quinta-feira, 19 de junho de 2008

Inventaram a civilização dos Nhambiquaras de AR-15 na mão

por Reinaldo Azevedo

Só uma questão: a Constituição também prevê que as Forças Armadas atuem em defesa da lei e da ordem. Falta regulamentar o dispositivo, o que cabe aos políticos. Adiante: a juíza concedeu umA liminar. A tendência é que o governo atribua a decisão de retirar os soldados do morro à Justiça e saia de fininho, sem recorrer.

Sabem o que vai acontecer? Retomaremos a modorrenta rotina das mortes “lá entre eles”. O morro volta ao domínio do Comando Vermelho, que, talvez, decida retaliar a turma dos Amigos dos Amigos — se é que esta história não está torta, já que o CV era o principal interessado na saída do Exército...

Daqui a pouco, os nossos soldados voltam à paz dos quartéis, ali, esperando uma guerra, feito Giovanni Drogo à espera dos invasores, no excelente O Deserto dos Tártaros, romance de Dino Buzzati, que lhes recomendo vivamente — há um filme, com Giuliano Gemma no papel de Giovanni; até que é bem-feito, mas é preciso eliminar da memória o ator de western-espaguete... Leiam o livro. Coisa de umas três ou quatro horas. E um ganho imenso.

Sim, queridos. Logo, logo, tudo se acalma. Aí os traficantes do CV brigam com os do ADA; ou esses dois grupos com os do TC (Terceiro Comando) etc e tal. Volta e meia, a polícia fará uma incursão, matará uns “10 pretos de tão pobres ou 10 pobres de tão pretos”, e descerá em seguida. Os chefes do narcotráfico reporão os soldados que tombaram — já que a fila é imensa, e a “carne preta é a mais barata do mercado”. Depois de algum tempo, nova incursão, mais alguns presuntos, e tudo estará na mais absoluta normalidade. Alguns bacanas do asfalto continuarão a fumar a sua maconha, a cheirar o seu pó e a reclamar do estado autoritário... De vez em quando, policiais serão assassinados e buscarão se vingar.

E os Drogos continuarão no quartéis, esperando a aposentadoria chegar.

Não se verá mais ministro subindo o morro. Não se verá mais deputado em favela. Não se verá mais Defensoria Pública atuando, como fez, exigindo a saída do Exército. Policiais pretos matarão bandidos pretos, e bandidos pretos matarão policiais pretos, todos muito pobres. Crianças pretas serão vapor barato do tráfico, amparadas, em seu “direito de ter uma cultura própria”, por ONGs pacifistas de brancos, que não querem polícia no morro, não; que não querem Exército no morro, não.

Nós fundamos a cultura da morte!
Nós fundamos a civilização do tráfico!
Nós fundamos os “novos índios” de AR-15 na mão!
Nós fundamos a civilização dos nhambiquaras do pó!
Nós fundamos a civilização dos caiapós do cânhamo!

Daqui a pouco, ninguém mais fala deles. Ficarão lá, submetidos aos chefes do estado paralelo, que exercerão seu domínio com ainda mais condições, já que Lula, o Grande Babaolirixá, lhes deu algumas obras do PAC. Aí, então, os chefes do CV, do ADA, do TC poderão impor o terror, mas com luz elétrica e água encanada. Porque também no inferno pode evoluitr.

País vergonhoso!
País de uma elite governante miserável nos Três Poderes!
País de faroleiros que sufocam e matam o povo com seu amor vagabundo!

Sim, voltaremos à paz dos cemitérios clandestinos e dos mortos sem sepultura.

Mas sem o Exército.
A defensoria vai respirar aliviada.
A justiça vai respirar aliviada.
As Forças Armadas vão respirar aliviadas.

E os Companheiros dos Companheiros, a mais perigosa das organizações criminosas do país, vão respirar aliviados.

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