sábado, 22 de novembro de 2008

Neopatrimonialismo racista

no Resistência

Diz o chavão que no Brasil tudo acaba em samba. Mentira, é claro: muita gente por aqui detesta qualquer tipo de batucada. Mas há, sim, algo de que todo brasileiro gosta: benesses do Estado. Conseguir uma bocada paga com dinheiro público é o verdadeiro esporte nacional, mais popular até que o futebol, ao qual a população da Terra dos Papagaios se dedica com um afinco que ela não costuma demonstrar por mais nada - excetuando-se, talvez, o carnaval e o futebol. Tudo aqui acaba em boquinha.

O patrimonialismo - esta mania de tratar o estado e a coisa pública como se fossem propriedade particular - é o fenômeno atávico subjacente a essa mania nacional da boquinha. Ele é o segredinho sujo por trás da proliferação de "movimentos" de defesa de pretensas minorias - negros, indígenas, gays, travestis, mulheres, pois no horizonte dos indivíduos que participam desses movimentos está sempre a possibilidade de se apropriar de renda ou propriedade estatal.

O movimento pelos direitos civis liderado por Martin Luther King buscava o que já está explícito em seu nome: o fim da discriminação, direitos iguais para os negros norte-americanos. O que quer o "movimento negro" brasileiro (entre aspas porque isso não existe na vida real, fora da luta por verbas públicas)? Direitos iguais não pode ser: nossa legislação não só nunca discriminou (até agora...) ninguém pela cor da pele como, pelo contrário, pune severamente o crime de racismo.

O que se busca, na verdade, é simples: a apropriação privada de bens públicos. Assim, nosso movimento contra o "racismo" (onde? de quem contra quem?) quer vastas extensões de terra (distribuição de propriedades rurais e urbanas que teriam sido parte de quilombos imaginários), indenizações em dinheiro vivo e as famigeradas "cotas": carguinhos públicos (cotas cargos em comissão), empregos públicos (cotas em concursos públicos), vagas em universidades públicas (cotas raciais para o ensino superior estatal) e até cotas para a participação de "afrodescendentes" em comerciais de televisão (lembre-se de que a emissão televisiva é uma concessão pública).

Não é à toa que no "estatuto da igualdade racial" que tramita no Congresso (uma aberração que pisoteia a igualdade e institui o racismo no país) consta a obrigatoriedade da remuneração - com verba pública, é óbvio - das "lideranças" do movimento negro. Uma verdadeira pérola do patrimonialismo de corte racial misturado com doses generosas de clientelismo.

É por isso que sempre que passamos por uma data comemorada por algum desses movimentos de defesa de minorias oprimidas, eu me preparo para ler notícias sobre a aprovação de alguma lei absurda. O dia de Zumbi, ou da tal consciência negra de que fala logo abaixo o Fabiano - esse nunca me decepciona. Ontem, confirmando a tradição, a Câmara dos Deputados aprovou um festival de cotas "sociais" e raciais que praticamente expulsa o mérito acadêmico individual como critério de entrada na universidade estatal (não dá mais para chamar de pública uma universidade que discrimina oficialmente uma parcela da população).

Patrimonialismo e clientelismo (as benesses estatais sempre vêm pela mão de alguém, certo?) têm meio milênio de história no Brasil: eles chegaram ao país com as caravelas do Cabral. Sempre foram esportes nacionais muito populares. O que deprime é ver adicionado a essas mazelas uma nova, o racismo. Como quase ninguém tem coragem de se pronunciar publicamente contra essa "novidade" por medo de um possível massacre politicamente correto, o neopatrimonialismo racista avança sem obstáculos.

Que tristeza.

*

Com relação aos deputados que aprovaram essa lei racista e anti-republicana, dizer o quê? Os caras aprovam qualquer coisa, desde que o governo os pague por isso. De mais a mais, como aquele bando de boçais semi-alfabetizados pode dar valor à universidade? Para eles o ensino superior não passa de mais uma oportunidade para se fazer demagogia barata.

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