segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O brasileiro Obama

por Diogo Mainardi, revista Veja

Eu desconfio de qualquer americano que saiba localizar a Toscana no mapa. O melhor dos Estados Unidos é isso: o sincero descaso de seus habitantes pelo que acontece a mais de 1 milha de suas casas hipotecadas. Quem está do lado de fora, na Toscana ou no Tocantins, costuma interpretar esse descaso como uma forma de menosprezo. Mas é o contrário: é uma forma de modéstia. Os americanos apegam-se a um ou dois conceitos herdados de seus antepassados e, com humildade, simplesmente se recusam a discuti-los. Temo o dia em que eles decidam endurecer o molejo de seus Dodge Durango. Temo o dia em que um estudante secundarista de Dakota do Norte seja proibido de descarregar sua espingarda no pátio da escola. Temo o dia em que um imigrante ilegal, sem plano de saúde, seja prontamente atendido no hospital.

Barack Obama representa um americano mais cosmopolita, que come espaguete com bottarga, instala um bidê em seu banheiro e está disposto a tomar chá de menta com o terrorista palestino que dá aulas em Colúmbia. Com Barack Obama, a campanha eleitoral americana se internacionalizou. Pior do que isso: ela se abrasileirou. Alguns dias atrás, Barack Obama imitou nossa propaganda e fez um programa de TV de meia hora. Como um candidato à prefeitura de Fortaleza ou de Rio Branco, ele prometeu oferecer remédio grátis e construir umas creches na Zona Oeste, se é que entendi direito. O abrasileiramento da campanha de Barack Obama tem outros aspectos igualmente alarmantes, como o plano de redistribuir renda aumentando os impostos dos mais ricos, e doando dinheiro aos mais pobres. O futuro dos Estados Unidos é Patrus Ananias.

O ritmo de samba contaminou até mesmo a imprensa americana. Nas primeiras páginas dos jornais, Barack Obama recebeu 45% de cobertura positiva. John McCain, 6%. O New York Times comportou-se como o jornal de um senador maranhense, aderindo à campanha de seu candidato. Um jornal pode aderir à campanha do candidato que quiser. O que está errado é o empenho em abafar todos os fatos que possam criar-lhe algum tipo de constrangimento. Foi o que ocorreu neste ano nos Estados Unidos. Qualquer pergunta sobre Barack Obama foi caracterizada como uma forma de racismo, ou de asnice, ou de caipirice.

Se a campanha de Barack Obama contou com mais dinheiro, com a torcida do presidente iraniano e com a ajudinha marota da imprensa, a de John McCain respondeu à altura com Tito, o Construtor. Tito, o Construtor, é igual a Bob, o Construtor: tem o mesmo capacete de operário, o mesmo trator, a mesma betoneira. Só que, ao contrário de Bob, o Construtor, que é feito de plástico, Tito, o Construtor, é feito de tamales e de chicharrón. Ele é um imigrante colombiano. Na semana passada, subiu no palanque dos republicanos e, com seu sotaque de Speedy Gonzales, pediu mais liberdade e menos impostos, recusando as migalhas do governo e defendendo o trabalho duro. Se Barack Obama derrotar Tito, o Construtor, nunca mais ponho os pés na Toscana.

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