando ele falha, o estado fica tentado a agir. E o estado é sempre o intrumento da facção política que está no poder. É muito perigoso ceder ao estado a censura que deve caber a nós mesmos"


Um artista brasileiro dizendo isso? Será que eu estou sonhando?

Não, o parágrafo acima realmente saiu da boca de um artista do Bananão - de um (ótimo) ator, mais precisamente. Pedro Cardoso, o ator em questão, escreveu um "manifesto" contra a pornografia gratuita nos filmes nacionais, o que por si só, em se tratando de Bananão, demanda grande coragem. E Cardoso ainda dá um baile no jornalista canalhinha que tentou de todas as formas desmoralizá-lo em uma "entrevista" para o site do Globo. Boa, Pedrão!

A dica da entrevista é do Luís Afonso, que destacou este ótimo trecho:

Repórter pôgreçista: Essa discussão sobre a exploração da pornografia aconteceu no exato momento em que um professor de literatura foi afastado da Escola Parque por ser autor de poesia erótica. Comenta-se que você estava entre os pais que reagiram a isso. Qual a sua posição em relação a esse episódio?

CARDOSO: Não sei em quê este assunto tem a ver com o meu. A intenção da sua pergunta me parece ser a de sugerir ao leitor que eu sou um moralista puritano que poderia mesmo ter perseguido esse professor. Boa tentativa, mas a acusação é improcedente. Reproduzo mais um trecho do texto do Odeon: "A quem se afobe em me acusar de moralista, peço antes que procure conhecer o meu trabalho em teatro e que assista ao filme desta noite. Nele, assim como algumas vezes no teatro, tratei, junto com meus colegas, de assuntos bem distantes de uma moralidade puritana. Quem for me acusar, tente primeiro perceber a diferença entre a liberdade para tratar de qualquer assunto e a intenção de usar qualquer assunto para difundir pornografia usando a liberdade de costumes para disfarçá-la de obra dramatúrgica". Eu não conheço a obra poética do professor, a decisão de demiti-lo foi da escola, e ela não quer se pronunciar. Eu não vou tecer comentários baseados em suposições ("comenta-se") vagas que você está fazendo. As razões para a demissão dele, assim como para sua contratação, devem ser perguntadas à escola. Agora, acredite, é minha obrigação de pai saber quem diz o que para minha filha dentro da sala de aula e saber que livros escolhe para que ela leia. Caso este assunto verdadeiramente te interesse, informe-se melhor. E acredite (não sei se você tem filhos, mas se tiver vai me entender muito bem): num mundo confuso como este nosso, estamos bem sozinhos para olhar por eles.

Ambiente mal assombrado

por João Luiz Mauad no Mídia Sem Máscara

Há por aí uma cambada de caras-de-pau que tem a ousadia de chamar esse verdadeiro pandemônio econômico em que vivemos de “Modelo Neoliberal”. E pior: há quem acredite nisso. Eu, que me satisfaço com pouco, ficarei contente no dia que o Brasil alcançar o estágio de país capitalista.

O Banco Mundial (http://www.doingbusiness.org/ ) divulgou este ano o sexto relatório sobre o ambiente de negócios no mundo, e o Brasil, para não perder o hábito, ficou perto das últimas colocações – mais precisamente, na 125ª posição, entre as 181 economias pesquisadas. Esse levantamento é baseado na análise quantitativa e qualitativa de 10 diferentes aspectos ligados ao ambiente institucional de negócios, com destaque para a burocracia envolvida na abertura e fechamento de empresas, licenciamentos governamentais, contratação de mão-de-obra – principalmente os encargos relacionados à admissão e demissão de pessoal –, registros de propriedade, acesso ao crédito, segurança jurídica dos empreendedores, pagamento de impostos (carga tributária e burocracia envolvida), facilidades (dificuldades) de comércio com o exterior e respeito aos contratos.

Muitos membros do governo petista – bem como o presidente Lula – têm reclamado dessas análises, alegando que elas não representam a realidade econômica do país e que se baseiam em dados defasados e/ou tendenciosos. Qualquer empresário que já arriscou abrir um negócio no Brasil, no entanto, sabe que os resultados encontrados pelo Banco Mundial, se não são exatos, estão muito próximos da realidade.

Tocar qualquer empreendimento em Pindorama é algo comparável a um filme de suspense e terror, em que uma multidão de fantasmas e vorazes monstros de toda espécie, comandados pelo funesto Leviatã, estão sempre à espreita, ansiosos para abocanhar a maior parte dos lucros e prontos a opor obstáculos de toda ordem no caminho dos intrépidos (talvez melhor fosse dizer estúpidos) empresários.

Exemplos abundam. Vejam o caso da Aquamare: a empresa, fundada por empreendedores brasileiros, patenteou um processo de purificação de água do mar, baseado em nanotecnologia, através do qual se consegue manter o controle dos sais minerais durante a dessalinização da água. Isso quer dizer que os cientistas produziram água mineral – rica em boro, cromo e germânio, elementos abundantes nos oceanos e dos quais o corpo humano necessita em pequenas quantidades – a partir da água do mar.

Para tornar possível a empreitada, foram investidos pelos sócios, de acordo com o jornal Valor Econômico, a quantia aproximada de US$ 2 milhões na pesquisa e desenvolvimento do produto, apelidado de “H2Ocean”. No início, o objetivo era comercializá-lo no Brasil, mas, infelizmente, o projeto teve que ser alterado, já que não foi possível vencer os fantasmas da burocracia tupiniquim e sua aversão a tudo o que diga respeito à inovação.

Em 2006, a empresa solicitou a licença para engarrafar e comercializar o produto no território nacional. O registro foi recusado sob a alegação de que não havia no país legislação específica sobre a matéria. Inconformados, os empresários fizeram uma segunda tentativa, pedindo esclarecimentos sobre o que deveria ser feito para resolver o problema. A resposta veio quatro meses depois, indicando – pasmem! – que a empresa deveria “importar” uma legislação sobre o assunto, ou seja, apresentar, “preferencialmente por intermédio de uma associação de classe, proposta de regulamentação para avaliação pela ANVISA”. Em resumo, eles deveriam fazer o trabalho da agência, uma vez que, provavelmente, deve faltar pessoal por lá para realizá-lo.

Como tempo é dinheiro, especialmente quando se tem um bom produto em mãos, a Aquamare resolveu alterar sua estratégia, e partiu em busca de novos mercados. A opção foi então os EUA. Perceba, amigo leitor, pelo testemunho de um dos sócios ao jornal, a diferença de tratamento, aqui e acolá: “O registro [nos EUA] da empresa saiu em três horas e a água foi analisada em 15 dias. Conseguimos resolver em três meses tudo o que não conseguimos aqui em quatro anos”. (E ainda há quem não saiba por que eles são ricos e nós somos pobres).

A comercialização da “H2Ocean” estava prevista para começar em agosto último, inicialmente em três estados norte-americanos – Flórida, Nova Jersey e Georgia. A fabricação para exportação ainda continua em Bertioga, no litoral sul de São Paulo, mas em breve a fábrica deverá ser desativada e transferida para os EUA. Evidentemente, eles já perceberam que é muito mais fácil, barato e, conseqüentemente, lucrativo fazer tudo por lá.

Mas não pense o leitor que as dificuldades residem só na abertura de empresas e na obtenção de registros e licenças. Depois de funcionando, os problemas enfrentados costumam ser ainda piores, principalmente quando o assunto é segurança jurídica.

Vejam, por exemplo, este inusitado processo enfrentado por um restaurante em Blumenau, SC. O estabelecimento foi multado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial (Inmetro) pelo sacrilégio de cobrar pela espuma, também conhecida como “colarinho”, contida no chope servido aos clientes. Segundo o fiscal responsável pela autuação, “a quantidade de espuma deveria ser desconsiderada”, para efeito de cálculo do preço a pagar. (Eu sei: seria cômico se não fosse trágico!)

Pois bem: os donos do restaurante recorreram da multa e, para espanto geral, a Justiça Federal de primeira instância manteve a estrovenga. Somente em grau de recurso, depois que a empresa gastou uma pequena fortuna com advogados e custas judiciárias, a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu anular a absurda penalidade. Em suma, foi preciso que a matéria fosse parar no colo de um desembargador com um mínimo de discernimento, para que a justiça chegasse à conclusão de que “o colarinho integra a própria bebida”, sendo parte do próprio produto.

Parece até filme de terror, não é mesmo? Eu juro que preferiria enfrentar o Alien, o Jason Voorhees e o Freddy Krueger, juntos, do que a burocracia tupiniquim.

Sobre o esquecimento da liberdade

no Ação Humana

Liberty is not collective, it is personal. All liberty is individual liberty.
Calvin Coolidge


Muitas vezes perdem (os indivíduos) a liberdade porque são levados ao engano, não são seduzidos por outrem mas sim enganados por si próprios. Assim, o povo de Siracusa, cidade capital da Sicília, denominada hoje Saragoça, apertado pelas guerras, sem olhar a nada a não ser o perigo, elevou ao poder Dionísio Primeiro e entregou-lhe o comando do exército. Tantos poderes lhe foi dando que o velhaco, uma vez vitorioso, como se tivesse triunfado não sobre os inimigos, mas sobre os cidadãos, subiu de capitão a rei e de rei a tirano. Incrível coisa é ver o povo, uma vez subjugado, cair em tão profundo esquecimento da liberdade que não desperta nem a recupera; antes começa a servir com tanta prontidão e boa vontade que parece ter perdido não a liberdade mas a servidão.

É verdade que, a princípio, serve com constrangimento e pela força; mas os que vêm depois, como não conheceram a liberdade nem sabem o que ela seja, servem sem esforço e fazem de boa mente o que seus antepassados tinham feito por obrigação. Assim é: os homens nascem sob o jugo, são criados na servidão, sem olharem para lá dela, limitam-se a viver tal como nasceram, nunca pensam ter outro direito nem outro bem senão o que encontraram ao nascer, aceitam como natural o estado que acharam à nascença. E todavia não há herdeiro tão pródigo e desleixado que uma vez não passe os olhos pelos livros de registros, para ver se goza de todos os direitos hereditários e se não foi esbulhado nos seus direitos, ele ou o seu predecessor. Mas o costume, que sobre nós exerce um poder considerável, tem uma grande orça de nos ensinar a servir e (tal como de Mitrídates se diz que aos poucos foi se habituando a beber veneno) a engolir tudo até que deixamos de sentir o amargor do veneno da servidão.

Não pode negar-se que a natureza tem força para nos levar aonde ela queira e fazer a nós livres ou escravos; mas importa confessar que ela tem sobre nós menos poder do que o costume e que a natureza, por muito boa que seja, acaba por se perder se não for tratada com os cuidados necessários; e o alimento que comemos transmite-nos muito de seu, faça a natureza o que fizer. As sementes do bem que a natureza em nós coloca são tão pequenas e inseguras que não agüentam o embate do alimento contrário. Não se mantêm facilmente, estragam-se, desfazem-se, reduzem-se a nada. Como acontece com as árvores de fruto, possuidoras de uma natureza própria que conservarão enquanto as deixarem; mas passarão a ter outra e a dar frutos estranhos, não os delas, a partir do momento em que sejam enxertadas.

Excerto extraído do livro Discurso da Servidão Voluntária, de Etienne de La Boétie.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Noite de autógrafos de Reinaldo Azevedo em Campinas

Foi uma noite interessante. Reinaldo falou durante algum tempo sobre seu livro, seu trabalho, e respondeu a algumas perguntas da platéia que, surpreendentemente, contava com vários jovens. Não deixa de ser confortante imaginar que existem aqueles que não se deixam levar pelo discurso fácil da esquerda tão cedo. É claro que tive que tirar uma casquinha e consegui uma foto junto dele.





terça-feira, 21 de outubro de 2008

A morte do capitalismo?

por Conde


A crise atual na economia americana implica discussões apaixonadas entre os liberais e os socialistas. O ocaso da bolha imobiliária e, ao mesmo tempo, a quebra de vários bancos americanos, suscitam novas discussões sobre a necessidade ou não de intervenção estatal na economia. Interessante notar que esses debates já ultrapassaram as questões acadêmicas de economia há um bom tempo. A discussão em si não é técnica. Ela tem elementos morais, políticos e ideológicos, que influenciam, e muito, os destinos da economia mundial.

O que está em jogo nessa discussão? A salvação da economia americana? O resgate dos bancos? A restituição dos credores? A recuperação da economia mundial? Penso que não. O que está em jogo, basicamente, é o sistema político e econômico de liberdades e propriedades que mantém as democracias em pé. Os arautos anticapitalistas, os milenaristas marxistas de plantão, já estavam decretando antecipadamente o “eschaton”, a morte do capitalismo e, em particular, do “neoliberalismo”. Se atentarmos aos apelos contra o livre mercado na ótica destes apocalípticos, há na sua proposta uma tendência perigosíssima de um completo agigantamento da burocracia estatal, como se esta fosse a fiel salvadora da economia capitalista. Não deixa de ser patética essa hipótese, pois quase todos eles sentem uma dolorosa saudade do falecido e criminoso modelo soviético. Um amor que não ousa dizer o nome. . .

É curioso perceber que a falácia da burocracia voluntariosa e salvadora é um lugar-comum nos comentários de jornalistas, economistas e acadêmicos, como se a existência mesma do livre mercado fosse uma corrupção moral tolerável dentro dos limites da benevolência do Estado. A crise de 1929 é o espantalho destes notórios profetas, relembrando a figura do New Deal e de Roosevelt como salvadores do malvado e corrompido capitalismo norte-americano. Este mito, forjado nos anos 30, não deixou de ter um dedo da União Soviética, já que muitos tecnocratas da administração Roosevelt eram francamente stalinistas, fanáticos estatólatras. Aliás, a idéia da burocracia voluntariosa e sábia chegou a ser uma mania daqueles tempos. É paradoxal que eles exaltassem as medidas de planejamento centralizado bolchevista, quando na mesma época, a União Soviética experimentava o maior surto de fome e miséria de sua história, com a coletivização das terras na Ucrânia. Tragédia que custou a vida de milhões de ucranianos pela fome e reduziu o país ao canibalismo. Em suma, a desproporção, além de desonesta, é paranóica.

É desonesta e paranóica porque falsifica a compreensão histórica do século XX. Se há algo que se tem de rememorar no Estado contemporâneo é o de ser organismo mais destrutivo que se tem notícia. As piores crises econômicas do capitalismo foram justamente causadas pela intervenção estatal. Aliás, se há algo que o Estado fez, em todo o século passado, foi criar problemas inexistentes para depois presumir resolvê-los. Estranha metodologia, porém, perfeitamente compreensível, em parte, pela idéia mítica do Estado engenheiro social e de uma sociedade lapidável, tal como uma argila de um oleiro. O governo intervém na economia e na sociedade civil em nome de resolver seus problemas. Quando ele não os resolve, ou mais, piora os males, exige mais burocracias e, em nome disso, mais poderes sobre a sociedade civil. E cada vez mais, o Estado destrói a vitalidade, a espontaneidade, a capacidade criativa da sociedade, para tornar tudo sumariamente coercitivo, compulsório, forçado. É espantoso que o processo seja um circulo vicioso, uma espécie de louca autofagia. E além de não resolver os velhos problemas que se propõe, o Estado cria outros novos, inexistentes, até o dia em que a sociedade definha.

Não é novidade, para os mais estudiosos, que a crise de 1929, como a crise atual, tem no Estado o seu maior responsável. Todavia, o espírito totalitário e idolátrico do Estado parece bem vivo na mente de muitas pessoas, como atávicas a um processo de servidão. É estranho bradar a crise de 1929 como o pecado original do capitalismo liberal, quando na verdade, seus diletantes escamoteiem os fracassos (e por que não dizer, crimes?) da economia estatal planejadora. Isso porque há de se recordar, a crise de 1929, como a crise americana atual, é pecado original do espírito planejador do Estado.

Uma boa parte dos que aderiram ao discurso de morte do capitalismo tem o espírito stalinista dentro de seus devidos corações. São as viúvas do Muro de Berlim, os nostálgicos da Gosplan soviética da vida, amantes naturais da ditadura comunista chinesa, cubana e norte-coreana, que odeiam o sistema de liberdades civis, no qual os americanos representam seu maior símbolo. Nesta lista entram os fracassados caudilhos cripto-comunistas, os Chavez, os Morales da selva latino-americana , junto com seus adeptos cretinos do fracasso permanente, que de tão permanente, acabam se tornando um sucesso insistente de público. São verdadeiros fantasmas brigando contra a realidade viva. Até porque o livre mercado e a propriedade privada são garantias materiais para as liberdades civis que o ocidente usufrui. São essas instituições que preservam os direitos individuais, sem os quais, o Estado controla tudo e a sociedade é subjugada. São, em suma, garantias para o progresso natural da economia. O resto é conversa mole!

Esta crise é mais um colapso gerado pelo capitalismo?

via Austríaco
O texto abaixo foi enviado para um professor que solicitou as minhas considerações sobre o distúrbio econômico planetário.



Caro Professor,

Conforme provocado, eu estava lendo os jornais de fim de semana, e constatei que todos os editoriais afirmam compulsivamente o clássico chavão: a crise é do capitalismo!

Na esteira disso, significa aquela história bem conhecida: o livre mercado é em si gerador compulsivo de surtos irracionais de crescimento, euforia, motivado pela ganância dos homens que conduz a uma situação insustentável que, para corrigi-la, somente a ação do bem-feitor desta humanidade egoísta: o nosso velho amigo Estado.

Surpreendentemente (nem tanto, confesso), é que TODOS, jornalistas, economistas, burocratas, artistas, jogadores de futebol, atrizes pornôs e por aí vai, repetem esta estória falssíssima. Porém, uma leitura, mesmo que rápida, nos escritos dos economistas austríacos, começando por Ludwig von Mises num de seus tratados de 1912 (veja, 1912!) verifica-se que a grande causa das crises econômicas como a de 1929 e esta que estamos vivendo é fruto não do liberalismo econômico, da ganância dos investidores, mas sim do intervencionismo estatal, ou seja, da ausência de liberalismo econômico.

Explico: os economistas austríacos notaram que quando o governo injeta moeda em excesso na economia - e ele tem vários meios para fazer isto, seja imprimindo moeda papel, seja gastando mais que arrecada, seja baixando os juros a canetaço - ele estará emitindo sinais para os agentes econômicos de que existe mais poupança para investimento do que a realmente existente (existe uma lei econômica que revela que sem poupança não existe investimento). Portanto, estas intervenções estatais têm um influente poder de decidir os rumos da economia. Basta os burocratas usarem a máquina. O problema é que estas medidas artificiais de impulsionar o crescimento trazem consigo um custo altíssimo. Injetar moeda na economia é como dar álcool para o alcoólatra. No inicío gera euforia; se insistir, resultará numa cirrose hepática, para dizer o mínimo.

É o que ocorre quando o governo injeta moeda no sistema econômico. No início mais pessoas têm acesso ao crédito, o dinheiro fica barato, projetos de investimentos que antes da política artificial eram inviáveis, agora se tornam viáveis. O cálculo econômico utilizado pelos investidores, sinaliza que os planos de investimentos em unidades de produção devem ser levados a cabo. Todos correm em busca de crédito, pois ele existe e está barato, e inicia-se uma fase de expansão. Mais empregos, consumo e riqueza são gerados. O problema, é que se o governo levar adiante esta medida, em breve haverá um impulso inflacionário. E aí se ficar o bicho pega, se correr o bicho come. Se o governo insistir na expansão monetária, a moeda começa a perder o seu valor, e os agentes começam a "ver" que os preços estão subindo a cada dia. Aumenta a incerteza, vem o pânico. Em suma, dar mais álcool ao bêbado, levará ele ao coma ou à morte. Então, o governo se vê obrigado a aumentar os juros, a adotar políticas restritivas. E o quê, na prática, isto representa: aumento dos juros, menos gasto público, menos tinta na impressora da casa da moeda.

Estas medidas, por seu lado, simplesmente anunciam aos investidores que seu projetos anteriormente iniciados se revelaram inviáveis, que simplesmente não são mais lucrativos. Começa um período de demissões e quebradeira. A expansão inicial se transforma em crise e depressão.

É isto o que ocorreu em 1929 e é precisamente isto o que está ocorrendo agora. Nada de crise do capitalismo ou das "forças irracionais do mercado". É a mais estrita crise das forças irracionais do Estado intervencionista. De novo e sempre!

Dizer que os economistas foram incapazes de prever mais esta crise, como todos alardeiam por aí, é ignorância e prepotência de classe. Os economistas austríacos, para quem acompanha o site http://www.mises.org/, vem insistentemente, ao longo dos últimos tempos, anunciando que o artificialismo gerado pelo FED desde 2003 estava com os dias contados. Que a crise em breve viria. Mas quem dá ouvidos à economistas que defendem o Estado mínimo; que exigem a ausência total dos tentáculos do Estado operando no sistema econômico? Imagina quantos poderosos encastelados nos governos e na ONU estariam desempregados se fosse dado ouvidos aos economistas austríacos!

Por fim, veja que intessante e elucidativo este esquema aqui: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=168

E se tiver um interesse geral, este guia da crise é muito revelador: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=162

Até meses atrás só quem lia inglês tinha acesso à estes textos. Graças ao esforço de alguns guerreiros, agora, nós brasileiros, estamos tendo acesso à eles via o site do Mises Brasil. Mas mesmo assim, é imperdoável ver "especialistas" dizer que ninguém previu a crise, ou o que é ainda pior: que a crise é do liberalismo econômico ganancioso. Bela empulhação.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Peter Schiff e Bill Poole na CNN (14/10/08)

O Estado da Crise

por de Luciano Amaral
via O Insurgente


Vale a pena começar pelo início: esta é uma crise financeira e bancária, e o sector é provavelmente o mais regulado e intervencionado pelo Estado dos sectores privados. É um sector cujo “produto” (o dinheiro), em primeira instância, é produzido em condições de monopólio pelo Estado, o qual, de resto, define o seu preço arbitrariamente. É também um sector cujas empresas dependem de autorização discricionária do Estado: não se abre um banco como uma loja de ferragens; é o Estado quem autoriza a sua abertura e quem define as condições de operação, impondo regras e regulação muito estritas. Mais: toda a regulação bancária conduz a uma intervenção constante do Estado. Nos EUA, por exemplo, o problema do subprime tem origem em décadas de uma política habitacional cujo objectivo foi garantir a propriedade de uma casa para o maior número, mas através de uma curiosa forma de “desorçamentação”: em vez de o dinheiro sair das contas públicas, passou a sair do mercado de capitais, onde as operações das instituições financeiras eram “garantidas” por entes públicos ou semi-públicos. Mas não se trata de um exclusivo americano: com métodos diferentes, todo o mundo ocidental seguiu a mesma ideia. Não admira, por isso, o trânsito de pessoal entre instituições financeiras e públicas. Hank Paulson é já o segundo secretário do Tesouro vindo da Goldman Sachs. Mas, mais uma vez, não se trata de um exclusivo americano.

Se dependessem apenas das contas públicas, os Estados ocidentais praticamente não conseguiriam fazer políticas sociais. Caso se aplicassem as regras actuariais privadas aos Estados, a Bélgica, a Itália ou o Japão já teriam falido muito antes da Lehman Brothers. Vale a pena perguntar: é o fim do “ultra neoliberalismo” (que ninguém sabe o que seja) ou do Estado-Providência como o conhecemos?

Killing the American Dream

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A crise do intervencionismo

Por Diogo Costa no Ordem Livre

Jornalistas, políticos, e intelectuais estão sempre prontos a fazer do liberalismo o bode expiatório de problemas reais ou imaginários. É o que vem acontecendo com a crise do sistema financeiro que endividou os americanos em U$700 bilhões. Para muitos a lógica é simples: "há livre mercado: logo, haverá crise". Usam então diversas analogias para colorir uma conexão simplista. Mas a verificação dos fatos revela que o mercado imobiliário americano não operava em plena liberdade, e sua interpretação correta explica a responsabilidade do governo pelos maus investimentos sistemáticos que culminaram na tempestade econômica atual. Longe de ser uma crise da teoria liberal, essa é uma crise da prática intervencionista.

Quem está acostumado com a literatura liberal não se surpreende quando o título de um artigo do Washington Post afirma que "O bailout aumenta o valor de mercado dos liberais". De fato, os liberais – ou libertários, como são chamados nos Estados Unidos – já previam as conseqüências negativas da expansão do crédito imobiliário por meio de legislações como o Community Reinvestment Act, políticas do Fed e, sobretudo, pela ação de Freddie Mac e Fannie Mae no mercado secundário. Um governo que cria, mantém, e oferece garantias para uma empresa que diz ser sua missão "aumentar o fluxo dos fundos de financiamento da casa própria" acima do nível do mercado dificilmente pode alegar total inocência quando esse fluxo ultrapassa o financeiramente responsável.

A semi-privatização de Fannie e Freddie com a garantia implícita do socorro federal nunca enganou os liberais. Em 1995, quando Fannie Mae ofereceu uma doação de 100 mil dólares ao Cato Institute, uma das principais organizações liberais dos EUA, ouviu um "não, obrigado", porque o Cato não aceita dinheiro de governos.

Naquele mesmo ano o congresso americano fortaleceu o Community Reinvestment Act, pressionando os bancos a fazer empréstimos mais arriscados para famílias de baixa renda, e autorizou Fannie e Freddie a securitizar empréstimos subprime. Em 1996, ficou estabelecido que 12% dos financiamentos deveriam ser destinados a pessoas de baixa renda. Em 2008, essa parcela já havia sido esticada para 28%.

Um banco que a princípio evitaria empréstimos para pessoas com um histórico de crédito ruim teria mais incentivos para assumir o risco desses empréstimos caso pudesse repassá-lo para Fannie e Freddie. E havia mais incentivos para investir nas duas empresas porque os investidores teriam seu risco diminuído pela garantia estatal, tão implícita em Fannie e Freddie quanto a palavra "Federal" em suas iniciais. Ainda em 2004, um estudo do economista Lawrence White alertava para o problema:

"De um lado, a garantia faz com que as taxas de juros de muitos financiamentos de casa própria sejam mais baixas do que seriam; de outro, seu tamanho e modo de operar criaram uma imensa responsabilidade financeira para o governo federal e, em última instância, para os pagadores de impostos. Além disso, seu tamanho e proeminência vêm gerando preocupações quanto às conseqüências que as dificuldades financeiras de qualquer uma delas podem ter na economia americana".

A advertência foi ignorada e, apenas de 2004 a 2006, as duas empresas compraram 434 bilhões de dólares em títulos garantidos por financiamento subprime.

Agora, políticos, burocratas e executivos que aumentaram a bolha corporativista exigiram dos cidadãos americanos ainda mais poder e um crédito bilionário, o que apenas obstrui o necessário processo de auto-ajuste do mercado. Como disse o Professor da Harvard Jeffrey A. Miron: "o fato de que o governo é enormemente responsável pela crise atual significa que qualquer resposta deveria primeiro eliminar as condições que criaram a situação, não tentar consertar o governo ruim com mais governo".

A primeira derrota do plano de socorro foi desdenhada por seus defensores como uma vitória do "populismo liberal". Mas o interesse disperso da sociedade raramente é páreo para os interesses concentrados que se realizam pelas vias políticas. Alimentar Wall Street com dinheiro de impostos também não é liberalismo. O livre mercado é um sistema de lucros e perdas, o que permite que a sociedade faça o uso mais inteligente e benéfico dos seus recursos. Socializar as perdas é montar, como dizem os liberais, um cristianismo sem inferno.

Se os críticos da liberdade econômica acertam em seu diagnóstico de que a ajuda financeira do governo americano representa um maior distanciamento do liberalismo, eles não poderiam estar mais errados quando sugerem que essa ajuda indica um fracasso de políticas liberais. A atual crise é mais um exemplo das exceções intervencionistas que confirmam o bom funcionamento de uma sociedade livre.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Explicando os Bancos Centrais

Alma fascista

por Reinaldo Azevedo

Qual é a coisa mais detestável na visão de mundo dos petistas? Eles não reconhecem individualidades. Eles respeitam, por exemplo, mulheres, negros ou gays? Ah, sim: desde que “a” mulher, “o” negro e “o” gay sejam militantes de uma causa, integrem uma corporação, pertençam a um grupo. O sujeito só ganha direito à respeitabilidade se for membro de uma coletividade e se subordinar, claro, às regras do partido. Foi assim que Dona Marta Suplicy se tornou, no Brasil, uma espécie de porta-voz dos direitos civis dos homossexuais. Era, de fato, um engodo. Agora, se preciso, ela apela à discriminação mais odienta, usando tal condição como xingamento, pouco importando se o alvo da agressão é ou não o que ela diz ser. Abro parênteses:

Parênteses

Vejam como são as coisas... O PT estava na oposição em 1988. Era considerado a grande esperança — não mais por mim, já fazia tempo!!! — de justiça social e de respeito às diferenças. O roqueiro Cazuza, já perto do fim, expressava uma opinião um tanto desoladora do país na música O Tempo Não Pára:

“Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro,/
Transformam o país inteiro num puteiro/
Pois assim se ganha mais dinheiro...
A tua piscina tá cheia de ratos/
Tuas idéias não correspondem aos fatos/


Há, no que vai acima, a ingenuidade que combina com o rock, o que não quer dizer que não se diga um tanto de verdade.

Volto

Indivíduos não têm importância para o petismo. Uma pessoa só ganha direito à existência se pertencer a uma categoria. A pessoa é negra? Há que ser um “negro profissional”, assumir o discurso do “oprimido” e ver o mundo a partir dessa ótica. O PT lhe cassa o direito de ser, digamos assim, um humano “neutro”, comum, sem uma causa — como é a maioria de nós.

De fato, no mundo dos petistas, não há pessoas, mas grupos com demandas. É a sociedade organizada em corporações — sejam as de ofício, sejam as de supostas máculas sociais. O PT tem, em suma, uma alma fascista.

Vinte anos depois

Passaram-se vinte anos desde aquela música de Cazuza. O PT está no poder. Então já se pode cantar, agora que eles MUDARAM O MUNDO:

“Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro,/
Transformam o país inteiro num puteiro/
Pois assim se ganha mais dinheiro...
A tua piscina tá cheia de ratos/
Tuas idéias não correspondem aos fatos...


Bem ou mal, eu e Marta Suplicy pertencemos à mesma espécie, não é? Sinto por ela a vergonha que lhe é impossível sentir por si mesma.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa

por Gravataí Merengue, no Imprensa Marrom

Não é de hoje que há um policiamento por parte da chamada petistosfera (que não são exatamente os petistas, mas sim aqueles que fazem parte de grupinhos ligados a candidatos ou sindicatos ou a ambos).

Na hora da raiva, há uma troca de farpas e a famosa briga de torcidas, mas, no fundo, é triste ver que a maioria não aceita a divergência de idéias sem colocar em dúvida a integridade moral de qualquer adversário.

Por isso, em vez de atacar a honra ou coisa que o valha, parti para o humor. Fiz uma pequena demonstração do "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa" nos mais variados tópicos. Vocês já devem ter visto muito disso...

Direita x Esquerda
Kassab é a "ARENA", pois é do DEM que, poxa!, era o PFL! – e isso significa que ele é o candidato "da direita" e é "contra a democracia" (nessa hora, toca alguma música de fundo e aparece o pessoal com a cara pintada abraçando algum monumento).

Marta, que governou quatro anos com o PP (OFICIALMENTE, o herdeiro da ARENA) e, em 2004, fez campanha no segundo turno com Maluf, não representa nada disso! O Governo Federal tem o PP no ministério e o mesmo PP recebeu Mensalão. Mas que nada!

Votos dos "Pobres"
Quando Maluf conseguia votações expressivas na periferia na cidade, a explicação petista era a de que o povo, mal informado, se deixava levar pelas promessas populistas do candidato. Além disso, era enganado por programas assistencialistas.

Marta venceu Kassab na periferia. Eles dizem que foi uma "goleada" (na verdade, foi 50 a 42%) e atribuem a vitória a uma percepção política do eleitorado que sofre as piores mazelas e quer mudar-tudo-isso-que-está-aí.

Preconceito
Quando Erundina foi eleita, em 1988, ou mesmo Marta, em 2000, os petistas afirmaram que São Paulo finalmente saiu da era medieval e superou seu preconceito. Já neste ano, com as primeiras pesquisas, diziam que era um bom sinal essa mudança da posição conservadora da cidade.

Com a votação maior de Kassab no primeiro turno, um dos fatores alegados é o conservadorismo paulistano. Importante: Lula, do PT, obteve sua maior votação exatamente nos rincões mais conservadores do Brasil, naqueles em que há defesa ardorosa da pena de morte, repúdio total à legalização do abordo e religiosidade ferrenha. Mas, enfim, São Paulo é que é uma cidade "preconceituosa", vocês sabem...

Corrupção
Se algum partido adversário é pego com a boca na botija, imediatamente, o PT exige todo tipo de investigação e tratam do caso com o maior alarde, repercutindo de todas as formas possíveis e imagináveis, inclusive repetindo opiniões.

Quando o escândalo é do próprio PT, os petistas NUNCA TRATAM DO CASO CONCRETO, mas sim da abordagem da imprensa, quase que a culpando pela "forma desigual" com que tratam escândalos parecidos. Em alguns casos, acham um absurdo que isso tenha aparecido "justamente na época da eleição", ou então dizem que é "requentado" – enfim, fazem qualquer coisa que os desonere de comentar o caso em si.

Alianças
Se o PSDB se alia ao DEM, é sinal de que firma um pacto com o demônio e está a serviço da destruição do planeta, do universo e da vida. Toda e qualquer aliança feita por um adversário é vista e tratada como algo espúrio, péssimo, ruim e inaceitável.

Quando o PT se alia a partidos como o do Maluf (PP) ou a pessoas como o próprio Maluf ou Collor, Pitta, Renan Calheiros, Roberto Jefferson, Clodovil e alguns outros, isso se justifica pelo fato de que é necessário para a "governabilidade" e para realizar uma gestão "em prol do povo". Com Mensalão e tudo.

Eleição Municipal x Nacional
Se está vencendo, ou de fato vence uma corrida municipal de grande porte, o PT prova por A + B que o resultado "pavimentará" as próximas eleições nacionais e estaduais. É fatura líquida.

Quando não ganham, ou não estão no caminho da vitória, os MESMOS QUE DISSERAM ISSO MUDAM O DISCURSO TEÓRICO! Alegam que a importância, no plano nacional, é relativa e assim por diante. Não, eu não estou brincando.

Pesquisas
Se o PT está na frente, elas são confiáveis e quem reclama é mau perdedor. Simples assim.

Mas quando outro candidato aparece na frente, até ministro de Estado fala contra os institutos, alegando que não é bom confiar nas pesquisas. Baixando sobremaneira o nível hierárquico de importância existencial, houve comentarista de blog dizendo que as pesquisas "erraram feio". Não, não erraram. Ficaram MUITO próximas da realidade, ao menos em São Paulo.

Blogs
Todo e qualquer blog que elogie o PT e xingue seus adversários é aplaudido e tratado como bacana. Não importa se erra, não importa se exagera, não importa se carrega na tinta. Nada disso, enfim, é levado em consideração. O dono trabalha para o PT? Ninguém liga. Tem empresa que presta serviços para campanhas e gestões? Ninguém liga. Há ligações financeiras ou profissionais com o partido ou algum integrante? Passam batido. TODOS OS POSTS SÃO FAVORÁVEIS AO PT OU CONTRA SEUS ADVERSÁRIOS. E os blogs são aplaudidos pela massa.

Mas um outro blog cuja maioria dos textos seja contra o PT, ainda que um ou outro também tire sarro dos adversários, ah!, esse tá lascado. É um vendido! Não presta! É um panfleto! Não tem pluralismo! Não dá "o outro lado". É "como aquele outro". E assim por diante.

Enfim...
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa... É triste, mas é verdade. No fundo, nem é tão triste. É engraçado. Eles são uma piada. Involuntária, mas extremamente engraçada.

Evamoquevamo!

sábado, 11 de outubro de 2008

Uma imagem esclarecedora...

O Saber dos Econiomistas Austríacos

por Ubiratan Iorio
via Endireitar


O mundo financeiro está em pânico e, como sempre acontece nas crises, os palpiteiros dão plantão em jornais, programas de TV, blogs e outros canais de comunicação. Com as altas proporções da crise financeira americana, que já se espraia pelo mundo, não poderia ser diferente. As galinhas neokeynesianas e as maritacas socialistas descem de seus poleiros e ninhos para anunciar – pela milésima vez – o “fim do capitalismo”, o fracasso do mercado e a derrocada do “Império”, receitando, como sempre, mais intervencionismo do Estado na economia, ou seja, açúcar para portadores de diabete e cachaça para alcoólatras...

Seus barulhentos cacarejos e grasnidos, além de incomodarem nossos ouvidos, são, também como sempre, verdadeiras antologias de erros de avaliação e de confusão entre causas e efeitos.

A crise de hoje começou ontem, ou seja, quando o Fed manteve, por anos a fio, a taxa de juros artificialmente baixa, pensando que assim estaria, de acordo com o establishment acadêmico, estimulando a atividade econômica e perpetuando o crescimento sustentado da economia. Como é difícil lutar contra o establishment! Pois os sujeitos não aprendem com os erros do passado e se julgam os donos da verdade “científica”...

Ludwig Von Mises, em sua “Teoria da Moeda e do Crédito”, de 1912, já alertava que a prática de taxas de juros abaixo da que equilibraria a oferta e a demanda de fundos para empréstimos estimularia a economia durante algum tempo, mas provocaria inflação e desemprego no futuro. Hayek, no início dos anos 30, já vivendo em Londres, publicou “Prices and Production”, em que refinava a teoria misesiana, dando origem ao que ficou conhecido como a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, aperfeiçoada depois por outros expoentes da Escola Austríaca, mas desconhecida por 999 entre 1000 economistas, cuja formação passou a ser exclusivamente macroeconômica, por influência das idéias expostas na Teoria Geral de Keynes, de 1936 e, a partir dos anos 50, por seus seguidores, bem como até por defensores do mercado, como Milton Friedman, os economistas da Escola de Chicago e Robert Lucas e os novos clássicos.

A causa principal, a meu ver, do esquecimento a que foi relegada a Escola Austríaca foram suas recomendações para eliminar o que ficou conhecido como a Grande Depressão dos anos 30: os governos deveriam abster-se de intervir na economia, deixando funcionar o sistema de preços livremente e o mercado reavaliar os valores dos recursos! Sim, isto significaria falências de bancos e de muitas empresas, mas falências fazem parte do jogo, a não ser que os contribuintes sejam convocados compulsoriamente a sustá-las, como o governo americano, mais uma vez, pretende fazer neste momento. É o processo, inevitável, de ajustamento, em que os maus investimentos feitos no passado, baseados em expansão monetária travestida de pseudo-poupança, precisam ser eliminados. Mas isto é impopular hoje, como era impopular nos anos 30, o que levou Roosevelt a adotar as recomendações intervencionistas de Keynes, muito mais palatáveis sob o ponto de vista político.

Assim, firmou-se a idéia de que os governos deveriam controlar a demanda “agregada”, com base no “princípio da demanda efetiva” de Keynes e as corretas teses austríacas lançadas na gaveta do esquecimento, algo que nem a concessão, em 1974, do Nobel de Economia a Hayek conseguiu mudar. Desde os anos 30, praticamente todos os economistas são “keynesianos”, mesmo os monetaristas e os novos clássicos, que prezam a economia de mercado e nada têm de socialistas... Uma lástima, de conseqüências desastrosas não apenas para a academia, mas para a humanidade!

A história da crise de hoje não difere, em sua essência, daquela da Grande Depressão e foi plantada pelas políticas do Fed de manter as taxas de juros artificialmente baixas. Ora, juros baixos tornam viáveis projetos de longo prazo, cujos valores presentes são mais beneficiados do que os dos projetos de curto prazo. A construção civil, claramente, está no primeiro grupo. Assim, foi um negócio não natural, estimulado pelo governo americano. Mas, além dessa tentativa de aceleração forçada da prosperidade, as autoridades americanas imbuíram-se da idéia errada de que, se qualquer pessoa desejasse um empréstimo para comprar uma casa, o governo teria a obrigação de concedê-lo, mesmo que indiretamente, idéia que operacionalizou criando a Freddie Mac e a Fannie Mae, empresas com status jurídico cinzento, já que eram geridas privadamente e tinham capital aberto, mas sempre foram protegidas pelo Estado, com o intuito de subsidiar os empréstimos. E o mercado – que, nessas horas, não falha – antecipou corretamente que tais empresas seriam socorridas pelo Estado em caso de dificuldades. Com medidas desse tipo – taxas de juros abaixo da inflação corrente e subsídios camuflados a hipotecas – qualquer economista conhecedor da tradição “austríaca” poderia detectar, há anos, que surgiriam graves problemas futuros.

E o futuro chegou! Em meados de 2006, as empresas de construção civil sentiram os efeitos da alta da taxa de juros ocorrida e também prevista pela teoria, decorrente do cabo-de-guerra ou disputa pelo crédito, como previram, por exemplo, entre inúmeros outros, os seguintes artigos, todos encontrados em http://www.mises.org/ : Who Made the Fannie and Freddie Threat?, de Frank Shostak, de 5 de março de 2004; Freddie Mac: A Mercantilist Enterprise, de Paul Cleveland, de 14 de março de 2005; Fannie Mae: Another New Deal Monstrosity, de Karen De Coster, de 2 de julho de 2007 e How Fannie and Freddie Made Me a Grump Economist, de Christopher Westley, de 21 de julho de 2008.

No início de 2007, as empresas de financiamento imobiliário sofreram os impactos da política irresponsável do Fed, com a inadimplência das hipotecas. Em meados de 2007, a crise se transmitiu aos títulos lastreados naqueles empréstimos e, no início de 2008, a contaminação atingiu os mercados de crédito, mesmo com a reação keynesiana dos principais bancos centrais, expandindo o crédito. Neste mês de setembro, houve o colapso da centenária Lehman Brothers, a estatização da Fannie e da Freddie, a intervenção em uma das maiores seguradoras privadas (AIG) e, no momento em que escrevo estas linhas, o governo americano acaba de promover a maior intervenção já realizada em um banco naquele país, ao vender partes do Washington Mutual, cujas perdas são estimadas em cerca de US$ 30 bilhões, ao JP Morgan, que pagará US$ 1,9 bilhão por ativos do WM. Em maio último, o JP já comprara o Bear Stearns...
Em suma, o circo está pegando fogo e só há duas maneiras de tentar apagá-lo: a primeira seria deixar que o mercado o fizesse por si próprio, com as perdas, quebras e falências daí decorrentes, mas que teria o efeito de acabar com o incêndio e eliminar todas as suas causas. Exatamente o que Hayek propôs nos anos 30, mas que foi descartado pelos governos dos Estados Unidos e da Inglaterra, que preferiram apostar no pretenso remédio de Keynes.

A segunda é, naturalmente, a que o governo – ah, os governos! – de Bush preferiu, estimulado adicionalmente pelo fato de ser 2008 um ano de eleições: recorrer aos contribuintes e anunciar um plano de cerca de US$ 1 trilhão, mantendo a taxa de juros abaixo da inflação observada, já que as intervenções do Fed já não se mostram suficientes sequer para tentar reverter o irreversível, que é o ajuste de contas cobrado pelo processo de mercado. A história se repete. O cacarejar das galinhas keynesianas, o grasnar das maritacas anti-mercado e o elemento político, novamente, prevalecem sobre a racionalidade do processo de mercado.

Houve, como em qualquer período de expansão econômica, extraordinários ganhos privados, sob a batuta do Maestro Fed. Agora, na fase de contração, o regente Tesouro tenta reger atabalhoadamente a dodecafonia da socialização das perdas, diante da ameaça de pânico. Isto significará futuros aumentos de impostos para todos os americanos, os que ganharam no passado e os que nada têm a ver com o pato, além de um avanço no intervencionismo estatal na economia que, até o início do século passado, sempre foi citada como exemplo de uma economia realmente de mercado. E, pior, não apagará definitivamente o incêndio: muito pelo contrário, criará novos focos futuros.
Mas não me venham com a bobagem de atribuir a triste situação atual aos mercados ou ao capitalismo, porque ela foi provocada pelo governo! Qualquer estudante iniciado na Teoria Austríaca da Moeda e dos Ciclos Econômicos sabe disso. Mas, infelizmente, há poucos desses estudantes espalhados pelo mundo, pois nosso establishment acadêmico, desde os anos 30, vem preferindo modelar os alunos para irem a um supermercado e comprarem um quilo ou dois de PIB... É a tirania da macroeconomia, uma construção imaginária que, simplesmente, não existe no mundo real, em que não existe PIB, mas milhões de produtos, nem tampouco “a” taxa de juros, mas centenas delas, uma para cada tipo de operação e prazo.

O saber dos economistas austríacos precisa ser resgatado. Ele não curará todos os problemas, mas melhorará consideravelmente a maneira de encarar a economia do mundo real. E, conseqüentemente, melhorará a nossa vida.