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“Biofuels might play an important role in addressing GHG emissions in the transport sector.”
(IPCC/ONU AR4/SPM – maio/2007)
(IPCC/ONU AR4/SPM – maio/2007)
“Producing biofuels today is a crime against humanity.”
(Jean Ziegler – FAO/ONU – abril/2008)
A recente escalada dos preços das commodities alimentícias – com o conseqüente alvoroço por ela desencadeado – torna esta uma excelente oportunidade para um debate mais profundo em torno de questões econômicas importantes, porém geralmente distorcidas pelo rolo compressor do discurso ambientalista e politicamente correto.
O primeiro ponto a destacar é a influência nefasta que a paranóia do aquecimento global já começa a produzir sobre os destinos da nossa civilização, conduzida pelas mãos sempre ávidas, mas nem sempre escrupulosas, do intervencionismo estatal. Gerada no ventre da quimera ambientalista, uma nova onda de planificação econômica se levanta, criando soluções mágicas e panacéias várias, sob o olhar tenso e ansioso da opinião pública.
O exemplo mais didático disso é o dos chamados biocombustíveis. Apoiados no forte apelo político da guerra contra as mudanças climáticas e, por extensão, contra o monstro dos combustíveis fósseis, políticos e burocratas, mundo afora, passaram a estimular – pela via dos subsídios e benefícios fiscais – a utilização em larga escala dos biocombustíveis, transformando-os na solução redentora para o problema da energia.
Em maio do ano passado, o famigerado quarto relatório do IPCC (leia-se ONU) trazia uma recomendação enfática para o uso, em larga escala, dessa panacéia. Em pouco tempo, e graças à disseminação de incentivos governamentais espúrios ao livre mecanismo de oferta e demanda no mercado, boa parte do agronegócio, espalhada pelos cinco continentes, deixou de lado a lavoura para fins alimentícios e voltou-se para a dita “agricultura energética”. Tudo isso justamente no momento em que a entrada da China no mercado global de commodities fazia prever um aumento significativo na demanda de alimentos para consumo humano.
Era fácil prever o que aconteceria. Até mesmo o provecto ditador cubano deu a receita para o desastre, assim que o presidente Bush resolveu estimular a produção de etanol de milho na maior economia (e maior celeiro) do planeta. Era evidente que a redução da oferta de milho (desviada para os biocombustíveis) e outros grãos (cuja área plantada foi substituída pelo plantio subsidiado do milho) faria o preço dessas commodities disparar e tornaria a vida dos mais pobres mais difícil. Mas políticos e burocratas são, por sua própria natureza, arrogantes, acham que têm a solução para quaisquer problemas, sejam eles econômicos ou sociais. Além disso, a visão de longo prazo nunca foi mesmo o forte dessa gente, cujo horizonte geralmente só vai até a próxima eleição.
Não surpreende, portanto, que, na última semana, menos de um ano após a divulgação do relatório do IPCC que recomendava o uso dos famigerados biocombustíveis, um alto comissário da ONU, Sr. Jean Ziegler, venha a público para desmentir a própria instituição onde trabalha, dizendo ao mundo que “a produção de biocombustíveis é um crime contra a humanidade”. Seria cômico, se não fosse trágico...
(Um parêntese importante: não por acaso, os “verdes” e assemelhados – mentores e comparsas do senhor Ziegler - que hoje falam em “crime contra a humanidade” são praticamente os mesmos que, além de outrora incentivarem o uso de combustíveis orgânicos, sempre se colocaram contra a mecanização do campo, o uso de fertilizantes e inseticidas químicos ou sementes geneticamente modificadas. São os mesmos que empunham as bandeiras do MST e vituperam contra o agronegócio no Brasil. Em resumo, são os mesmos cujas políticas retrógradas que defendem fazem com que a produtividade média da agricultura “orgânica” na África ou na América Central seja praticamente 1/10 da norte-americana.)
É o que dá deixar decisões que afetam milhões de pessoas nas mãos de meia dúzia de burocratas, principalmente quando sujeitos ao proselitismo ambientalista e ao lobby voraz de empresários. Um dia, eles “acham” que descobriram o Ovo de Colombo. Quando as conseqüências de suas desastradas decisões começam a aparecer, essa mesma descoberta já se transforma num “crime contra a humanidade”. Oportunistas e conhecedores da memória curta e da falta de informação da opinião pública, ainda aproveitam para pôr a culpa em quem? Nos especuladores e na ganância do mercado, é claro. É infalível a estratégia.
Malgrado o susto que isso possa causar num primeiro momento, entretanto, o aumento dos preços das commodities era uma reação absolutamente previsível por parte do mercado e, de todo modo, indispensável para que as coisas voltem, num futuro próximo, aos seus devidos lugares. Senão, vejamos.
A primeira lei da economia diz que recursos e fatores de produção são escassos. Dessa lei, deriva outra, que nos fala de um tal custo de oportunidade. Segundo esta última, a utilização de recursos numa determinada empreitada impede que eles sejam usados em qualquer outra. Assim, a terra, as sementes, as máquinas, o trabalho humano, os fertilizantes, o capital e tudo mais necessário para se produzir um determinado produto, não poderá ser utilizado na produção de qualquer outro. Logo, a escolha do agricultor pela produção de mamona, por exemplo, automaticamente exclui qualquer possibilidade de, utilizando os mesmos fatores, produzir alimentos para consumo humano ou animal.
É exatamente isso que tem acontecido com o milho, grão utilizado nos EUA para a produção de etanol e que vem ocupando cada vez mais lavouras, antes destinadas a outras culturas, como soja, trigo e algodão. De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, a demanda de milho para a produção de etanol foi de 40,7 milhões de toneladas na safra de 2005/06; 53,8 milhões em 2006/07; 81,3 milhões em 2007/08 e estima-se que atinja os 104 milhões na safra 2008/09. Não surpreende, portanto, que a área plantada de milho tenha crescido nada menos que 19%, só na safra 2007/08, segundo dados do Departamento de Agricultura (USDA) daquele país. Com o aumento da demanda interna, os americanos deixaram de exportar, no mínimo, 50 milhões de toneladas de milho, fazendo com que o preço do produto disparasse no mercado internacional.
Ora, enquanto os subsídios para a produção do etanol forem atrativos e a rentabilidade dos agricultores for maior ao vender seu produto para a fabricação do combustível do que para o consumo humano e animal, não haverá jeito. Quando, porém, os preços das commodities no mercado subir a tal ponto que torne menos rentável a produção de etanol do que de alimentos, não tenham dúvida de que a oferta voltará com força. Esse fato costuma acontecer no Brasil recorrentemente. Graças à política de preços mínimos para o álcool carburante, os produtores de cana-de-açúcar têm a garantia de uma rentabilidade mínima para a produção do combustível. Basta, entretanto, que os preços do açúcar subam no mercado internacional, para que comece a faltar álcool por aqui. É simples: o produtor vende para quem lhe paga melhor.
Mas a alta dos preços tem ainda uma outra virtude: provavelmente fará aumentar os investimentos na produção e comercialização de grãos para alimentação, o que ajudará, a médio prazo, a equilibrar os volumes de oferta e demanda. Qualquer investidor está atento aos sinais emitidos pelo mercado e sempre procurará antecipar-se a ele. Voltemos, por exemplo, ao caso do milho: desde que o presidente Bush anunciou os subsídios para a produção de etanol a partir deste grão, do qual os EUA são os maiores produtores, a área plantada do mesmo, no Brasil, já aumentou sensivelmente. Só na safra 2007-08, esse crescimento foi de 8%, segundo dados do Ministério da Agricultura.
Como se vê, quem melhor sabe o que produzir, como produzir, quanto produzir e como produzir – da forma mais eficiente – é o produtor, guiado pelo infalível mecanismo de preços livres do mercado, que por sua vez é comandado pelas demandas dos consumidores. Se os políticos e os burocratas deixassem a sua arrogância e "sapiência” de lado e entendessem isso, o mundo economizaria bilhões, jogados fora todo ano, graças às nefastas intervenções dos governos (aí incluída a maldita ONU) nesse processo.
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