Rodrigo Constantino
“Quando você quer ajudar as pessoas, você diz a verdade a elas; quando você quer se ajudar, você diz a elas aquilo que elas querem escutar.” (Thomas Sowell)
Os impérios sempre sofreram ameaças vindas de fora, como os romanos tendo que enfrentar os hunos de Átila. Atualmente, a civilização Ocidental precisa lidar com os riscos do fanatismo islâmico, cujo ícone Bin Laden deixa evidente o desejo de destruir tudo aquilo que o Ocidente representa. Mas nem toda a ameaça vem de fora. Muitos ocidentais mesmo lutam para destruir os principais valores ocidentais. Com esses inimigos em mente, Thomas Sowell reuniu no livro Barbarians Inside the Gates vários artigos refutando inúmeras falácias repetidas com freqüência. Sua tese é que os grandes inimigos da civilização ocidental não estão fora dos portões, mas sim dentro, e possuem títulos acadêmicos, poderes judiciais, contam com verbas públicas e controlam o meio artístico e a mídia. Em resumo, são os criadores da agenda “politicamente correta” que busca sempre atacar os pilares da civilização moderna.
Sowell escolhe diversos alvos diferentes, separando os capítulos por temas como economia, política, educação e a questão racial. Seus artigos são sempre muito objetivos, e logo na introdução ele deixa claro que o livro é para aquelas pessoas comuns que entendem o que se quer dizer quando se afirma que o céu é azul. Herdeiros do “desconstrutivismo” de Jacques Derrida fazem parte justamente dos alvos de Sowell, intelectuais que têm bastante facilidade para manipular palavras, mas que ignoram o fato de que a realidade não é maleável como a linguagem. Sowell adota o caminho oposto: linguagem simples e direta, mas em sintonia com os fatos da realidade. Em outras palavras, Sowell apela ao bom-senso, contra as “grandes idéias” da intelligentsia, que costumam deixar rastros enormes de sangue no caminho.
Não podemos esquecer que os experimentos mais terríveis do século XX – o comunismo e o nazismo – foram criações de intelectuais, defendidas por muitos outros intelectuais. Tanto Pol-Pot como seus principais seguidores estudaram o marxismo em Paris, por exemplo, e o filósofo Sartre defendeu a “Revolução Cultural” de Mao Tse Tung, responsável por uma das maiores atrocidades já realizadas pelo homem. Vários intelectuais defendem o regime cubano até hoje. Muitos genocidas e ditadores receberam o apoio desses “pensadores”, e chegaram ao poder graças às suas idéias. Como resume o próprio Sowell, o “totalitarismo foi um fenômeno intelectual”. O socialismo, mesmo com seus gritantes fracassos em todos os lugares onde foi testado, continuou e continua encantando muitos intelectuais. Conforme Sowell coloca, o seu fracasso é tão evidente que apenas um intelectual poderia ignorar um fato desses.
Os inimigos internos da cultura ocidental utilizam várias táticas distintas para atingir o mesmo objetivo: detonar todos os principais pilares da civilização moderna. O multiculturalismo, por exemplo, é uma dessas táticas. Sowell aponta a hipocrisia do discurso em prol do relativismo cultural, lembrando que seus adeptos costumam ser aqueles que desfrutam dos benefícios que a tecnologia moderna oferece, enquanto desdenham dos processos que podem produzi-los. A palavra mágica é “diversidade”, que quando utilizada parece impedir o uso da razão, cedendo lugar às emoções. Há diversidade entre a social-democracia e o nazismo, mas nem por isso os relativistas parecem dispostos a defender o nazismo, apenas em nome da tal “diversidade”. Outra palavra adorada é “mudança”, mas como Sowell lembra, aqueles que falam incessantemente sobre mudança costumam ser bem dogmáticos, e querem apenas mudar os outros, na verdade. A questão que poucos param para perguntar é: mudar em qual direção? Afinal de contas, entrar em guerra é uma mudança, assim como sucumbir a uma ditadura.
A idolatria ao governo é um dos grandes sintomas desse câncer moderno. Sowell dedica vários artigos a este tema, derrubando o mito de que as soluções para os problemas existentes passam sempre por mais governo. Os intelectuais adoram falar em “direitos”, esquecendo que os bens e serviços em questão não caem do céu. “A única forma de alguém ter um direito a algo que deve ser produzido é forçar algum outro a produzir para ele”, afirma Sowell. Eis algo bastante evidente, mas curiosamente sempre ignorado por aqueles que adoram pregar o altruísmo com o esforço alheio. Poucas coisas são mais perigosas do que deixar algumas pessoas decidirem por aquilo que outros terão que arcar com os custos. No entanto, esses “bárbaros” não querem saber de custos, mas sim de posar de nobres altruístas e chegar ao poder. Eles tratam palavras como “compaixão” como se fossem monopólio deles, tentando inviabilizar qualquer debate sobre os meios.
Se alguém é contra o uso da força através do governo para alguma meta, então é assumido automaticamente que ele é contra a meta em si. Apenas esses intelectuais são “pacifistas”, “altruístas” ou “sensíveis”, ainda que os meios por eles pregados sempre levem a resultados opostos a tais fins. Mas quem liga para os resultados? O objetivo é apenas conquistar o poder ou se sentir bem por mergulhar numa “cruzada moral”, enquanto os outros são vistos como seres inferiores, egoístas gananciosos que não possuem uma alma tão pura como eles. Como Sowell afirma, é complicado entender porque seria ganância desejar manter o próprio dinheiro ganho, mas não seria ganância querer tomar o dinheiro dos outros. Enquanto esses intelectuais prometem salvar a humanidade, o governo vai exigindo mais e mais recursos, criando novos problemas para demandar mais impostos e poder. O paternalismo serve como uma camuflagem para a busca do poder ou uma “ego trip” para seus defensores. Os indivíduos são sempre tratados como mentecaptos indefesos, que necessitam do governo e desses intelectuais para lhes dizer como viver. A esquerda jamais compreendeu que, ao darmos poder suficiente para o governo criar a tal “justiça social”, então damos também poder suficiente para ele criar um despotismo. Ou talvez tenha entendido e defenda mesmo assim...
O livro segue com excelentes artigos sobre educação, violência e racismo, sempre combatendo a visão “politicamente correta” que impede qualquer debate honesto sobre temas delicados. Sowell rebate a idolatria à mediocridade, por exemplo, daqueles que falam em “igualdade” na educação, querendo dizer igualdade de resultados, e não melhores oportunidades para todos. Ele lembra que só é possível ensinar todos no mesmo ritmo se o ritmo cair para aquele do menor denominador comum. Seria a morte da meritocracia, um dos objetivos desses intelectuais. A responsabilidade individual é também defendida por Sowell, já que é um dos alvos prediletos dos “bárbaros”, sempre ávidos por culpar a “sociedade” por todos os atos irresponsáveis dos indivíduos. Os crimes, por exemplo, são vistos como culpa do “sistema”, e nunca dos criminosos. Os intelectuais pregam o desarmamento de civis como solução, ignorando que o crime já foi banido, mas nem por isso os criminosos seguem a regra.
A ação afirmativa é outra bandeira adorada pelos intelectuais, e totalmente condenada por Sowell, que afirma não conhecer um único argumento convincente para as cotas. Sua defesa costuma ser apenas através de retórica emocional, sem conteúdo concreto. Sowell conclui que os negros viraram “mascotes” para a elite branca de intelectuais, que consegue verbas e poder, além da sensação de superioridade moral, através da defesa de algo claramente racista. A inveja ao sucesso alheio também é um dos motivadores que Sowell cita para a defesa de programas como as cotas. Novamente, não é com o resultado de suas idéias que esses intelectuais estão preocupados. Adotando uma visão coletivista, eles criam mais ressentimento entre indivíduos, segregando a sociedade e estimulando o racismo que alegam combater.
Em suma, a civilização ocidental e todo o progresso que ela possibilitou estão sob ataque, e boa parte das munições vem do “fogo amigo”, ou seja, de dentro do próprio Ocidente. São pessoas que usufruem das vantagens desses avanços, enquanto cospem em cada fator que permite sua continuação ou mesmo sobrevivência. São manipuladores de palavras e conceitos que ignoram os resultados concretos de suas idéias. São intelectuais com uma agenda “politicamente correta”, que dizem pregar a “pluralidade de idéias” enquanto condenam com agressividade qualquer opinião que não esteja de acordo com a ditadura do “consenso”. No fundo, a “tolerância” defendida com veemência é apenas a tolerância com os intolerantes. A defesa de valores mais tradicionais e de conceitos “antiquados” como honestidade, integridade e objetividade são duramente atacados pelos “tolerantes”. É proibido julgar as atitudes dos outros indivíduos, somente se forem atitudes irresponsáveis e inadequadas. Esses intelectuais são os primeiros a julgar e condenar aqueles que discordam de suas idéias. Tudo aquilo que vai contra os principais valores ocidentais é “apenas uma opinião diferente”, mas os valores ocidentais podem ser condenados objetivamente.
A degradação moral patrocinada por esses intelectuais é apenas um estilo de vida alternativo. Ações de vândalos e baderneiros viram apenas atos de “protesto”, enquanto a reação da polícia é uma agressão. A corrupção na política é apenas algo inerente e natural ao processo decisório. Assaltantes são vítimas da sociedade. Reagir à violência com violência é um absurdo, pois eles encaram a equivalência física como uma equivalência moral. Doutrinar crianças ideologicamente nas escolas é educação, mas reclamar disso é censura. Quem sabe o que é certo ou errado, afinal? Ninguém sabe! À exceção, claro, desses intelectuais, os “bárbaros ocidentais” que querem implodir a civilização ocidental de dentro dos seus portões. Com amigos assim, ninguém precisa de inimigos...
Controle de nada…
Há um dia
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