sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Democratas, esses democratas

via Resistência

Recapitulemos: os republicanos são uns brutamontes, uns nazistas sem o bigodinho infame de Hitler, ao passo que os democratas representam a razão, a paz e a promessa da harmonia universal, certo? É o que se depreende da leitura dos nossos mais destacados e eruditos intelequituais. Vejamos alguns exemplos:

Segundo Arnaldo Jabor, que como comentarista político é mesmo um cineasta jenial, os democratas representam "a razão e a inteligência", em contraste com os republicanos, cujo universo mental seria feito de "preconceito, violência, burrice e [...] pulsão de morte". (Como vêem, a análise política de Jabor é cheia de sutilezas.) Se os democratas, em geral, representam a razão e a inteligência, Obama, em particular, encarna algo mais. Ele é "o jazz, a sexualidade livre, a liberdade da contra cultura". Em resumo, "Obama é mais que um candidato; ele é uma síntese de idéias, é a tomada do poder das conquistas cientificas, culturais e éticas da modernidade". Viram que eu não exagerava ao dizer que os comentaristas políticos andam escrevendo a respeito de Obama, em prosa, aquilo que B. Lopes escreveu, em verso, a respeito de Hermes da Fonseca? Mas continuemos.

Eis que desponta no horizonte a inteligência aguçada de Sergio Augusto, o Montaigne de Ipanema. Escrevendo sobre a convenção republicana, Augusto emitiu uma definição científica bagaray dos republicanos. Segundo o autor de Este mundo é um pandeiro, monumento imorredouro da filosofia política universal, os republicanos são, além de nazistas enrustidos (ou nem tanto), "caucasianos, caipiras, plutocratas, mal-amados, ressentidos, órfãos do macarthismo, peruas botocadas e lábios finos, vociferando ódio, zombarias, calúnias e slogans chauvinistas". Ah, bom.

Portanto, é isso. Se Jabor e Augusto, esses luminares da inteligência nacional, dizem que é assim, quem sou eu para dizer o contrário? Eppur si muove, conforme se pode ver na imagem abaixo:


Como vêem, eis um democrata que, para comemorar o Halloween, enforcou Sarah Palin em efígie, retratou John McCain emergindo do fogo do inferno e pendurou ambas as figuras na porta de casa. Mas, como sabe toda pessoa de bem, o monopólio da violência simbólica é dos republicanos, esses obscurantistas.

(Em tempo: se o contrário tivesse ocorrido, ou seja, se um republicano tivesse enforcado Obama em efígie e retratado um Joe Biden diabólico, o mundo inteiro lhe cairia na cabeça, e não sem razão. Como foi um democrata o autor dessa violência simbólica, a notícia ficou restrita a um despacho inconseqüente da Reuters.)

Nenhum comentário: